Ela piorou

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Linda narrando

Durante a manhã, eu já estava me preparando para deixar o hospital, quando fui avisada de que Sofia estava convulsionando. Corri para seu quarto e seus pais estavam na porta chorando enquanto a equipe cuidava dela. Entrei e assumi a situação. Quando ela parou de convulsionar, solicitei uma ressonância e saí para ver se o resultado da punção lombar já tinha saído. Aproveitei para ligar para Rodrigo e ele disse que daria um pulo no hospital para me auxiliar. Também liguei para Bruno e avisei que não sabia quando chegaria em casa mais.
Na sala de ressonância, eu fiquei conversando com Sofia enquanto os técnicos de radiologia não chegavam. Ela começou a perguntar sobre a minha vida.

- Você tem marido?
- Não, mas tenho um namorado.
- Eu achei que todos os adultos eram casados...
- Mas pra casar a gente tem que conhecer uma pessoa, namorar e saber se amamos ela para depois casar.
- E você ama seu namorado?
- Muito.
- Qual o nome dele?
- Bruno.
- Gostei do nome dele.
- Eu também gosto.
- Será que meu namorado vai ter um nome legal?
- Não sei, mas acho que você tá muito novinha para pensar nisso, né?
- Eu já sou quase pré adolescente - ela disse e eu comecei a rir.

Os técnicos entraram para começar o exame.

- Você vai ter que ficar bem paradinha, tá bom? Eu vou ficar ali do outro lado te olhando. Se você quiser parar, é só apertar essa buzina.
- Certo.

Eu saí da sala e fui para a outra ficar observando enquanto o exame era efeito. Sofia ficou quietinha e não precisou parar o exame nenhuma vez. Quando acabou, levei ela para seu quarto. Encontrei com Rodrigo na volta.

- Como ela está? - ele perguntou.
- Por fora, parece tá bem. Mas dependendo do exame vou transferir ela para UTI ainda hoje.
- Você está conduzindo tudo muito bem. Parabéns!
- Obrigada - respondi um pouco sem graça - Você só veio aqui por causa dela?
- Não, aproveitei para olhar outros pacientes meus também, mas já estou indo embora. Vou almoçar com Aline na casa dos pais dela.
- Pode deixar que eu vou te atualizando.
- Beleza.

Rodrigo se despediu de mim e foi embora. Ele era realmente um cara muito gente boa, estava sendo bom trabalhar com ele. Senti meu celular vibrar no meu bolso.

Bruno: Como ela está?
Linda: Estou aguardando o resultado do exame, mas aparentemente ela tá bem agora.
Bruno: Graças a Deus 🙏🏻 Vai dar tudo certo!
Linda: Espero que sim.

Me avisaram que já dava para ver o resultado da ressonância depois de um tempo. Quando eu cheguei lá, não fiquei nada satisfeita com o que vi. As imagens indicavam uma piora no quadro de Sofia. Pedi a opinião de um neuro e concluímos que ela deveria ir para a UTI imediatamente. Encaminhei a solicitação e fui procurar a família dela para avisar.

- Como assim, doutora? - a mãe dela perguntou.
- Infelizmente, pelo que pude ver, o corpo dela não está respondendo mais ao tratamento como antes. Teremos que ser mais invasivos de agora em diante.
- Meu Deus - o pai dela respondeu passando a mão pelos cabelos - Nós vamos poder visitar ela na UTI?
- Sim, mas apenas uma vez por dia.
- Não acredito. Eu não vou conseguir ficar longe dela - a mãe respondeu já em tom de desespero tentando conter as lágrimas.
- Não se preocupem, eu ficarei todo tempo possível lá com ela. Faço questão de acompanhá-la.
- Assim eu fico mais aliviada - Amanda respondeu - Muito obrigada, doutora.
- Não precisa agradecer. Esse é meu trabalho. Logo a princesa de vocês ficará bem.

Sofia foi levada para a UTI e eu precisei conversar com ela para explicar tudo que estava acontecendo.

- Sofia, você vai ter que ficar aqui na UTI a partir de hoje. Você teve uma piora e por isso precisa de um tratamento melhor. Seus papais vão vir te ver uma vez por dia, mas eu vou ficar aqui o tempo todo com você, tá bom?
- Eu tô com medo - ela respondeu espremendo os olhinhos se segurando para não chorar.
- Tudo bem sentir medo. Você ainda é a menina mais corajosa desse mundo.
- Você pode contar uma história para mim, tia Linda?
- Ah, nossa, agora você me pegou desprevenida. Eu não sei mais nenhuma história de criança.
- Me conta uma história sua então. Conta como você conheceu seu namorado.
- Essa é uma história legal.

Comecei a contar para ela como eu havia conhecido Bruno, óbvio que precisei ocultar alguns detalhes, já que ela é uma criança. Quando terminei de contar, ela já estava quase pegando no sono. Eu comecei a cantar uma música e a fazer carinho em seus cabelos  até que ela adormeceu. Sentei numa cadeira ao lado de sua cama, peguei o celular e informei Rodrigo tudo que tinha acontecido. Enquanto ela dormia, aproveitei para responder as mensagens de outras pessoas no celular. Dentre elas, Caetano. Ele tinha mandado mensagem para avisar que o terceiro ciclo da quimioterapia tinha acabado e ele estava indo ficar uns dias em casa. Um amigo ajudaria ele nesse período, o que me deixou bem aliviada. Também aproveitei para falar com meus amigos. Entrei em choque quando vi que Pedro tinha contado no grupo que estava conhecendo um rapaz. Ele era bissexual, mas até então só tinha tido relacionamentos mais sérios com mulheres. Fiquei feliz por ele. Gabriela estava completamente imersa no trabalho e sem tempo para nada. Eu ficava preocupada com ela por isso, às vezes ela sacrificava muito si em prol do trabalho e esquecia de viver. Tato estava também trabalhando (ou galinhando) bastante e falava pouco no grupo, assim como eu.
Mandei mensagem para minha mãe e Vera também, estava com saudade das duas. Entrei no Instagram e só então reparei na quantidade absurda de pessoas pedindo para me seguir. Isso começou a acontecer desde que Bruno postou aquele texto e as pessoas descobriram meu perfil. Eu não aceitava ninguém.
Levantei da cadeira para ver se Sofia estava com febre e ainda não. Saí da UTI para falar um pouco com os pais dela e deixar eles menos aflitos.

- Quando ela acordar, vocês podem ir vê-la. Eu vou dá um pulinho no refeitório para comer alguma coisa e já volto.

Cheguei no refeitório e peguei uma maçã para comer e sentei sozinha numa mesa. Me deliciei com aquela maçã como se fosse a comida mais gostosa do mundo e aproveitei o sossego do lugar.

(...)

Os dias foram passando, Sofia ia melhorando aos poucos e eu passava o tempo todo com ela na UTI monitorando e fazendo companhia. Tive que aprender história de princesas para contar para ela e algumas brincadeiras que pudéssemos fazer sem que ela se cansasse muito. Eu não estava indo muito para casa, às vezes só ia lá pegar uma roupa limpa e voltava para o hospital. Eu tomava banho e fazia todas as minhas refeições lá. Ligava pelo menos 2x por dia para Bruno para informá-lo sobre tudo que estava acontecendo. Ele sempre me dava palavras de apoio e incentivo que acalmavam meu coração. Após 9 dias naquela rotina de UTI, Rodrigo se ofereceu para ficar no meu lugar e eu pude ir para casa descansar um pouco, mas retornaria no dia seguinte pela manhã. Eu queria estar lá caso algo acontecesse.
Cheguei em casa, tomei um banho e me deitei na cama para assistir ao lado de Bruno. Eu estava com tanta saudade de ficar perto dele. Eu estava exausta, rapidamente peguei no sono. Acordei com meu celular tocando em cima da mesa de cabeceira.

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O que será que vai acontecer? Alguém sabe?

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