15- País das Maravilhas

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O clima entre nós parecia ser o mesmo, embora não fosse assim pra mim, mas Camila mantinha seu ar leve e sorridente durante todo o tempo que ainda estávamos no apartamento, enquanto eu ainda sentia seus lábios juntos aos meus.

Na saída de casa, pedimos um Uber e fomos pra um lugar lindo, chamado Lagoa Rodrigo de Freitas. O dia era de sol, estava bem quente, mas ao mesmo tempo era realmente prazeroso estar em um ambiente que fica ainda mais bonito em dias ensolarados.

Começamos a caminhar, como muitos faziam, ao redor da Lagoa enquanto me sentia tomada pela beleza que invadia meus olhos. Eu não reparei de imediato, mas Camila me olhava com um sutil sorriso nos lábios.

– Aqui é bem bonito, não acha, paulista? – Me perguntou ela.

Eu a olhei com susto, pois sua voz me trouxe de volta do transe em que me encontrava. Sorri, respirei fundo e disse:

– A paisagem parece fazer uma lavagem cerebral na gente.

– Sim. – Sorriu. – O Rio é muito bonito, independente de seus defeitos.

– Defeitos e qualidades todos os lugares tem.

– Verdade.

Após breve silêncio enquanto caminhávamos, perguntei:

– Você vem muito aqui?

– Não muito, mas de vez em quando sim. Acho que venho mais quando preciso sumir um pouco do mundo real. – Sorriu com um pouco de pesar.

– E o que você costuma fazer quando vem aqui?

– Eu alugo uma bicicleta e pedalo um pouco.

– Tem anos que não ando de bicicleta.

Caminha abriu um sorriso largo e, enquanto me puxava por uma das mãos, disse:

– Vamos fazer isso então.

Alugamos duas bicicletas e começamos a pedalar. No começo me senti insegura justamente por fazer muito tempo que não fazia aquilo, mas a sensação era algo fantástico. O lindo dia, um lugar maravilhoso, uma companhia perfeita e uma sensação de leveza e liberdade que há muito não sentia... eu estava feliz.

Enquanto pedalávamos, senti meu celular vibrar dentro do bolso do meu short. Em um momento determinado, eu o peguei pra saber o que era, afinal, aquele era um novo aparelho, mas, pra minha surpresa, havia uma mensagem em minha rede social que dizia: Sinto sua falta.

Me desequilibrei e quase caí, meu coração parecia que ia saltar pela boca, tudo causado por aquele gatilho e ansiedade... aquela mensagem era da minha ex. Novamente ela tentava entrar em contato comigo, depois de meses e depois de tudo que havia acontecido entre nós.

– Ei? Você tá bem? – Me perguntou Camila parando ao meu lado e descendo de sua bicicleta.

Eu estava parada e respirava de forma ofegante, tudo por causa daquela simples mensagem. Os olhos de Camila expressavam sua preocupação e confusão, mas como lhe dizer o real motivo do meu desequilíbrio?

– To bem... – Respondi tensa. – vou ficar.

– O que houve?

Por um breve segundo eu a olhei em silencio, como se estivesse em transe, mas logo em seguida respondi:

– O mundo real, foi o que houve.

Abaixei minha cabeça, pois não queria mesmo estragar um momento tão agradável falando justamente de alguém que havia me feito sofrer. Nem eu e nem Camila merecíamos isso.

Guardei novamente o celular enquanto percebia, em silêncio, seus olhos acompanharem cada um dos meus movimentos. Respirei fundo, tentei resgatar um sorriso, embora não creia ter conseguido da maneira que gostaria, e disse:

– Vamos continuar?

Camila se aproximou, beijou meu rosto e, ainda bem próxima, sorrindo com carinho e olhando em meus olhos, disse:

– Seja lá o que for, eu to aqui com você.

Senti meu peito arder enquanto olhava-a e ouvia aquela simples frase. Era incrível o que acontecia aqui dentro com gestos tão simples e ela nem fazia ideia disso. Enfim. Consegui sorrir com um pouco mais de sinceridade e já me sentindo menos angustiada, e perguntei:

– Não vamos deixar o mundo real estragar esse passeio, vamos?

– De maneira nenhuma. – Sorriu. – Tá melhor?

– To sim. – Respondi.

– Então vamos voltar pro País das Fantasias, me segue. – Brincou.

Ela voltou para sua bicicleta e voltamos a pedalar, mas era difícil voltar a leveza que estava sentindo antes daquela mensagem. É difícil também pensar a respeito, mas aquela havia sido uma relação que não me fez bem por vários motivos, mas não que eu seja uma santa, pelo contrário, a questão é que posso falar apenas a respeito do que tudo me causou, de como fiquei por causa de tudo e isso... bem... isso só eu realmente sei.

Nós então pedalamos, depois nos sentamos na grama e conversamos sobre coisas variadas, mas nada intimo, ou pessoal, acredito que ambas estávamos precisando nos manter no "País das Maravilhas", mesmo que cada uma a sua maneira, e assim fizemos, tanto que nem pensamos em almoçar, comemos algumas bobagens que se vendiam por ali e por lá ficamos... mesmo que com nossas sombras.

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