24- Paz

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Acordei pouco tempo depois, ainda na mesma posição sobre o sofá, mas embora Camila não estivesse ao meu lado, eu a ouvia ao telefone em algum outro cômodo do apartamento. Fiquei curiosa, pois era a primeira vez que a via falar com outra pessoa, o que é algo extremamente natural.

Me espreguicei, me levantei sem pressa e, evitando alarde, caminhei seguindo o som de sua voz, encontrando-a então na área de serviço, que ficava do outro lado da cozinha. Parei no portal e fiquei olhando-a. Camila estava apoiada na janela que lá havia e estava virada de costas pra mim. Ela ria e dizia:

– Vocês são muito desesperados, eu disse que não precisava disso tudo. – Silêncio de quem ouve. – Claro, ué, eu mandei mensagem pra vocês. – Silêncio. – Em breve, acho que amanhã, não sei, não to pensando muito nisso. – Silêncio. – Eu sei que eu tenho faculdade, mas ela não vai deixar de existir se eu der uma respirada. – Silêncio. – Gente, calma. – Ela riu. – Também amo vocês, mas calma, vocês mesmo me disseram pra fazer isso, eu hein, povo doido. – Riu.

Tossi, nada alto, era só pra me fazer presente no recinto. Camila olhou pra trás, sorriu pra mim e, enquanto dizia que ia desligar, veio em minha direção, me beijou com carinho, se despediu da pessoa ao telefone, desligou, envolveu meu pescoço em seus braços e, sorrindo, me beijou novamente.

– Te atrapalhei? – Perguntei.

Eu queria maiores detalhes sobre aquela ligação, mas não sabia como perguntar sem parecer uma doida possessiva e controladora, até porque o que estava sentindo era mais curiosidade, do que qualquer outra coisa e, na vida, já fui muito mal interpretada por causa de coisas assim... sou séria, mas sou fofoqueira, eu hein.

– Não, não, eu tava falando com uma amiga minha, ela tava preocupada dizendo que não dou notícias há muito tempo, sendo que mandei mensagem hoje quando acordamos avisando que tava tudo bem.

– Ela sabe de mim?

– Sabe sim, eu moro com ela e o namorado, longa história, um dia, quem sabe, eu não te conto sobre isso.

– E por que não conta agora. – Perguntei enquanto envolvia sua cintura em meu abraço e sorria.

– Ah. É que envolve umas coisas ruins que aconteceram há pouco tempo e, enfim, eu ainda não consigo falar sobre isso, eles até dizem que preciso mudar isso, porque parece que estou fugindo do "problema", e talvez até tenham razão, mas é que ainda é muito difícil pra mim.

– Não julgo, eu também tenho coisas difíceis no meu passado. – Como a minha ex que resolveu ressurgir vindo atrás de mim no Rio de Janeiro... nada demais.

– Pois é e também respeito isso. Agradeço, inclusive, por você entender isso, porque não é que eu esteja te escondendo alguma coisa, é que é algo que eu realmente não consigo falar a respeito, pelo menos ainda.

– Não se preocupe, você não tem nenhuma obrigação de me passar um relatório completo sobre todos os acontecimentos da sua vida. – Brinquei. – Vou gostar de saber? Vou. Talvez algumas coisas sejam importantes de se saber? Sim, mas o que mais faço na minha vida é controlar, e controlar e controlar... eu só quero paz nesses dias.

– É isso, é sobre isso, eu já vivo a realidade da vida todos os dias e também tenho esse sentimento de apenas querer um pouco de paz. Quando estou com você, é como se estivesse fora da realidade, é como se eu saísse um pouco disso e encontrasse esse momento de paz. – Seus olhos marejaram enquanto falava e eu compartilhava totalmente daquele sentimento.

Com carinho, a puxei pra um abraço e assim o fizemos, nos abraçamos, em silêncio e aquilo foi tão acolhedor, tão confortável e tão sem pretensões que foge completamente da pessoa que eu estava sendo nos últimos meses, mas era exatamente o que precisava, sem saber que precisava.

Às vezes a vida é tão corrida, ou nós nos esforçamos tanto pra parecermos bem, que não nos damos conta do que necessitamos. Um abraço, um carinho, um acolhimento. Existem momentos, talvez até a maioria deles, onde o que realmente precisamos não é de bebida, ou de sexo, ou até mesmo de palavras... as vezes a gente só precisa de um abraço.

Sem maldade, beijei seu pescoço, depois seu rosto em vários pontos deles. Olhei-a sorrindo e brinquei:

– Acho que agora consigo assistir alguma coisa sem dormir.

– Será mesmo, paulista? – Brincou. – Acho que te dei uma canseira, hein. – Riu.

– Não vou me fingir de fodona não... você acabou comigo. – Sorri vencida pela realidade.

– Ahhhh!!! – Riu ela parecendo alegre. – Que gostoso te ver assim com suas grandes defesas arriadas.

– Vamos mudar de assunto. – Falei sorrindo de constrangimento.

– Ta bom, não vou insistir, mas você fica linda assim, envergonhada.

Seus olhos brilhavam, pareciam sorrir tanto quanto seus lábios já o faziam e aquela imagem enchia meu peito de uma sensação tão gostosa que nem sei explicar, só sei que, como já disse e repeti, eu não tinha mais forças pra tentar resistir, ou tentar fingir... estava rendida, estava assustadoramente em suas mãos, essa era a verdade.

Respirei fundo tentando administrar aquele sentimento incômodo enquanto sorria e, tentando realmente mudar de assunto, perguntei:

– O que acha de pedirmos uma pizza e assistirmos alguma coisa?

Camila me beijou, enquanto ainda sorria por causa do meu estado, então me olhou nos olhos com um olhar meigo e, enquanto me soltava abruptamente e me puxava por uma das mãos, disse:

– Eu escolho a pizzaria, mas vou deixar você opinar nos sabores, pode ficar tranquila. Agora vamos logo, porque eu to morrendo de fome.

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LGBT - Quando AconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora