Minhas pernas estavam tremulas e não era só pelo álcool, mas sim pelo que estava fazendo. Por mais que eu não fosse uma pessoa inexperiência, até porque minha vida sexual era bem ativa, mas havia algo a respeito daquela mulher que estava mexendo comigo e nem eu entendia isso com clareza.
Abri a porta do carro para que ela entrasse e minha motivação era como uma "cortesia", ou reverência, não sei, apenas sei que o fiz e Camila sorriu mediante o meu gesto. Sentei na janela atrás do banco carona e ela se sentou no meio. O trajeto era curto, mas o fiz tendo-a recostada sobre o meu ombro... culpei o álcool.
Na portaria precisei me identificar enquanto Camila aguardava ao lado, pois o porteiro era alguém que ainda não havia me visto, mas foi bem tranquilo, pois o Sr. Luís havia mandado mensagem a meu respeito e isso facilitou imensamente a minha entrada. Eu nem havia pensado nessa possibilidade de ser barrada, mas ainda bem que aconteceu, isso apenas me confirmou que o prédio era seguro.
Enquanto eu fechava a porta via Camila admirada com o apartamento, mas não de um jeito feliz, pelo contrário, pois havia uma apreensão em seu olhar. Caminhei até o sofá e fiquei olhando-a junto a enorme janela da sala. Aquela mesma janela que me havia impressionado.
– Quer uma cerveja? – Perguntei tentando quebrar aquele silêncio constrangedor.
Camila se virou parecendo assustada e chegou a titubear antes de me responder, dizendo:
– Talvez não tenha sido uma boa ideia eu ter vindo pra cá com você.
– Mas fui eu que te convidei.
– Sim, mas é que eu ainda não tinha me atentado pra algumas coisas. – Falou parecendo bem preocupada.
– Que coisas? – Perguntei.
Camila se aproximou enquanto eu me sentava no braço do sofá e, com um olhar apreensivo, disse:
– Não quero que pense que estou aqui... você sabe, por interesse.
Por instinto, segurei ambas de suas mãos enquanto as olhava, o que a fez se aproximar um pouco mais. Havia um silêncio calmo entre nós, mas também ao nosso redor devido ao horário. Sentia uma paz que a muito tempo não sentia, por mais que me preocupasse com o que estava acontecendo. O que estava acontecendo?
Erguendo minha cabeça, eu a olhei séria e calma, e disse:
– Não estou pensando em nada, só sei que está sendo muito bom te conhecer.
Camila se aproximou um pouco mais, soltou suas mãos da minha e tocou meu rosto enquanto ainda nos olhávamos, e disse:
– Pra mim também.
Coloquei minhas mãos em sua cintura, segurei-a firme, mas com gentileza. Não havia pressa em nenhum movimento, pelo contrário, havia uma naturalidade e uma tranqüilidade, que nem sei explicar, mas era como se já nos conhecêssemos há mais tempo e aquele não era um encontro, e sim um reencontro.
Abaixei meu rosto e repousei-me em seu corpo enquanto sentia suas mãos me acariciarem em um delicioso cafuné. Seu cheiro me invadia, pois mesmo tendo passado horas de seu dia na correria da vida, ainda assim não havia outro odor além do já conhecido e agradável.
Me levantei com calma enquanto seus braços me envolviam o pescoço e ficávamos face a face. Era como se houvesse uma música nos embalando em uma atmosfera diferente, talvez provocado pelo álcool, ou talvez apenas fruto da minha imaginação, embora aquela mágica parecesse estar acontecendo pra ela também.
– Obrigada. – Disse enquanto meus olhos percorriam sutilmente por seu rosto.
– Pelo quê? – Me perguntou quase em um sussurro.
– Por me salvar, ou ajudar, mas não só de um carro.
Sabe quando existem muito mais palavras do que as que você consegue usar? Acho que era isso o que estava acontecendo conosco. Haviam idéias implícitas em todas as nossas falas, mas que não eram claramente ditas, embora parecessem ser completamente compreendidas.
– Talvez estejamos salvando uma a outra ao mesmo tempo. – Sussurrou ela enquanto seus olhos também passeavam por meu rosto.
Não havia sorrisos, não havia brincadeiras, não havia seduções, ou nenhuma outra coisa a respeito, mas havia muito mais do que imaginei que poderia haver e eu sentia isso por todas as partes do meu corpo. Não era apenas tesão, embora não considere que houvesse tempo para algo tão mais profundo, mas, definitivamente, aquele sentimento estava longe de ser raso.
Encostamos nossas testas uma na outra enquanto o silêncio era tão forte que podíamos ambas ouvir nossas respirações. Suas mãos me preenchiam pela nuca e minhas mãos a tocavam com suavidade pelas costas, por dentro de sua camisa, sentindo sua pele no tato de meus dedos.
Aquele momento era quase poético, não havia pressa, mas nós sabíamos onde queríamos chegar, estávamos apenas degustando de cada gesto, de cada movimento, de cada momento. Não havia relutância, por mais que em meu íntimo houvesse um profundo, mas sutil, medo.
Realmente não havia nenhum outro som além do que a nossa ansiedade contida provocada, mas para mim, talvez no fundo de minha mente, era como se uma melodia muito suave estivesse nos envolvendo. Afastamos nossos rostos e nos olhamos. A ansiedade era nítida em nós, mas por um instante, apenas nos olhamos.
– O que você fez comigo, paulista? – Me perguntou Camila submersa à seriedade e emoção do momento.
– Me diz você. – Sussurrei com os olhos fixos em seus lábios.
Devagar, nossos lábios se encontraram em um encaixe tão perfeito que fez todo o meu corpo se arrepiar. Nós nos segurávamos com firmeza e nos beijávamos como quem conduz a orquestra de uma valsa. Era perfeito. Era profundo. Era muito mais do que imaginei que seria... e eu realmente imaginei.
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LGBT - Quando Acontece
RomanceLetícia é uma empresária rígida e bem sucedida que se vê obrigada a tirar férias de seu trabalho. O destino? A Cidade maravilhosa, Rio de Janeiro. Lá, enquanto descobre e explora novos lugares da região, ela conhece Camila, que é a leveza em meio ao...