É hora de aumentar a família?

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Linda narrando

A primeira semana de residência foi tranquila. Consegui dormir todos os dias em casa e sempre dava para jantar com Bruno. Era o momento que tínhamos para passar juntos. Também era o único momento do dia que eu tinha para falar com Caetano, meus amigos e minha família. Então, precisava me organizar para dar atenção a todos eles.
O pessoal da minha turma de residência era muito gente boa, fiz amizade logo com uma paulista chamada Rebeca e um carioca muito gente boa chamado Eduardo. Nos juntamos desde o primeiro dia e não nos separamos mais. Passávamos os casos juntos e aproveitávamos o tempo livre para estudar na sala de descanso. Os casos da primeira semana estavam sendo todos tranquilos, mas a gente sabia que aquele sossego não iria durar para sempre. Nosso preceptor era o Dr. Alberto Brandão, um renomado infectologista da cidade e que era, para nossa sorte, um excelente professor e sempre estava disposto a nos ensinar. Eu estava feliz e realizada. Sentia uma satisfação sem igual de estar de volta aos hospitais. A medicina era um parte de extrema importância em minha vida.
No fim de semana, eu e Bruno fomos convidados por Bia e Lucas para um churrasco na casa deles. Eu já estava ficando mais próxima de Bia e ela era muito querida comigo, acho que foi a pessoa com quem fiz mais amizade desde que cheguei no Rio. Por estar em um relacionamento há mais tempo do que eu e Bruno, ela sempre me dava uns toques que me ajudavam demais.
Quando chegamos na casa deles, Bruno e Lucas foram para a área da churrasqueira e eu fiquei com Theo brincando na sala, enquanto Bia terminava de se arrumar.

- Estou surpresa como você tem jeito com criança - ela disse entrando na sala e se sentando no chão comigo e seu filho.
- Ah, eu amo crianças. Quando estagiei na pediatria durante a faculdade, quase mudei de especialização.
- Já pensou sobre filhos?
- Na verdade, nunca pensei. Acho que não chegou a hora. E também não estou convencida de que seria uma boa mãe.
- O maior sonho do Bruno é ser pai, você sabe, né?
- Sei sim, mas nunca conversamos disso até hoje. Acho que tá cedo, faz pouco tempo que estamos juntos. Morar juntos já foi um passo arriscado, já pensou envolver um filho nisso agora?
- Você tem razão, mas acho que vocês deveriam conversar abertamente sobre isso o mais rápido possível. Principalmente, se você não deseja ser mãe.
- Não é que eu não deseje ser mãe, mas eu nunca me imaginei exercendo esse papel na vida até agora. Eu tenho uma excelente mãe, tive um pai maravilhoso e minha criação não poderia ter sido melhor. Eu não sei se eu sou capaz de criar uma criança tão bem quanto eles fizeram comigo.
- Bem, isso você você só vai descobrir se for mãe. Eu também não me sentia completamente preparada, acho que a gente nunca vai está para isso. A gente vai aprendendo no dia a dia.

Aquela conversa mexeu comigo e me deixou intrigada. Até esse momento da minha vida, eu ainda não tinha cogitado um filho. Sempre pensei nos estudos, na minha carreira, ser independente... mas um filho? Nunca cogitei. E Bia estava certa, meu relacionamento com Bruno estava ficando cada dia mais sólido e uma hora essa conversa aconteceria. Segundo as tradições e expectativas, mais cedo ou mais tarde, teríamos um filho. E eu deveria estar preparada para isso, né? Na verdade, eu tinha que saber se era aquilo que eu queria ou não antes. Mas ainda que eu quisesse, esse não era o momento. Quem sabe depois da residência fosse melhor.
Bruno apareceu para nos avisar que já tinha carne pronta na churrasqueira e nós fomos para o lado de fora da casa para comer. A noite foi agradável, era sempre bom vir na casa deles. Depois de muita conversa, carne e cerveja, eu e Bruno nos despedimos.

- O próximo tem que ser lá em casa, combinado? - Bruno disse.
- Combinado - Lucas e Bia responderam juntos.

Entramos no carro e a conversa com Bia ainda estava na minha cabeça. Eu não ia aguentar guardar aquilo por muito, então aproveitei o andar da carruagem para ter logo aquela conversa com Bruno.

- Amor.
- Oi, minha Linda.
- O que você acha da gente ter filhos?
- Meu Deus, você tá grávida?
- Não, calma - respondi rindo - Eu apenas queria saber o que você acha desse assunto. Tive uma conversa com Bia e isso ficou na minha cabeça. E eu sei que você sonha muito em ser pai.
- Nossa, que susto eu levei agora - ele respondeu passando a mão pelo coração e eu ri da cena - Ah, meu amor, com você eu teria um time de vôlei. E você quer ser mãe?
- Não sei, nunca pensei nisso antes. Mas sei que tenho medo de ser uma péssima mãe. E também sei que esse não é o momento.
- Não mesmo, meu bem. Você acabou de começar sua residência. Daqui a 3 anos a gente volta a pensar nisso com calma.
- É o tempo de eu amadurecer e me acostumar com essa ideia, mas eu realmente adoraria ter um filho com você, para ser sincera. Não tenho dúvidas de que você vai ser um ótimo pai. Eu toparia essa aventura ao seu lado.
- Não fala assim que eu mudo de ideia e te engravido hoje mesmo.
- Meu Deus, que horror - respondi rindo.
- E se a gente adotasse um cachorro? - ele perguntou.
- Daqui a 3 anos também, né?
- Não, agora.
- Bruno, você tá louco? Quem vai cuidar dele? Eu fico o dia todo dentro do hospital e você sempre tá treinando ou jogando fora.
- Eu acho que dá para a gente encaixar um cachorrinho em nossa vida agora.
- Vou ter que assinar um atestado de loucura para você pelo que eu tô vendo. Cachorro dá tanto trabalho quanto um filho, Bruno.
- Tá bom, não está mais aqui quem falou. Só queria aumentar nossa família mais cedo.

Chegamos em casa e eu estava doida para um banho e uma massagem nos pés. Passar a semana inteira em pé e correndo pelo hospital estava acabando comigo. Pelo menos, meu domingo seria livre e eu ia poder ficar o dia inteiro deitada.

Bruno narrando

Voltando da casa de Lucas e Bia, eu fui pego de surpresa por aquela conversa que Linda começou. Óbvio que um filho com ela já tinha passado pela minha cabeça, eu queria formar uma família ao seu lado com tudo que se tem direito. Só que eu sabia que ainda era cedo para isso, então nunca tinha tomado iniciativa para conversar com ela sobre o assunto. Eu tive a ideia da gente adotar um cachorro para ir se testando como pais, mas ela rejeitou completamente a possibilidade. Eu era doido para ter um cachorro, mas eu não ia passar por cima do consenso que havíamos chegado para realizar meu desejo. Em breve, pensaríamos nisso com cautela. Mas Linda tinha razão, nós tínhamos uma vida agitada e um cachorro demanda trabalho e atenção, tal qual um filho. E para termos tanto um cachorro quanto um filho, precisávamos ter uma rotina estável em nossas carreiras.
Eu e Linda tomamos nosso sagrado e rotineiro banho juntos e quando fomos nos deitar, ela me pediu uma massagem. Eu fui todo empolgado, sabia que começaria numa massagem relaxante e terminaria num sexo fenomenal. Caí do cavalo, Linda dormiu no meio da massagem. Ela estava completamente cansada. Ali, eu me dei conta de que durante um bom tempo, seria difícil viver transando na mesma frequência que estávamos acostumados. Isso não é problema, afinal o sexo era apenas uma parte e não o todo do nosso relacionamento. O que realmente importava era eu tê-la ao meu lado todos os dias.

No domingo, eu levantei mais cedo e levei o café da manhã na cama para Linda. Convidei-a para almoçar fora, mas ela disse que queria ficar em casa descansando. Então, resolvemos que pediríamos o almoço por delivery. No meio do dia, enquanto conversávamos, tomamos a decisão de que era hora de ter alguém para nos ajudar a cuidar da casa. Chegamos ao consenso de ter uma diarista que para limpar a casa uma vez na semana e que faríamos juntos todo o almoço da semana aos fins de semana. Caso não desse certo essa ideia, nós contrataríamos alguém para cozinhar para nós também e aumentaríamos as diárias da limpeza. O resto, a gente ia se virando. A casa era grande, mas não era uma mansão e dava para a gente manter ela organizada durante os outros 6 dias da semana. Como Linda passava muito tempo dentro do hospital, eu fiquei responsável por buscar uma diarista para nossa casa. Não seria uma tarefa simples nem fácil, mas comecei a pedir indicação de amigos. Consegui o número de algumas pessoas que prestavam esse serviço para amigos e fiquei de entrar em contato na segunda.

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Já pensou um filho desses dois? Mas tá cedo, né? O que será que vem por aí? Palpites?

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