Domingo de prova

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Bruno narrando

Acordei propositalmente antes de Linda. Queria fazer um café da manhã e acordá-la com ele na cama. Levantei da cama cuidadosamente para não deixar que ela estragasse a surpresa. Preparei um café da manhã reforçado e do jeito que Linda gosta, mesmo sabendo que ela não sente tanto apetite pela manhã. Arranjei uma bandeja na cozinha e quando eu estava terminando de arrumar para acordá-la na cama, Linda saiu do quarto.

- Bom dia, amor. - ela disse dando um sorriso que só ela sabe dar.
- Não, volta pro quarto agora!
- Por que? O que tá acontecendo?
- Volta, rápido, deita na cama de novo!

Linda não estava entendendo minha reação, mas retornou para o quarto e se deitou novamente na cama. Eu terminei a bandeja e levei para lá.
- Agora sim. - falei entrando com a bandeja de café da manhã - Bom dia, minha linda, Linda!
- Ah sim, agora tá explicado aquela reação histérica - ela disse rindo - Obrigada pela surpresa, meu bem.
- Não precisa agradecer - dei um beijo na testa dela - Apesar de você quase ter estragado tudo, né?
- Me desculpa. Não estou acostumada ainda a ser mimada pelo meu namorado super romântico.
- Pois vá se acostumando, é disso para pior. - disse rindo e ela também riu.

Ficamos na cama e tomamos café da manhã juntos. Linda parecia está relaxada para prova e fiquei aliviado por ela. Confesso que eu também estava ansioso para isso, mas tinha certeza de que ela se sairia bem e me encarreguei de lembrá-la disso a todo momento.
Tomamos banho juntos outra vez, estamos realmente empenhados na economia de água do planeta. Depois, Linda se arrumou e eu fui levá-la até o local da prova. Ela levou água e fruta para comer caso sentisse fome. No caminho, nós combinamos de almoçar depois da prova num restaurante que eu queria muito apresentá-la. Linda retornaria para a Bahia na terça e eu queria aproveitar todos os momentos possíveis com ela. Eu iria viajar para um campeonato em breve e só conseguiríamos nos ver já perto das festas de final de ano. Ou seja, passaria mais quase um mês longe dela. Queria passar as festas de fim de ano com ela, talvez na casa da minha mãe em Campinas, seria uma ótima ocasião para apresentar Linda ao resto da minha família. Quando chegamos ao local da prova, Linda me deu um beijo e antes de descer do carro, perguntei:

- Quer que eu fique aqui até você entrar?
- Não precisa, amor.
- Tá bom, você que sabe. Me liga quando terminar. Estarei torcendo por você.
- Pode deixar que eu ligo. - ela respondeu me dando um beijo e descendo do carro.

Voltei para casa e fiquei assistindo a um filme enquanto Linda fazia sua avaliação. O filme acabou e eu resolvi colocar mais um. Quando estava perto do segundo filme terminar, meu celular começou a tocar. Era Linda.

- Bruno, vem me buscar. - ouvi a voz chorosa do outro lado do telefone.
- Linda, você tá chorando? O que tá acontecendo?
- Venha me buscar por favor. Conversamos quando você chegar.
- Estou indo, se acalma que eu chego já.

Peguei a chave do carro e corri até ele. O que tinha acontecido com minha Linda? Fui o mais rápido que pude, quase fiz aquele carro voar. Com certeza eu pagaria uma bela multa por alta velocidade depois.
Quando cheguei em frente ao lugar, avistei Linda sentada numa calçada e com a cabeça abaixada entre suas pernas. Não deu tempo nem de desligar o carro direito, eu saltei de imediato de dentro dele e fui em direção à ela.

- Ei, meu amor, me diz, o que tá acontecendo?

Linda não conseguiu responder, apenas chorava copiosamente com a cabeça agora em meu ombro. Percebi que ela não estava em condições de falar, ajudei-a a se levantar e entrei no carro com ela. Ela mal conseguia se mexer e se tremia inteira. Eu estava ficando já desesperado. Durante o caminho de volta para minha casa, a única coisa que era possível de se ouvir dentro do carro era o choro de Linda. Quando chegamos no meu prédio, eu resolvi que a carregaria até em casa. Peguei ela no meu colo e ela encostou a cabeça no meu peito. Quando entramos em casa, fui rápido pegar uma água na cozinha para ela. Após alguns minutos, ela se acalmou. E eu perguntei mais uma vez o que estava acontecendo.

- Tive uma crise de ansiedade perto de terminar a prova, deixei umas 5 questões sem responder. Não tive mais controle do meu corpo.
- E você acha que pode reprovar por causa dessas questões?
- Não sei. - ela disse com a voz embargada e depois voltou a chorar.
- Calma, meu amor. - só conseguia dizer isso enquanto acariciava seus cabelos e a pressionava contra meu peito.

Tudo que eu queria era acabar com aquele sofrimento que Linda estava sentindo. Eu sabia como aquele momento era esperado e importante para ela. Ficamos ali abraçados não sei por quanto tempo. Ela, enfim, se acalmou completamente.

- Vamos sair para almoçar ainda? - ela disse.
- Você que sabe, meu bem. Você tá disposta para sair?
- Acho que vai me fazer bem. - Linda disse se levantando e me dando a mão. - Vamos.
Ela foi até o banheiro lavar o rosto, penteou os cabelos e saímos para almoçar. Linda estava calada ainda no caminho para o restaurante e eu vi que era melhor respeitar seu silêncio.

Linda narrando

Meu dia tinha começado tão bem ao lado de Bruno, eu saí de casa tão confiante e simplesmente uma crise fodida de ansiedade me pegou perto de terminar a prova. Meu corpo simplesmente parou de me obedecer e eu sentia meu coração disparado e as mãos completamente trêmulas. Era horrível sentir aquilo após tantos anos. Não me lembro a última vez que isso aconteceu comigo, mas foi igualmente desesperador como era anos atrás. Quando vi Bruno, senti um alívio por poder chorar sem me envergonhar por isso. Quando ele me abraçou, me senti segura. E com isso, aos poucos, meu corpo foi voltando ao normal. Quando senti que estava melhor, resolvi que queria sair mesmo assim para almoçar. Eu sabia que sair um pouco me faria bem. E também, estava curiosa para conhecer o restaurante que Bruno iria me levar.

Fiquei apaixonada pelo lugar. Era um restaurante maravilhoso, com uma vista privilegiada da cidade. Só de poder admirar a beleza do Rio, me senti melhor. Eu e Bruno começamos a conversar sobre assuntos variados, até que ele perguntou:

- O que você acha da gente ir para Campinas amanhã?
- Mas, amor, eu vou embora terça-feira já.
- A gente sai de casa amanhã cedo, chegamos lá na hora do almoço e dormimos lá. Na terça-feira, eu te levo até São Paulo e de lá você pega o voo para Salvador.
- É, mas para isso, eu tenho que remarcar a passagem e mudar a cidade onde vou embarcar, né?
- A gente pode resolver isso agora mesmo. - Bruno disse pegando o celular e entrando no site da companhia aérea.

Após alguns minutos, eu consegui mudar a passagem. Peguei um voo para terça-feira meio dia. Não queria perder a oportunidade de conhecer a mãe de Bruno e também eu sabia que uma viagem até Campinas me faria bem. Mesmo não gostando tanto de passar muito tempo na estrada.
Depois de almoçar, eu e Bruno fomos passear pela orla da praia de Copacabana. A cidade estava agitada e quente. Paramos para tomar um sorvete na casquinha e, mais uma vez, me sujei inteira. Bruno se divertia com a cena e me chamava de "bebezona" e o pior é que eu nem podia reclamar, realmente estava parecendo um bebê.
Retornamos para casa e assistimos de novo o por do sol na varanda da casa de Bruno. Ficamos agarradinhos e aproveitando o momento em silêncio. Era incrível como o silêncio entre nós dois não era constrangedor, tampouco desconfortável. E eu amava isso em nós dois. Ali, mais uma vez, me dei conta do quanto era verdadeiro e imenso meu amor por Bruno.
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Eles são uns fofos mesmo, né? O que estão achando?

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