01- Eu Tinha que Ir

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O Rio de Janeiro pode ter os seus problemas, mas é inegável de que é uma Cidade extremamente linda, cheia de cores e vida, com sua Cultura fervendo pelas ruas, seja em bares, praças ou boates... seja onde for, lá existe vida... lá você consegue se sentir mais viva, e acho que era um pouco disso que eu realmente estava precisando.

Não me lembro da última vez em que tirei férias e fazê-lo era algo tão estranho pra mim, pois parecia que estava sendo negligente ou ingrata, mas decidi que desta vez minha empresa poderia sobreviver sem mim, afinal, com pouco mais de dez anos de mercado, não seria por causa de 30 dias que tudo iria por água abaixo... embora parecesse ir.

Sempre tive a impressão de que pro meu "boi engordar", eu precisava estar 24 horas de olhos nele e, caso não o fizesse, alguma coisa iria acontecer e tudo que construí com tanto sacrifício se perderia com extrema facilidade, pois ninguém se importa mais com uma empresa do que o próprio dono... já vivi tanta coisa.

Enfim, me chamo Letícia, tenho 38 anos, moro em meu próprio apartamento, comprado com o suor do meu rosto, em São Paulo. Minha pretensão inicial era ficar em minha Cidade, isolada em casa, lendo os meus livros e tentando recarregar minhas energias em meio a famosa selva de pedras, mas minha melhor amiga, Lúcia, não me permitiu ao dizer as seguintes palavras, com seu jeito carinhoso, por uma chamada de vídeo:

- Se você se enfurnar nesse apartamento eu juro que vou aí e te arranco de casa arrastada pelos cabelos!

- Ai Lu, me deixa, já aceitei tirar as férias, agora será que eu posso pelo menos decidir o que farei desse meu tempo ocioso?

- Não pode, não! Se eu deixar, já to até vendo, os 30 dias vão passar e você só vai ter feito duas coisas.

- O quê?

- Sexo e álcool. - Respondeu ela.

- E tem jeito melhor de passar o tempo? - Perguntei aos risos de sarcasmo.

- Mulher! Vai viver! Vai gastar esse dinheiro que você guarda no colchão! - Riu.

- Eu queria que você estivesse de férias JUNTO COMIGO! - Reclamei, puta. - Ficou me infernizando, mas no final me deu o bolo.

- Paciência, né, como eu ia adivinhar que minha mãe ia arrumar a ideia de se machucar nessa altura do campeonato? Graças a Deus ela ta bem, mas agora vou ter que ir lá em Porto Alegre, né. Toda a família vai... o que não me alegra, você sabe.

- Sei sim... povo chato. - Respondi revirando os olhos.

- Então aceite logo a minha proposta e vá ser feliz.

- Rio de Janeiro? Sério? - Perguntei desmotivada.

- Você já foi lá? Fica aí nessa neurose e preconceito enquanto tem um monte de gente indo e vivendo no seu lugar. Para de bobeira, garota! Pega o avião e vai. É perfeito. Aceita logo.

- Onde fica mesmo a sua casa?

- Primeiro que é um apartamento e fica em Ipanema, próximo à Copacabana. Tem de tudo ali, tem praia, barzinhos, boates, tudo! E dali você também pode ir pra vários lugares... só toma cuidado, mas pode.

- Sim, mas vou estar sozinha, né. - Reclamei.

- Ah! Do jeito que você é, duvido que fique muito tempo "sozinha", - Riu. - principalmente ali na Zona Sul.

- Cruzes, do jeito que você fala parece que eu sou uma viciada em putaria.

- Você quer realmente que eu comente? - Me disse com deboche.

Fiquei em silencio enquanto refletia mais uma vez a respeito daquela intimação disfarçada de proposta. Era difícil sair da zona de conforto e, na verdade, nunca fui muito boa com isso, até chego a ser bem chata com minhas programações, pois não gosto de imprevistos, não gosto de surpresas... o que dizer? Quem não gosta da sensação de ter o controle das coisas, não é?

- Você não pode ter o controle de tudo, já te disse isso. - Me falou ela enquanto me sentia absorvida por minha indecisão.

- Ok, eu vou.

- Maravilha! Espero que não se incomode com o tamanho do apartamento, já que ele é pelo menos metade do seu.

- Não me incomodo não, acho que vai até ser mais aconchegante.

- Você vai adorar! Não esquece de me contar tudo e de me matar de inveja!

- Com certeza farei isso! - Respondi, puta. - Era pra você estar indo viajar comigo, sua puta.

- Também te amo, amiga. Não esquece também de passar aqui em casa amanhã pra pegar a chave, agora me deixa correr aqui porque ainda tenho que ir à academia hoje! Beijo!

- Beijo.

Desliguei o telefone, andei lentamente pelo meu apartamento silencioso e solitário enquanto me perguntava se aquela era realmente a melhor decisão, mas, ao mesmo tempo, também fiquei me perguntando qual seria o motivo que eu teria pra ficar ali, sozinha, em casa... mesmo que não ficasse de fato "sozinha" com freqüência.

Sabe quando você tem um sentimento de que alguma coisa está pra acontecer, mas parece apenas uma maluquice da sua cabeça? É como se fosse uma premonição, um pressentimento, ou qualquer coisa semelhante a isso e que lateja dentro do seu peito, te deixando com uma certa ansiedade inexplicável. Por um lado eu não queria ir, mas por outro parecia que uma força me puxava naquela direção... eu tinha que ir.

Independente de misticismo, no fundo sabia que estava precisando de novos ares e que esta viagem seria perfeita pra tentar aliviar metade do peso que carregava nas costas... ok, metade talvez seja uma afirmação muito forte, mas enfim, eu ia pro Rio de Janeiro e iria curtir as minhas férias livre, leve e solta na tão famosa "Cidade Maravilhosa", eu só não sabia o que o destino tinha reservado pro meu coração.


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LGBT - Quando AconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora