04- Precisava Mesmo?

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Sempre gostei de aviões, mesmo antes de ter dinheiro suficiente pra poder utilizá-los com a freqüência que hoje posso, mas viajar para o Rio de Janeiro era algo que realmente nunca entrava nos meus planos. Já fui pra Europa, já fui nos Estados Unidos e até para outros lugares do Brasil, e o fiz mais de uma vez, mas aquele destino era a primeira vez que o fazia, ao menos a passeio e principalmente sozinha.

Vôo rápido, graças a Deus, e tudo estava correndo bem, por sorte. Cheguei no aeroporto carioca já olhando ao redor com outros olhos, pois ali mesmo parecia que a energia do lugar já era outra. Como explicar? Não sei, talvez fosse apenas impressão minha, até porque comecei a sentir isso antes mesmo de sair do ambiente fechado.

Como haviam algumas bagagens, preferi pegar um daqueles taxis que já ficam à espera mesmo sabendo a facada financeira que isso seria, mas que não seria um problema pra mim, além do sentimento de acharem que estão sendo espertos às minhas custas quando, na verdade, era a minha preguiça quem estava falando mais alto.

O caminho por onde passamos era realmente digno de um cartão postal de tão bonito que era e isso encheu meu coração de esperança. Será que minha férias seriam realmente tudo aquilo que eu estava precisando? Não sabia, só sabia que meu pressentimento continuava latente dentro do peito e meu único desejo era: Socorro Deus.

– Dona Letícia?

Me perguntou o porteiro, um senhor aparentemente simpático, que vinha até o portão enquanto, ainda do lado de fora, o motorista retirava minha bagagem de dentro da mala de seu carro. O prédio era uma gracinha, daqueles um tanto quanto antigos, mas com uma recepção que certamente já havia sido restaurada e modernizada, de certa forma.

– Sou eu. – Respondi me virando para ele.

– Meu nome é Luís, sou o porteiro do dia. Dona Lúcia ligou hoje cedo pra portaria pra avisar da sua chegada, até me mandou uma foto sua pelo telefone.

Fiquei um pouco sem graça, mas era algo típico da Lúcia fazer isso e, bem, foi bem útil também, pois não precisei me identificar e explicar, dali mesmo o Sr. Luís já me ajudou a carregar minhas malas até a porta do elevador. Estava calor naquele dia, o céu estava azul e muito bonito, mas havia passado de um ar condicionado para outro, ainda não havia realmente sentido a temperatura ambiente.

– Obrigada pela ajuda Sr. Luís. – Agradeci enquanto ele colocava minhas malas dentro do elevador.

– Por nada, Dona Letícia. Só não subo com a senhora pra não deixar a portaria vaiza, mas qualquer coisa é só me chamar, ta bom?

– Sabe me dizer sobre a faxina do apartamento? Esqueci de pergunta pra Lúcia sobre isso.

– Toda quarta-feira a menina vem aqui limpar, só não sei se ela vem nessa quarta agora porque ontem ela tava aí, trouxe até umas compras de mercado, provavelmente pela chegada da senhora.

– Ah sim, ta bom então, Sr. Luís. Obrigada pela ajuda. – Sorri tentando ser simpática.

– Por nada, Dona Letícia. Bom descanso. Qualquer coisa já sabe que é só chamar.

– Pode deixar.

O apartamento, que ficava no sétimo andar, era uma gracinha e tinha janelas enormes bem na sala, o que fazia a vista ser a coisa mais linda. O tamanho não era tão pequeno quanto a Lúcia havia feito parecer, mas do jeito que ela e como já sei que é exagerada, não me surpreende que o tenha feito justamente para que eu tivesse essa impressão quando já estivesse aqui.

Havia uns 3 bons quartos, sendo 1 com suíte, que era, obviamente, onde eu iria me instalar. A cozinha era espaçosa, assim como a área também. Havia uma sala de jantar e todos os cômodos estavam bem mobilhados. Os lustres eram as coisas mais lindas. Enfim, o que dizer? Aquele apartamento era realmente um pouco menor do que o meu, mas ele era extremamente aconchegante e tinha um cheiro suave de limpeza misturado com aquele cheirinho de quando uma casa fica fechada por muito tempo. Eu gosto.

Aquele dia, por ser o primeiro e por ser justamente numa segunda-feira, preferi reservá-lo a minha organização e instalação. Arrumei minhas coisas no armário do quarto onde iria ficar, depois tomei um delicioso banho na banheira maravilhosa que havia dentro do banheiro da suíte e decidi que ao invés de cozinhar algo, iria pedir pelo Delivery para que eu pudesse apenas descansar enquanto me ambientava.

– Você não vai passar 30 dias presa dentro deste apartamento, já te falei isso! – Me disse Lúcia em uma chamada de vídeo enquanto estava indo para o aeroporto.

– Você é chata, sabia? – Respondi brincando.

Ela soltou uma risada alta e disse:

– Amiga, nem vou entrar nessa disputa com você! Já está avisada, vai sair desse apartamento e aproveitar o que a vida no Rio de Janeiro tem de melhor.

– Eu nem conheço ninguém nesse lugar, você quer que eu faça o quê?

– Que você faça exatamente isso, que você saia e vá conhecer pessoas novas ao invés de ficar sempre as voltas com as mesmas pessoas e vê se você se permite CONHECER as pessoas, porque você tem um problema bem sério com isso. Já te mandei fazer terapia, mas você teimosa igual uma mula.

– Suas ligações são sempre muito inspiradoras, já te disse isso?

– É pra isso que eu estou aqui, não sei o porquê do espanto. Na vida passada eu devo ter feito alguma merda e agora tenho que corrigir te ajudando. Vai saber.

– Também te amo. – Respondi rindo.

– Agora vou desligar, queria só saber se chegou bem. To indo pras minhas mil horas de avião. Vê se não começa com premonições.

– Não vou falar nada não. – Eu ri.

– Beijo. – Antes que eu pudesse responder, Lúcia logo desligou.

Caminhei pelo apartamento até as enormes janelas da sala e fiquei por alguns bons minutos olhando aquela vista maravilhosa e pensando no que minha amiga havia acabado de me dizer sobre me permitir CONHECER as pessoas. Respirei fundo enquanto tomava uma taça de vinho e, comigo mesma, disse:

– Eu preciso mesmo conhecer as pessoas? – Revirei os olhos, suspirei e completei. – Preguiça.


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LGBT - Quando AconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora