O jantar

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Bruno narrando

Eu sentia como se tivessem jogado um balde de gelo em mim. Como assim Linda não viria para o jantar? Por que ela não entrou no avião? Está tudo bem com ela? Eu queria ter todas essas respostas, mas todas as minhas tentativas de ligação davam na caixa postal.

- Filho, aconteceu alguma coisa? - minha mãe disse vindo da cozinha até a sala.
- Aconteceu - ao falar aquilo percebi a irritação tomando conta de mim.
- O que houve? - Suzana também veio para perguntar.
- Linda não vem.
- O que? Como assim? O que aconteceu? - Suzana interrogou.
- Eu não sei - respondi de maneira ríspida e saí para o quarto batendo com força a porta.

Ao entrar para o nosso quarto e ver as caixas com as coisas de Linda fechadas esperando para serem abertas, senti uma tristeza no peito. Algo muito forte tinha que ter acontecido. Tentei falar com Tato, mas ele não atendia. Eu estava ficando tenso e irritado. Não sei quanto tempo se passou enquanto eu estava ali, nem quantas tentativas frustradas de manter contato eu fiz, mas fui tirado dos meus pensamentos quando ouvi a porta bater. Era minha mãe.

- Bruno, meu filho, posso falar com você?
- Pode - respondi e ela entrou fechando a porta - Eu sei que você não está bem. Eu te conheço - falou se sentando na cama e passando a mão em meus cabelos.
- Sim, mãe. Como você queria eu estivesse? Porra, eu corri que nem um maluco esses dias para deixar tudo pronto. Organizei esse jantar, chamei pessoas importantes para mim para comemorarem esse momento comigo e Linda, mas ela simplesmente não vai vir.
- Eu compreendo o que você está sentindo. Eu vi o quanto você se esforçou por isso. Mas, filho, ela não perderia o voo se algo sério não tivesse acontecido.
- Eu sei disso, mas eu não sei o que aconteceu. Não sei se ela está bem, não sei de nada. E agora eu tenho que botar um sorriso no rosto e ir receber as pessoas para esse jantar, com que cara eu vou fazer isso?
- O pior é que nem dá para cancelar mais. Você, infelizmente, terá que fazer isso, querido.

Alguém bateu na porta, era Luiza.

- Bruno, seu pai,  sua madrasta e suas irmãs chegaram.
- É... vamos lá - respondi levantando da cama e vestindo a camisa.

Fui para a sala e meu pai, minhas irmãs e Fernanda esperavam por mim. Me esforcei para cumprimentá-los e não demonstrar como eu estava me sentindo.

- Pô, filhão. A casa está ótima. Parabéns!
- Valeu, pai. Nem parece aquela bagunça que a gente arrumou semana passada, né?
- Pois é - ele respondeu rindo discretamente
- Cadê Linda? Já chegou? - Vitória perguntou
- Aconteceu um imprevisto, Vi. Ela não vai chegar mais hoje.
- Poxa, filho, que pena - meu pai respondeu e saiu para cumprimentar minha mãe, Luiza e Suzana.

Pouco tempo depois, a campainha do apartamento tocou. Era Lucas, Bia e Theo. Eles ainda não conheciam Linda.

- Cadê ela? - Bia perguntou me dando Theo para segurar.
- Não vem.
- Ué, como assim, mano? - Lucas perguntou
- Aconteceu um imprevisto e ela perdeu o voo. Ainda não consegui falar com ela para saber o que de fato houve.
- Poxa, que pena, Bruno. Estava ansiosa para conhecê-la - Bia falou e nossa conversa foi interrompida pelo som da campainha.

Ao abrir, vi que era Lucarelli.

- Fala, capita! Pô, a casa tá foda, viu? Parabéns!
- Valeu, mano - agradeci.
- E cadê a Lindinha?
- Não vem.
- Agora não tô entendendo nada. Você não disse que o jantar era de vocês dois?
- Disse, mas aconteceu um imprevisto e ela perdeu o voo. Não desmarquei o jantar porque tava muito em cima da hora e a comida já tinha chegado.
- Poxa, que merda. E como você tá com isso, irmão?
- Tentando não demonstrar minha decepção - respondi dando uma risada irônica.

A única pessoa que infelizmente disse que não poderia vir foi Roberto, realmente tínhamos chamado poucas pessoas. Em seguida, chegaram os vizinhos. Lara e Micael eram muito gentis, já gostava muito deles. Óbvio que eles também perguntaram por Linda e eu tive que responder pela milésima vez que ela não viria. Fiquei conversando com eles, até que senti meu celular vibrar no bolso. Era Linda. Pedi licença a todos e fui para o quarto atender a chamada.

- Bruno?
- Oi - respondi em um tom nada amigável.
- Me desculpa, por favor. Eu nem sei como me justificar por isso, meu amor.
- Você poderia começar explicando por quê perdeu seu voo.
- É muito difícil de explicar por telefone, mas eu já remarquei minha passagem e amanhã eu estou chegando e nós conversamos.
- Então, você quer que eu espere mais 24 horas para descobrir o motivo pelo qual você faltou a inauguração da NOSSA casa?
- Tenta entender, Bruno. Por favor, é um assunto sério. Não dá para eu te explicar por telefone.
- Eu espero que seja mesmo algo grave pra justificar isso. Eu estou completamente constrangido com as pessoas me perguntando por quê você não está aqui.
- Você vai me entender, eu juro. Mas me perdoa por favor.
- Tá - falei ríspido - Vou voltar para a sala, tchau - desliguei o telefone sem dar chance dela responder.

Eu estava muito chateado e estava ficando difícil esconder isso das pessoas que estavam ali. Todos os sorrisos que eu soltava eram forçados. Eu só queria que aquilo acabasse. Luiza veio até mim, me lembrando do brinde que eu disse que faria. Sinceramente, eu não queria mais fazer porra nenhuma. Eu estava cansado e decepcionado. Só queria deitar a cabeça no meu travesseiro  e dormir para esquecer aquele dia. Mesmo assim, aproveitei o resto da boa vontade que tinha em mim e servi champanhe para começar o discurso.

- Bem, gente - iniciei - Primeiro, gostaria de agradecer a presença de todos vocês. Esse é um momento muito importante para mim e para Linda. Esse último mês foi uma correria louca para que tudo estivesse pronto para hoje. Infelizmente, por motivo de força maior, ela não conseguiu chegar, mas estou aqui em nome de nós dois para agradecer vocês estarem aqui.

Brindamos, a comida foi servida e as pessoas começaram a ir embora mais rápido do que eu esperava e foi um alívio. Só restou pessoas da minha família.

- Depois quero falar melhor com você, filho - meu pai disse se despedindo com um abraço.
- Certo, pai. Boa noite.

Dei um abraço em minhas irmãs e Fernanda e eles foram embora. Não estava mais a fim de interagir com ninguém naquela noite.
Fui para o banheiro e tomei um banho demorado. Enquanto a água caía em meu corpo, minha mente fervilhava ao pensar o que poderia ter acontecido de tão grave que fez Linda perder o voo e nosso jantar. Pensei em tantas coisas. Será que ela tinha se arrependido de ter aceitado morar comigo? Mesmo que isso não fizesse tanto sentido, era o que minha mente gritava para mim. Talvez eu tivesse sufocado ela, por isso ela desistiu de última hora e inventou que tinha perdido o voo.
Saí do banheiro e fui buscar uma coberta, mirei as caixas de Linda que estavam fechadas no quarto, o que só fez meu desconforto aumentar. Dormiria na sala, já que Luiza e minha mãe estavam no quarto de hóspedes e Suzana dormiria no meu quarto e de Linda. Ajeitei o travesseiro no sofá e ao por minha cabeça nele me dei conta de que isso não era o que eu esperava da minha primeira noite na minha casa nova.

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Poxa, tadinho do Bruno, né? Como será que ele vai reagir quando encontrar Linda?

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