Despedida

484 46 10
                                    

Bruno narrando

- Pra você está me ligando essa hora, você só pode ter feito merda - Lucas respondeu ao atender minha ligação.
- É... mais ou menos isso.

Comecei a explicar tudo que havia acontecido minutos atrás. Após inúmeras tentativas de ligação para Linda, me restou telefonar para Lucas, já que ele era o único a saber de todos os meus planos relacionados ao futuro do nosso namoro.

- Você precisa dar espaço para ela - ele concluiu após meu longo relato.
- Mas eu sempre dou.
- Nem sempre.
- Que?
- Eu te conheço, Bruno. Você é tão intenso que soa grudento para quem tá de longe. E você tem que entender que você e ela são pessoas diferentes. Nem tudo que funciona pra você, vai funcionar para ela. Além de que, você foi extremamente babaca ao dizer que abriu mão das suas coisas para cuidar dela. Isso não é coisa que se fale. A gente tem que cuidar de quem a gente ama sem esperar nada em troca. Amar é basicamente isso. E de onde você tirou que ela não prioriza o namoro de vocês?
- Não sei - respondi rindo sem graça. - Mas foi coisa de momento, eu disse na hora da raiva.
- Foi coisa da hora da raiva que você já devia ter pensado inconscientemente e só fez colocar para fora...
- Você por acaso agora é psicólogo, porra?
- São os efeitos de estar casado há muito tempo...
- Ah, me perdoe então, Senhor Casado Há Muito Tempo - falei em tom de deboche deixando sair uma pequena risada.
- Deixe de ser idiota. Estou tentando te ajudar. E tá tarde, eu estou cansado e com sono. O que você conseguir arrancar de mim a essa hora é lucro.
- O que eu faço com o anel?
- Guarda, ué. Uma hora vocês vão se acertar.
- Tomara. Vou desligar. Vou deixar você descansar. E ainda preciso desarrumar as coisas aqui e resolver as coisas da passagem e hospedagem. Obrigado, irmão.
- Vê se não faz mais merda. Tchau.
- Também te amo, vida.
- Vai se foder - ele disse rindo e desligou.

A conversa com Lucas me ajudou a me acalmar. Pelo menos, em parte. Eu continuava inquieto por não ter notícias de Linda e por saber que ela viajaria até Salvador para ver aquele parasita do Caetano. Eu tento reprimir os pensamentos negativos em relação a ele, em respeito a sua doença, mas nem sempre consigo. Só queria que ele ficasse curado de vez e ganhasse seu rumo nos deixando em paz de vez.

Resolvi a questão das passagens aéreas e das reservas no hotel pelo notebook no sofá da sala. Em seguida, fui em direção ao nosso quarto e comecei a desfazer minha mala. Coloquei tudo de volta no guarda roupas, exceto a caixinha onde estava guardado o anel. Me deitei na cama e fiquei olhando para ela. Às vezes, abria a caixa e ficava olhando para o anel imaginando ele na mão de Linda. Fiquei pensando em sua reação, seu olhar e suas palavras quando o visse. Mas quando isso aconteceria? Eu não fazia a mínima ideia.
Olhei para um porta retrato com nossa foto na mesa de cabeceira ao lado do abajur e dei um beijo no rosto de Linda na fotografia. Eu estava arrependido por tudo que havia dito. Eu caí numa armadilha feita pelo meu próprio ego. Fui infantil e burro. Eu não podia perdê-la para algo tão pequeno. Eu não podia perdê-la para mim mesmo.
Não faço ideia da hora em que peguei no sono, mas fui acordado pelo barulho do despertador do meu celular às 6:30. Dormi com a caixinha do anel em minha mão. Guardei-a na gaveta da mesa de cabeceira e levantei. Procurei pelo meu celular na esperança de ter notícias de Linda, mas não havia nada lá. Minha cabeça ficou a mil tentando pensar onde e como ela estava. Talvez ela ainda estivesse no Rio ou já em Salvador, só que eu não tinha como saber. Vesti uma roupa e me ajeitei para correr. Mexer o corpo me ajudaria a aliviar a tensão da minha cabeça.

(...)

Retornei para casa e só então me dei conta de que precisava avisar ao meu pai que não precisaríamos mais da sua carona, já que não haveria mais viagem. Liguei para ele e fiz um pequeno resumo de tudo que havia ocorrido na noite anterior.

Só nós dois Onde histórias criam vida. Descubra agora