11- Vou Com Você

3.7K 264 22
                                    

Saímos de lá e fomos pra rua Prudente de Moraes, onde havia um bar aparentemente conhecido. Foi mais uma longa caminhada, mas estava sendo divertido, pois íamos conversando sobre diversos assuntos aleatórios e aquele era o tipo de atividade que eu não fazia há muito tempo. Normalmente quando saio pra algum lugar, eu vou de carro e não fico andando por aí, é sempre de um ambiente fechado para outro, o que não é muito saudável.

– Gosta de pastel? – Me perguntou Camila enquanto se sentava ao meu lado ao invés de sentar na minha frente, como de costume.

– Acho que tem bastante tempo que não como. – Comentei reflexiva e surpresa.

– Mas você gosta?

– Gostava sim.

– Então vamos pedir uma porção. Aqui eles são muito conhecidos por causa dos pastéis. Espero que você realmente goste, até porque quero tirar esse seu preconceito com a minha Cidade. – Riu.

– Será que você consegue? – Brinquei.

– Ah! Eu vou tentar, espero conseguir. – Sorriu com leveza.

Pedimos nossos pastéis e uma garrafa de cerveja, a qual bebíamos enquanto aguardávamos. Camila começou a me contar sobre sua faculdade, onde estudava há 3 difíceis anos, pois era particular e, mesmo tendo conseguido bolsa, ainda precisava desembolsar uma boa quantia todo mês para mantê-la.

– Com quem você mora? – Perguntei enquanto começávamos a comer.

Senti que houve uma recuada de sua parte, talvez aquele não fosse um bom assunto a ser abordado, mas a pergunta já estava feita. Camila tomou um gole de sua cerveja e, sem me olhar, enquanto mordia seu pastel, disse:

– Moro com uns amigos.

– Se não quiser falar a respeito, não precisa. – Fiz questão de afirmar para que ela ficasse mais tranquila quanto àquilo.

Ela me olhou surpresa e disse:

– Não tem problema, é que existem muitas coisas envolta destas questões. Tem a ver com o término do meu último relacionamento. Coisas assim.

– Eu entendo, de verdade, pode acreditar. – Era sincero, afinal, havia pouco tempo que eu precisei me reestruturar justamente por causa do término do meu.

– Você pode perguntar o que quiser, eu só não queria falar de coisa triste hoje. Sabe? To cansada. – Desabafou.

Seu cansaço havia ficando ainda mais nítido do que já estava e parecia ser algo extremamente emocional. Será que alguma coisa havia acontecido naquele dia que a deixou assim?

– Não falemos de coisas sérias hoje. – Falei sorrindo. – Vamos falar de besteiras, qualquer coisa.

Ela sorriu enquanto seus olhos passeavam por todo o meu rosto em um breve segundo, e perguntou:

– Gosta de falar de signos?

– Não entendo muito, mas tenho uma amiga que vive zombando de mim por causa dessas coisas.

– Ah é paulista?! Então me conta, qual é o seu signo?

– Escorpião. – Falei sorrindo como se estivesse receosa em dizer.

– Ah, não! Vou embora! – Ameaçou se levantar, mas continuou sentada e sorrindo. – Uma escorpiana do meu lado. Você tem noção do perigoso disso?

– Não tanto quanto você parecer ter, pelo visto. – Brinquei enquanto ria de sua reação. – Qual é o seu?

– Eu sou de Peixes, com Ascendente em Touro, Lua em Virgem e Vênus em Sagitário. Aposto que você não faz ideia do que acabei de dizer, faz? – Brincou.

– Não muito. – Ri.

– Qual é sua Vênus?

– Acho que também é Escorpião.

Camila pegou seu copo de cerveja, estendeu em minha direção sugerindo um brinde e, enquanto tocávamos nossos copos, brincando, disse:

– A vida não é fácil e é por isso que a gente bebe.

Ficamos horas ali sentadas comendo outras coisas, bebendo e conversando, mas não necessariamente nessa ordem e, sem dúvida nenhuma, sem a menor pressa de que aquela noite chegasse ao fim. No fundo ficava me perguntando sobre seu trabalho, afinal estávamos em um dia de semana e, até onde eu sabia, quem estava de férias era apenas eu.

– Eu preciso ir. – Disse Camila depois de respirar fundo e olhar o relógio.

Eram quase 1h da manhã e estávamos levemente alteradas por conta das cervejas, mas estava tão leve e gostoso estar ali que eu mesma nem havia me atentado para o relógio.

– Se quiser você pode ficar comigo lá no apartamento dessa minha amiga. – Sugeri por impulso e só pensei no que havia feito depois das palavras já terem saído.

– Não quero ser inconveniente.

– Não está sendo, sou eu quem estou convidando. A gente encerra a conta aqui, pega um uber e lá a gente encerra a noite. Tem cerveja na geladeira, me lembro de ter visto, mas beber sozinha é muito chato.

Camila ficou pensativa enquanto me olhava com um sutil sorriso nos lábios e os olhos já cerrados pelo álcool. Seus olhos percorriam novamente por meu rosto como se o estivesse analisando, ou admirando e, depois de um breve momento em silêncio, me perguntou:

– Tem certeza?

Por dentro eu estava gritando, mas, por fora, disse:

– Sim.

– Então eu vou. Vou com você. – Sorriu.


Obs: Curta, comente e compartilhe ;)

LGBT - Quando AconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora