Tudo fora do lugar

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Linda narrando

Eu me sentia a pior pessoa desse mundo por decepcionar Bruno outra vez. As coisas que ele disse me magoaram e eu tomei tudo aquilo como verdade. Talvez eu fosse mesmo o problema daquele namoro. Talvez eu não o merecesse.
Desci pelo elevador, tentando segurar as lágrimas que já rolavam pelo meu rosto desde quando saí de casa. Estava completamente perdida sobre o que faria. Eu precisava respirar e me acalmar. Eu tinha que comprar a primeira passagem de avião que surgisse para Salvador. Eu tinha que arranjar um lugar para passar a noite. Passar a noite no aeroporto não era uma boa ideia naquele momento.
Meu celular começou a vibrar dentro do bolso da calça que eu estava usando. Era Bruno. Eu sabia que aquele não era o melhor momento para conversarmos. Falar de cabeça quente só ia piorar o que já estava catastrófico.
Lembrei da única pessoa que eu poderia ligar naquele momento: tio Beto. Procurei seu número na agenda e fiz a chamada. Comecei a torcer desesperadamente para que ele me atendesse, embora as chances fossem bem remotas dado o horário. A primeira chamada não foi atendida, mas na segunda ele me atendeu.

- Aconteceu alguma coisa, filha? - ele perguntou.
- Eu posso ir pra aí agora? - respondi fungando o choro.
- Linda, você tá chorando?
- Sim.
- Quer que eu vá te buscar?
- Não, eu pego um uber e vou até aí.
- Estou te esperando. Tenta ficar calma, por favor.
- Vou tentar. Já chego aí - respondi e desliguei.

Abri o aplicativo e pedi um carro pra me levar até lá. Eu não conseguia mais parar de chorar. As lágrimas rolavam pelo meu rosto sem eu me dar conta.
Depois de uns minutos, o carro chegou. Fui o caminho todo chorando, desliguei o celular para evitar as ligações de Bruno e joguei-o na mochila.
Ao chegar na casa de tio Beto, ele estava me esperando e antes que eu descesse do carro, ele já estava em pé com o portão aberto me esperando.

- Te acordei, né? - perguntei ao abraçá-lo.
- Isso não tem importância. Vamos entrar. Quero saber o que está acontecendo.

Entramos em casa. Ele aproveitou o tempo em que eu estava chegando para preparar um chá de camomila com maracujá para mim. Nos sentamos no sofá da sala, cada um com a xícara cheia de chá e eu comecei a contá-lo tudo que havia acontecido naquela noite. O jantar na casa do meu sogro, as malas que arrumamos juntos, a ligação de Salvador e o momento em que tudo começou a desmoronar.

- É uma situação tão complicada, minha filha. Eu nem sei direito o que te dizer.
- Eu estou me sentindo a pessoa mais ingrata do mundo. Eu não sou uma boa namorada, não sou uma boa amiga, uma boa médica. Eu não sou boa em nada do que me proponho a fazer. E agora, eu magoei a pessoa que mais amo no mundo.
- Calma. Você está deixando sua insegurança falar. Ponha a cabeça no lugar um pouco, cale a voz da emoção. É um momento delicado. Você precisou escolher entre a pessoa que você mais ama e uma pessoa que você já amou e que necessita da sua ajuda. Independente da escolha que fizesse agora, um lado sairia prejudicado.
- Eu só disse que precisava adiar a viagem porque o quadro de Caetano é crítico, se não fosse nada grave, eu jamais deixaria isso atrapalhar minha viagem com Bruno. Mas ele não entende isso. Ele deve achar que amo ele menos do que ele me ama. Ou que eu amo mais Caetano do que o amo.

Eu voltei a chorar. As palavras de Bruno voltaram a ecoar pela minha mente. As minhas palavras para Bruno voltaram a ecoar pela minha mente. A forma como eu saí desesperada de casa e as últimas  coisas que eu disse para ele faziam um barulho infernal dentro de mim. "Eu sou horrível" era tudo que eu conseguia pensar ao meu respeito. Roberto me abraçou e eu fiquei ali em seus braços até que eu recuperasse a razão.

- Não se desespere - ele repetia para mim.

O tempo foi passando e eu comecei a me acalmar. Liguei o celular e entrei no site da companhia aérea para procurar uma passagem. Consegui uma para um voo que sairia às 6 horas da manhã. Liguei para Dra. Tereza para saber como Caetano estava. Ela disse que a cirurgia ainda estava em andamento e que provavelmente no horário em que eu chegasse ele ainda estaria sob efeito da anestesia. O quadro dele era delicado, mas as chances de recuperação eram boas.

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