26- Você Provocou

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Passei pelo portão principal, cumprimentei o Sr. Luis e, enquanto tentava disfarçar ao máximo o quanto me incomodava aquela situação, olhei pra ela e perguntei:

– O que você faz aqui?

– Quero conversar com você.

É muito ruim quando te colocam em uma posição como aquela, porque é óbvio que eu não queria transparecer pro Sr. Luis o que estava acontecendo ali, ou quem era ela, mas estávamos todos na portaria e, por isso, precisei tomar uma decisão muito rápida que, infelizmente, não era a de minha preferência, até porque o tempo, no caso o clima meteorológico, estava mudando bem rápido.

– Vamos subir. – Falei e saí andando.

Ficamos em silêncio no elevador, mas a revolta que sentia era crescente, porque pra mim era um absurdo ela estar vindo atrás de mim, mesmo que isso, de certa forma, acariciasse o meu ego, que ficou muito ferido depois de tudo que havia acontecido entre nós, mas, mesmo assim, me sentia muito chateada e precisava externar isso.

– O que você quer agora?! – Perguntei com grosseria após entrarmos e fecharmos a porta do apartamento. – Tá feliz? Conseguiu subir depois de me constranger na frente do porteiro.

– Letícia, eu não te constrangi, não fala besteira e eu vim aqui porque te amo e quero conseguir consertar o meu erro com você.

– Eu vi. – Falei, encarando-a, como se aquela cena estivesse novamente diante dos meus olhos. – Não foi ninguém que me contou não, eu mesma vi.

– Eu sei que você viu e me arrependo muito do que fiz, mas você não pode ser injusta assim comigo.

– Como assim? Como eu poderia estar sendo injusta com você? – Perguntei atordoada.

– Você mal parava em casa, Letícia! Casei de passar dias sozinha dentro daquele apartamento. Você acha fácil viver assim? Você me abandonava.

– E isso te dá o direito de me trair?

– Não estou dizendo isso, estou explicando o meu lado e você sabe muito bem que é a verdade.

– Se eu sou tão ruim assim, por que você tá aqui querendo voltar comigo?

– Porque eu amo você. – Disse séria enquanto dava passos em minha direção. – Eu amo você e não quero te perder, pensei muito nos últimos meses, sofri muito com a nossa separação e não quero jogar tudo que vivemos fora.

– Não consigo acreditar em você. – Falei mais calma.

Beatriz se aproximou ainda mais, segurou meu rosto com ambas as mãos e disse:

– Meu amor, por favor, nós não vivemos poucos dias, nós vivemos anos juntas, não faz isso comigo, não faz isso com a gente.

– Quem fez isso com a gente foi você.

– Para de ser teimosa, Letícia, eu não to certa, mas você sabe que suas atitudes também cooperaram.

– É muito fácil da sua parte fazer o que fez e agora querer dizer que eu tive culpa nisso. – Reclamei.

– Não, não é fácil não, não é nada fácil ver o amor da minha vida sofrendo por um erro que eu cometi e saber que estamos separadas justamente por causa disso, mas eu to aqui, Letícia, eu quero consertar e resgatar o que sempre tivemos.

– Você não faz ideia de como foi pra mim depois de ter visto o que eu vi, você não faz ideia da dor que senti, do tormento, da confusão e do sofrimento, então não venha aqui pensando que basta uma conversa pra tudo voltar ao que era, porque não é assim que funciona, eu não sou um robô, não tem um botãozinho que se aperte e me faça esquecer tudo. – Desabafei. – Você foi embora e levou meses pra vir me pedir perdão! Meses!

– Meu amor, eu sei disso tudo, mas você provocou boa parte de tudo isso, não seja injusta comigo, você sabe muito bem, eu só queria o melhor pra nós e você, sempre teimosa, fez o que quis e no fim acabamos como acabamos.

Eu me sentia extremamente confusa e angustiada, chegava a me sentir sufocada e bastante atordoada, e a única coisa que sabia era que queria que ela fosse embora. Me afastei e caminhei até a porta, foi o máximo que consegui fazer em meio às minhas emoções e, olhando-a de lá, disse:

– Eu preciso que você vá embora.

Beatriz ficou em silêncio por poucos segundos me olhando, depois respirou fundo, caminhou em minha direção e se aproximou ao máximo novamente, beijou meu rosto o mais próximo a minha boca que pôde, e disse:

– Você ainda não consegue me ouvir, mas não vou desistir de nós. Você quer que eu vá embora? Tudo bem, não vou insistir, não por agora, então eu vou sim, mas vou voltar e você sabe disso. Nós nascemos uma pra outra, Letícia. Quer ter suas aventuras, como aquela da praia hoje? Tenha, mas não se esqueça que você é minha e que eu sou sua.

– Eu te vi muito bem sendo minha.

– Nada disso apaga o que nós temos, o que nós vivemos, e o que só nós sabemos. – Disse ela.

– Vai embora, por favor. – Insisti.

Beatriz saiu pela porta enquanto me sentia congelada, paralisada, presa ao local onde estava, sem conseguir dar um passo em qualquer direção que fosse. Havia uma angustia tão grande dentro do peito, assim como um sentimento de confusão e raiva, porque era sempre isso que sentia quando a encontrava, ou tinha notícias dela.

Suas palavras entraram rasgando o meu peito, porque, por um lado, eu concordava com minha ausência, mas havia tanta coisa nebulosa na minha memória e que não conseguia entender. Eu vi Beatriz me traindo e não consigo acreditar que seja culpa minha que isso tenha acontecido, ou que tenha havia contribuição da minha parte, mas ela afirmava com tanta convicção que isso me deixava muito confusa... será?

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