Linda narrando
Os dias que se seguiram após o resultado da minha aprovação e que antecederam minha mudança definitiva para o Rio passaram correndo.
Quando eu acordei e vi que era o dia da minha viagem, eu dei um salto da cama de felicidade. Coloquei música no celular e saí cantarolando pela casa. Já estava tudo certo para minha viagem, tudo pronto e organizado. Gabi, Pedro e Tato fizeram questão de me acompanhar até o aeroporto. Meu voo seria às 18h. E quando chegasse em minha nova casa, me reuniria com pessoas especiais para celebrar aquele momento. Sentia tanta felicidade que nem cabia em meu peito.
Enquanto eu estava terminando de arrumar minha bagagem de mão, ouvi meu celular, que estava do outro lado da cama, tocar. Fiquei curiosa quando vi que era um número desconhecido e tive impressão de que era o mesmo que havia me ligado semanas antes.
- Alô? - falei ao entender.
- Alô, esse número é de Linda Streit? - meu coração disparou.
- É você? - respondi perplexa.
- Sim, Linda, sou eu, Caetano.
- Acho que essa sua ligação está atrasada em, sei lá, quase dez anos?
- Eu sei. Eu preciso te ver.
- Como é que é?
- Eu preciso te ver, Linda. É urgente.
- Você tá brincando comigo, né?
- A gente pode almoçar hoje?
- O que você quer comigo, hein? Fala logo.
- Só posso falar pessoalmente.
- Que desgraça, viu? - falei passando a mão com raiva na cabeça.
- Podemos nos ver naquele restaurante de frutos do mar perto da nossa antiga escola?
- Você tá brincando com a minha cara mesmo, né?
- Por favor, Linda.Fiquei um tempo em silêncio, tentando organizar os pensamentos e hesitando em ir até seu encontro. Concluí que era melhor resolver logo aquilo e saber que diabos ele queria comigo.
- Eu sei que você não vai me deixar em paz então 12h estarei lá. Tchau - respondi desligando e sentindo meu sangue esquentar de raiva.
Eu e Caetano nos conhecemos quando me mudei do Rio para a Bahia. Ele era da minha sala e também tinha acabado de vir do Sul com a mãe para Salvador. Nós dois éramos um pouco excluídos e acabamos nos aproximando por isso. Depois de um tempo, eu comecei a me enturmar com o pessoal, fiz amizade com Gabi e Pedro, mas ele não. Então, eu ficava tentando tornar ele amigo do pessoal, até que um dia de maneira quase involuntária todos ficaram amigos. Éramos inseparáveis. Pouco tempo se passou e um dia eu percebi que estava vendo Caetano com outros olhos, mas éramos muito novos ainda, eu tinha acabado de fazer 11 anos. Guardei aquele sentimento dentro de mim e tentei sufocá-lo. O problema é que estávamos entrando na puberdade, os corpos completamente dominados pelos hormônios. Quando estávamos no oitavo ano, eu disse para Caetano que gostava dele e ele ficou sem reação. Todos meus amigos não eram mais BV e eu era a única que ainda era, mas eu só queria dar meu primeiro beijo com um garoto que eu gostasse e esse garoto era Caetano. Ao revelar que eu era perdidamente apaixonada por Caetano, ele não soube reagir e não me disse nada. Nem que não, tampouco que sim. Então, achei melhor me afastar um pouco já que meus sentimentos não eram correspondidos. Um dia, quase um ano mais tarde, fomos todos juntos ao cinema e Caetano se sentou do meu lado. No início do filme, ele pegou em minha mão e lá pela metade ele me beijou. Meu coração mal cabia no peito de tanta euforia após aquele beijo. Depois dessa ocasião, nós nos beijamos outras vezes na escola escondidos. Tempos depois, ele me puxou num canto e perguntou se eu aceitava namorar com ele e eu disse que sim. A partir daquele dia, nunca mais nos desgrudamos. Caetano foi meu primeiro namorado e amor na vida. Com ele aprendi e dei meus primeiros passos em relação a tudo na minha vida amorosa. Eu me sentia feliz e respeitada ao seu lado. Ele tinha sido um bom amigo, mas conseguia ser ainda melhor como meu namorado. Tivemos nossa primeira vez juntos, foi engraçado e vergonhoso, mas depois pegamos jeito para a coisa. Do seu lado, eu me sentia única. Não tinha como meu primeiro amor ser melhor e eu tinha certeza de que duraria para sempre. Era o que eu pensava. No fim do segundo ano do ensino médio, a mãe de Caetano foi transferida de volta para o Sul e nós teríamos que namorar a distância. Foi bem difícil, mas nós prometemos que nos veríamos nas férias do meio do ano. Então, o terceiro ano começou e a loucura de pré-vestibular também. Eu já tinha decidido que faria vestibular para Medicina, então precisava me preparar muito. Na correria do dia a dia, eu e ele nos falávamos cada vez menos. Até que perto do fim do primeiro semestre, num sábado, abri o Orkut e vi uma foto que Caetano postou beijando outra menina e com a legenda "te amo, minha pequena." Eu não conseguia acreditar. Ele nunca me procurou para se explicar, apenas parou de me telefonar.
Eu fiquei completamente desolada, como assim a pessoa que eu mais amava no mundo estava me decepcionando? Como ele conseguiu me trocar tão fácil? Com ele eu tinha vivido os melhores momentos, ele foi a primeira pessoa para quem me entreguei, como ele tinha a coragem de terminar tudo daquele jeito tão covarde?
Ali, eu precisei amadurecer e entender que a vida não era o conto de fadas que eu imaginava. Eu sofri muito. Me isolei do resto das pessoas, sentia tanta tristeza que não tinha fome e fiquei abaixo do peso. Prometi a mim mesma que nunca mais namoraria ninguém. Enterrei esse assunto e tudo relacionado a Caetano da minha vida.
Porém, quando fiz um mochilão pela Europa após concluir o ensino médio, acabei tendo outro relacionamento, mas essa já era outra história. De vez em quando, eu sabia de algo dele por amigos e conhecidos em comum, mas eu fiz questão de exclui-lo para sempre da minha vida. A última noticia que eu tive suas foi há uns 3 anos atrás, quando sua mãe morreu.Relembrar de todos esses momentos foi difícil. Eu sabia exatamente as cicatrizes que carregava por causa da sacanagem que ele havia feito comigo. O que ele queria afinal?
Pedi um carro e às 12:00 em ponto estava no restaurante. Caetano ainda não havia chegado e fiquei checando meu celular e vi que minha mãe e Vera já estavam com Bruno no Rio. Tudo que eu queria era chegar lá, mas estava ali, naquele restaurante, esperando um fantasma do passado retornar.
Me distrai olhando o Instagram, até ver a silhueta de um homem puxando a cadeira para sentar. Quando tirei os olhos da tela e olhei para cima, vi seu rosto. Um filme passou pela minha mente._____________________________________________
O que será que Caetano quer? Por que Linda perdeu o voo? Palpites? Até amanhã.
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Só nós dois
Ficción GeneralLinda é uma mulher feliz e que não estava à procura de um relacionamento. Conhece um grande amor, chamado Bruno Rezende. Ela precisa aprender a lidar com as mudanças em sua vida com a chegada dele e a vida pós faculdade. No entanto, uma pessoa do pa...