Carnaval: parte 2

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Bruno narrando

"Onde foi que eu me meti?" foi a primeira coisa que eu pensei quando entrei no circuito. Eu já tinha visto o carnaval de Salvador pela televisão, sabia que era o maior do mundo, mas estar ali dentro era totalmente diferente. Gente, muita gente, muito barulho, muito som, muito estímulo visual para uma cabeça só. Assim que eu me situei, peguei na mão de Linda que estava conversando com Gabi e Pedro.

- Tá com medo? - ela perguntou.
- Não sei se é medo, mas tô um pouco assustado - respondi em seu ouvido.
- Já você se acostuma.

Tato não tinha vindo conosco e não apareceu para responder as mensagens que havíamos enviado. Muito provavelmente estava resolvendo sua situação com a tal da Bianca, a sem noção. O que ela fez me deixou irritado demais. Eu não queria nunca que alguém duvidasse do meu amor e minha fidelidade por Linda. Nunca na minha vida eu faria algo a fim de perdê-la.
Estava passando um trio e nós fomos atrás. Não era preciso fazer esforço para pular, meu corpo estava simplesmente sendo levado pela multidão. Eu comecei a relaxar e a curtir o momento. Linda estava radiante cantando todas as músicas. Quem estava tocando era Saulo e ela sabia todas as letras. Acho que nunca tinha visto ela tão leve, rindo e brincando. Não é que o carnaval aqui na rua era divertido mesmo? A noite mal tinha começado e eu já tinha me divertido mais que na noite anterior dentro do camarote.
Depois de sei lá quantos trios que passaram, paramos um pouco para ir beber água e fazer xixi. Linda decidiu que não iria beber nada além de água, pois queria aproveitar ao máximo a noite. Eu acabei fazendo o mesmo que ela e fiquei apenas na água também. Gabi e Pedro decidiram comprar uma cerveja com um ambulante e se distanciaram de nós.

- Tá feliz? - perguntei a Linda em seu ouvido.
- Demais. Obrigada por ter topado vir comigo - ela respondeu me dando um beijo rápido.
- Você tinha razão, é realmente muito divertido.

Enquanto esperávamos o pessoal retornar, um grupo de rapazes me reconheceu.

- Ei, você é o Bruninho? - um deles me perguntou.
- Sou sim, cara.
- Poxa, que loucura te encontrar aqui. O pessoal nem vai acreditar quando eu contar lá em casa. Tira uma foto com a gente?
- Claro.

Tiramos a foto. Até que eu ouvi Linda brigando e falando "Me solta" para um cara atrás de mim.

- O que está acontecendo? - cheguei perguntando.
- Esse imbecil aqui tentou me agarrar à força enquanto você tava tirando foto com o pessoal ali.
- Uma mulher gostosa dessa, você queria o que, mano?
- Eu não sou seu "mano". E queria que você aprendesse a respeitar os outros, seu babaca - eu já estava sentindo a raiva subir pelo meu sangue.
- Qual foi, cara? Eu não fiz nada com ela não.
- E nem vai. Vamos sair daqui, Linda - falei puxando ela pela mão.
- Aí, gatinha, quando cansar desse molenga e quiser um homem de verdade é só me procurar - ele falou enquanto estávamos virando de costas.
- Como é que é? - respondi completamente puto.
- Bruno, deixa pra lá, vamos.
- Eu quero que você repita, seu filho da puta. Quer ver se eu sou homem de verdade?
- Bruno, vamos agora.
- Quero sim, seu viado - ele respondeu.

Eu dei um soco na cara dele. Um soco bem dado, eu diria. Nunca tinha dado um soco na cara de ninguém antes, eu nem raciocinei direito. Quando dei por mim, minha mão já estava doendo com o impacto contra a cara daquele desgraçado. Ele tentou vir pra cima de mim, Linda estava gritando pedindo para parar e se metendo entre nós dois. As pessoas ao redor começaram a perceber o que estava acontecendo e uma roda se formou em torno de nós. Ele tentou me socar de volta, mas eu desviei. É aquela história "quem não bate, apanha" e eu não ia apanhar daquele cara nem fodendo.

- Eu vou acabar com sua raça, seu maldito - ele disse tentando vir para cima de mim de novo.
- Venha, venha que você vai ver quem vai acabar com quem.
- Pelo amor de Deus, Bruno. Para com isso - Linda gritou.

Ele continuou tentando me bater, mas por eu ser mais alto, seguia desviando. Até que a polícia chegou e o policial quis saber o que aconteceu. Linda tentou explicar aos berros tudo que tinha acontecido e o policial nos encaminhou junto com o babaca para fora do circuito. Que maravilha, estávamos expulsos do carnaval.

- Que desgraça - Linda gritou assim que saímos do circuito - Eu tenho que avisar a Pedro e Gabi que estamos fora.
- Toma aqui meu celular - ela puxou o celular da minha mão.

Ela tentou ligar para os dois, mas não teve sucesso. Resolvemos voltar para casa andando mesmo. Linda não disse nada durante o caminho e eu apenas sentia minha mão doer muito ainda. Chegando em casa, pedi desculpas para ela.

- Desculpas, meu amor. Eu não queria ter estragado nossa noite e nosso carnaval.
- Eu tô muito irritada, Bruno. Com aquele cara e também com você. Eu odeio briga, odeio violência. Eu sei que você queria me defender, mas eu tô muito puta ainda. Que mania que vocês homens têm de resolver tudo medindo força.
- Me perdoa, por favor - implorei.
- Vamos deixar isso pra lá. Agora, já era. Vou pegar gelo para colocar em sua mão.

Ela foi até a cozinha buscar gelo. Eu sabia que aquela história poderia vazar para imprensa e meu nome viraria assunto na internet novamente. Mandei áudios para Alessandra, minha assessora, para explicar logo tudo que tinha acontecido. Nem podia imaginar o susto que ela tomaria quando ouvisse aquilo. Eu era meio estourado às vezes em jogos, mas nunca tinha saído no soco com ninguém. Minha mãe ia me dar uma bronca imensa quando soubesse e nem quero imaginar o que meu pai vai falar. Eles não aprovam esse tipo de comportamento e isso não fazia parte da educação que eles me deram. Mesmo já sendo adulto, eles me tratavam como se eu ainda fosse criança quando eu fazia merda. E dessa vez eu tinha feito uma merda grande.
Linda retornou com o gelo e um pano e colocou em cima da minha mão. Do nada, ela começou a ter uma crise de riso.

- O que foi? Do que você tá rindo?
- Eu não tô acreditando que a gente foi expulso do circuito, caralho, que loucura - ela respondeu em meio a gargalhadas.
- Pensei que você tava puta.
- Ah, eu tava, mas porra, ser expulso do carnaval é engraçado, né?

Eu comecei a rir dela. Ainda bem que aquele clima tenso tinha se desfeito entre nós. Eu não suportava fazer besteira e deixar ela estressada comigo.

- Amanhã a gente volta lá.
- Não vai querer ir pro camarote?
- Não, nós vamos para a rua curtir o carnaval de verdade.
- Eu não tô acreditando. Achei que depois de hoje você não ia querer ir para a avenida nunca mais.
- Foi só um acontecimento infeliz, mas o resto da noite foi super divertido. Eu estava adorando.
- Tá vendo? Eu falei, pô! Carnaval em camarote não é carnaval.

Eu aproveitei para beijá-la. Ela estava maravilhosa mesmo depois de ter pulado, gritado, suado e sido expulsa do circuito. Ficamos ali no sofá um tempo e acabamos pegando no sono.
Acordamos com o Sol entrando pela janela e invadindo a sala da casa. Levantei e peguei Linda no colo e a deitei na cama, me deitando ao seu lado.
Lá pelas 11 horas, Linda acordou e eu continuei na cama. Peguei meu celular e tinha várias mensagens de Alessandra. Até o momento, o que aconteceu na noite anterior não tinha chegado aos ouvidos da imprensa, para minha sorte. Caso isso acontecesse, ela soltaria uma nota a respeito no meu Instagram. Mandei mensagem para meus pais logo contando o que tinha acontecido. Levei um puta sermão deles dois, como havia previsto.
Tomamos café da manhã e ficamos conversando. Linda já havia conseguido falar com Pedro e Gabi sobre o que tinha acontecido com a gente e eles tinham achado a situação bem engraçada. Ela me avisou que iríamos sair mais cedo hoje, ainda pela tarde. Eu fiquei empolgado, espero que dessa vez eu não seja expulso.
Por volta das 14 horas, eu e Linda saímos de casa e encontramos Gabriela e Pedro perto do circuito nos esperando. Tato ainda não havia aparecido, nem falado nada com ninguém. Eu até comecei a ficar preocupado, pois até onde eu sei, ele não perde carnaval por nada. Entramos no circuito e fomos atrás do trio que estava passando. Era uma banda baiana que eu nunca nem tinha ouvido falar. Só senti mais uma vez meu corpo sendo levado pela multidão.
Nosso terceiro dia de carnaval foi maravilhoso. Dessa vez nada de errado aconteceu. No fim da noite, eu estava completamente exausto. Mesmo acostumado a fazer uma atividade de alto rendimento como é o vôlei, o carnaval de Salvador era outro patamar. Não tinha atleta que ficasse inteiro depois daquela festa. Eu e Linda voltamos para casa no inicio da madrugada. Só tivemos energia para tomar um banho rápido e nos jogar na cama.

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O que acharam dos primeiros dias de carnaval do nosso casal? Tensa essa briga, né? Imagina ser expulso do carnaval.... Me contem o que acharam. O que será que ainda vai rolar nesse carnaval? Palpites?

Só nós dois Onde histórias criam vida. Descubra agora