Um dia quase perfeito

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Bruno narrando

Eu viajei para jogar naquela sexta já pensando no meu retorno no sábado e no churrasco em minha casa ao lado da mulher que eu amo e meus melhores amigos. Poderia ser apenas mais um momento entre tantos que passamos juntos, mas eu estava me sentindo um pouco carente esses últimos dias. Às vezes, eu me sentia assim. Estar completamente entregue ao vôlei tornava outras áreas da minha vida bagunçadas. E eu queria passar mais tempo em casa, queria passar mais tempo com Linda, com nossas famílias e amigos. Eu não conseguia entender isso, pois quanto mais eu estava do lado dela, mais eu queria permanecer ali. Tudo entre nós era tão simples e tão verdadeiro, que não parecia nem ser real. Não éramos perfeitos, mas éramos os imperfeitos mais perfeitos que eu conhecia. Eu amava habitar o mundo de Linda e saber que eu era objeto de seu amor. Em nenhum momento eu cogitava duvidar do amor que ela sente por mim. E até mesmo a insegurança que eu sentia em relação à presença de Caetano, foi sumindo. Ela andava tão imersa na vida de residente que parecia que ele nem estava mais na nossa cola.
Para o churrasco, Linda se incubiu de cuidar de tudo para mim. Durante esses últimos dias, a rotina dela tinha ficado mais maleável devido às mudanças que aconteceram na residência. Ela só estava indo mesmo para cumprir a carga horária.
Quando cheguei em casa no sábado à tarde, Linda estava preparando as carnes que iríamos assar mais tarde. Ela estava bagunçada e cantava pela casa. Eu amava vê-la assim.

- Você chegou! - ela disse fazendo uma cara de espanto e alegria ao me ver.
- Sim, meu amor - respondi indo até ela e depositando um beijo em seus lábios.

O som estava um pouco alto, ela estava ouvindo um disco de Tim Maia em sua tão querida vitrola. Ela se divertia cantando e dançando enquanto cozinhava. Eu apenas parei para observá-la. Começou a tocar "Eu amo você" e eu a puxei para dançarmos juntos. Colei meu corpo no seu e comecei a sussurrar os versos da música em seu ouvido.

Eu amo você, menina
Eu amo você
Eu amo você, menina
Eu amo você

Senti o rosto de Linda corar enquanto ela olhava em meus olhos. Demos um beijo suave e ela ficou em pé recostada em meu peito.

- Seu coração está batendo rápido - ela disse.
- Eu sei, é assim que eu fico perto de você.

Ficamos mais um tempo ali naquela posição. Eu a amava tanto. Tudo nela era importante para mim. Ali, mais uma vez, eu consegui sentir a imensidão do meu amor por ela. Por ela, eu enfrentaria tudo e todas as coisas. Aquele momento, aquela dança, aquela luz, a lembrança do seu corpo colado ao meu, ficariam para sempre em minha memória.

Me separei de Linda e fui tomar um banho para ajudá-la a terminar de preparar as carnes e para fazermos a comida da semana.
Voltei para a cozinha e começamos a preparar nossas futuras refeições. Muito feijão, arroz, verduras limpas e separadas, frutas cortadas. Deixávamos tudo encaminhado. Terminamos tudo já no fim da tarde e aproveitamos para ver o por do sol juntos. Aquele dia estava sendo perfeito.
Nos arrumamos e ficamos esperando por Bia, Lucas e Theo que logo chegaram para nosso churrasco. Eu fiquei um tempo brincando com Theo na sala, enquanto Linda e Bia conversavam na varanda e Lucas cuidava do churrasco. Eu amava ficar com meu afilhado, tinha um amor sem igual por ele. Quando as carnes começaram a ficar prontas, eu fui com Theo para a varanda para comer com o pessoal. Linda ligou uma caixinha de som com um pagodinho e abrimos cervejas para acompanhar o momento. Estava tudo perfeitamente bem, até o celular de Linda começar a tocar.

- Alô? Oi, Rodrigo! Tudo bem sim, aconteceu alguma coisa? - ela falou ao atender - Como assim? Não estou acreditando. Vou para aí agora.
- O que aconteceu? Por que você tá com essa cara? - Bia perguntou.
- Minha paciente está ardendo em febre. Eu preciso ir para o hospital agora mesmo.
- Eu te levo - falei.
- Beleza. Nossa, gente, perdão de coração por isso.
- A gente entende, Linda. Fica relaxada - Lucas falou.
- Então, acho melhor a gente ir, né?- Bia falou.
- Não, fiquem. Eu levo ela e volto já - pedi.
- Suave, irmão. Vá lá - Lucas completou.

Linda foi até o quarto, pegou seu jaleco e a bolsa que ela sempre levava para o hospital e saímos de casa.

Linda narrando

Eu não estava entendendo por quê aquilo estava acontecendo. Até ontem, o quadro de Sofia era estável e ela estava reagindo super bem ao tratamento. Tanto que eu e Rodrigo, tínhamos sido liberados para passar o fim de semana em casa.
Quando cheguei ao hospital, fui correndo para a ala pediátrica. Rodrigo me aguardava na recepção.

- O que aconteceu? - perguntei.
- Não sei, estou tão surpreso quanto você. Ela está com 39 de febre. Eu já pedi os exames. Vamos aguardar. Acho melhor você ir falar com os pais dela.
- Vou lá.

Entrei no quarto e a enfermeira estava coletando amostra de sangue de Sofia, seus pais estavam ao lado de sua cama com os rostos aflitos.

- Boa noite, pessoal.
- Boa noite - todos responderam.
- Como você tá, boneca? - perguntei a Sofia.
- Um pouco cansada, Linda. Estou me sentindo fraca.
- A gente já vai descobrir o que está acontecendo, tá bom?
- Tá.
- Posso falar com os senhores lá fora? - perguntei aos pais dela.
- Claro. Vamos - o pai dela respondeu e deixamos Sofia com a enfermeira.
- Doutora, o que está acontecendo? - Amanda me perguntou.
- Ainda não sei. Rodrigo solicitou os exames enquanto eu estava a caminho. Vim o mais rápido que pude. Que horas vocês perceberam a febre alta?
- Há mais ou menos uma hora. Percebemos que seu rosto estava ficando vermelho enquanto tentávamos colocar ela para dormir - o pai respondeu.
- A febre está em 39 graus. É bem alta. Vamos medicá-la para abaixar a temperatura. Ainda bem que vocês perceberam logo. Eu vou falar com o Dr. Rodrigo e assim que tivermos novidades, eu venho falar com vocês.
- Tudo bem - eles responderam.

Fui até Rodrigo, disse que ele poderia ir para casa e ele disse que fazia questão de ficar mais um pouco. Ficamos esperando na recepção da ala pediátrica e lendo alguns prontuários que Rodrigo tinha sob sua responsabilidade. Todos os seus outros pacientes estavam estáveis. O resultado do exame de sangue chegou e estava tudo normal. Fomos até o quarto e a febre de Sofia havia baixado, mas não totalmente. Decidimos encaminhar o pedido de uma punção lombar. Era um exame invasivo e desconfortável, principalmente para uma criança de 7 anos, mas tínhamos que descartar todas as possibilidades de futuras complicações.
Um médico neurologista que estava de plantão faria o exame naquela noite mesmo. Demos muita sorte, eu diria. Fui até o seu quarto buscá-la com a equipe para fazermos o exame. Quando chegamos à sala onde faríamos a punção, eu segurei em suas mãos.

- Você vai conseguir, minha princesinha.

O médico posicionou o pequeno corpo de Sofia sobre a maca e deu início ao exame. Eu segurava em suas mãozinhas e comecei a cantar para acalmá-la. Passei a mão em seu cabelos quando a vi fechar os olhos sentindo o desconforto do exame. Ela estava mostrando ser uma garotinha muito corajosa e quando acabou o procedimento, eu a parabenizei por isso. Fui conversando com ela até seu quarto. Ela me contou sobre seus desenhos animados favoritos e eu me deixei levar pela conversa dela. Seus olhos brilharam quando encontrou seus pais a sua espera.

- Agora, você vai ter que descansar, tá bom? - eu disse.
- Pode deixar, tia Linda.

Quando ela disse "tia Linda" eu senti meu coração amolecer completamente. Saindo de seu quarto, aproveitei para ligar para Bruno e avisar que eu passaria a noite no hospital monitorando Sofia.

- Quer que eu leve alguma coisa para você? - ele perguntou.
- Não, tá tudo bem. Vou ficar aqui um livro que deixei na bolsa. Até amanhã, beijos. Te amo.
- Também te amo, minha linda, Linda. Até amanhã.

Sentei na sala de descanso e comecei a ler. A cada hora eu levantava para ver como Sofia estava e se a febre tinha cedido de vez. Rodrigo foi para casa e eu fiquei cuidando sozinha dela. Lá pelas 3 da manhã, a temperatura de Sofia estava de volta ao normal. Senti um alivio quando vi aquele termômetro marcar 36,6 graus. Os pais de Sofia não conseguiam pregar o olho. Ficavam sentados no sofá do quarto observando a filha dormir em silêncio completo. Eles dois ali recostados um no outro me lembrou de quando eu ficava doente e meu pai vinha passar a noite comigo e minha mãe em casa. Eles ficavam daquele mesmo jeitinho me olhando até eu pegar no sono. Cada vez mais, eu me sentia conectada com Sofia e ansiosa para que ela tivesse alta e aquela família tivesse paz.

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O que será que vem aí?

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