Duas cabeças, um pensamento

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Bruno narrando

Saí do apartamento de Linda feliz. Parecia que eu ia até flutuar de felicidade. A cidade parecia mais colorida depois disso. Já conheci muitas mulheres na vida e também já fiquei com várias,  mas admito que nenhuma delas fez eu me sentir tão bem quanto ela.
Fui caminhando até a casa de Tato. Ele ainda tava em casa, não tinha ido para trabalho e eu nem sabia se iria.
- Bom dia, mano. - eu falei assim que abri a porta e o vi.
- Bom dia, senhor capita. Achei que iria ficar hospedado na casa de Linda até voltar pro Rio. Já ia mandar sua mala para lá.
- Ah, para né, nada a ver. - eu disse rindo e coçando a cabeça sem graça.
- Ela tá melhor?
- Está sim. Foi para um plantão que acabou de aparecer.
- Entendi. Agora, pode falar a verdade pra seu mano aqui. Vocês ficaram, né?
Fiquei em dúvida se falaria a verdade, mas como Tato era um bom amigo e também eu não tinha ninguém para conversar, decidi contar.
- Sim. Ficamos no sábado à noite, na festa.
- Você merece outra medalha de ouro então.
- Como assim? - eu ri confuso.
- Ah, mano... Eu sou amigo da Linda há muito tempo e ela é super reservada com a vida amorosa dela. Na verdade, eu nem lembro a última que eu soube que ela tava ficando com alguém. Enquanto a galera tá doida para beijar na boca e transar, ela sempre tá suave em relação a isso.
- E ela já teve namorado?
- Sim. Teve dois, mas foi antes da faculdade.
- E por que acabou?
- Ah, o primeiro eu nem sei direito, ela não comenta sobre ele. Mas o segundo eu sei que traiu ela.
Fiquei surpreso com aquilo, quem era maluco o suficiente para trair uma mulher daquela?
- Entendi. Eu gostei de ficar com ela. Ela é uma excelente companhia.
- Ihhhhhh - Tato falou levantando do sofá - Pelo brilho nesses olhos aí acho que o capita gamou, né?
- Não é para tanto. - eu disse, mas sabia que estava mentindo.
- Mas relaxe, pô. Eu entendo, até eu já fui xonadinho na Linda uma vez. Só que ela nunca me deu uma chance.

Eu ri daquilo. Pelo visto, era comum se apaixonar por ela. O incomum era ela corresponder. Me senti contente por meu interesse nela ter sido correspondido. Não sou nenhum especialista em mulheres e relacionamentos, mas até que eu sei me virar.
Deixei Tato na sala e fui tomar um banho. Enquanto a água do chuveiro caía sobre minha cabeça, eu só conseguia pensar nela. Naqueles beijos e no corpo dela quase nu colado ao meu. Não percebi o tempo passar.
Quando saí do banho, Tato me convidou para almoçar fora. Aceitei. Fomos num restaurante bacana. À tarde, eu queria descansar um pouco, mas eu não conseguia parar de pensar em Linda. Peguei o celular e mandei uma mensagem.

"Não consigo parar de pensar em você."

A mensagem nem foi recebida, provavelmente ela estava atarefada no plantão. Depois disso, consegui cochilar um pouco. Acordei com Tato me chamando para dar uma volta e ver o pôr do sol no Farol. Fiquei encantado, era lindo ver o sol se pondo dali. Pensei que gostaria que Linda estivesse lá. Parecia que todos os lugares daquela cidade só valeriam realmente a pena se ela estivesse comigo. Eu estava completamente encantado.
Depois de retornarmos para casa, Tato inventou mais uma saída. Era impressionante como ele sempre tinha uma atividade para fazermos. Nunca vi pessoa tão disposta a não ficar em casa. Já eu, se pudesse, ficaria dentro de casa o maior tempo que eu conseguisse. A rotina de treinos e jogos me fizeram valorizar o tempo livre. Só que agora, na verdade, o que eu queria mesmo era dividir meu tempo livre com Linda.
Cada vez que eu me lembrava que logo eu estaria de volta ao Rio, meu coração apertava. Se dependesse da minha vontade, naquele momento, eu compraria uma casa na Bahia para poder ficar perto dela. Mas essa ideia era completamente impossível. Sosseguei ao lembrar que ela tinha dito que faria a prova de residência no Rio para poder ficar mais perto dos avós. Consequentemente, ela ficaria mais perto de mim também. E apenas pensar em morar na mesma cidade que ela, independente de onde fosse, eu me sentia sortudo.

Linda narrando

O plantão estava movimentado, uma verdadeira loucura. Acho que de todos os plantões que eu dei no internato até o momento, aquele foi o que eu mais trabalhei. Mal tive tempo de sentar para descansar as pernas. Lá pelas 19h, meu preceptor me deu 30 min de descanso. Fui até a sala de descanso, comi umas coisas que trouxe de casa e peguei meu celular. Ao abrir as mensagens, estava lá uma mensagem dele. O dia estava sendo tão corrido que eu nem tive tempo de pensar nele. Mas ao ver aquela mensagem dizendo:
"Não consigo parar de pensar em você."

Eu não consegui mais não pensar em Bruno e em nós dois. Ele era com certeza uma das pessoas mais gentis que já trombei na vida. E os beijos.... meu Deus... o que era aquilo? O corpo atlético, a pele macia, o toque delicado... realmente era difícil não se apaixonar por ele. Por mais que eu tentasse ser racional naquele momento e dizer para mim mesma que ainda era muito cedo para me apaixonar por um cara que eu conheço há dois dias, era em vão. Não tinha racionalidade certa. Tudo que eu queria naquele momento era vê-lo de novo. Vê-lo todos os dias, para sempre. Sempre prezei por ter ao meu lado pessoas com quem eu possa ser eu mesma e eu me sentia completamente a vontade com Bruno. Até que lembrei que em poucos dias ele voltaria para casa. Uma nuvem de decepção pousou sobre minha cabeça naquele momento. Como dar continuidade àquilo sabendo que daqui a pouco estaremos em cidades diferentes? Mesmo sabendo que em breve eu iria ao Rio, manter aquilo vivo até lá seria um desafio. E eu nem sei se Bruno estaria disposto a esperar por mim, mesmo sendo por pouco tempo. Não me sentia no direito de pedir isso a ele. Nenhuma relação que comece com esse tipo de pressão e cobrança vai para frente, pelo menos é o que eu acho.
Meu descanso acabou, retornei para o consultório, ainda bem que faltavam poucas horas para o plantão terminar. Tudo que eu queria era chegar em casa e jogar minhas pernas para cima.
As horas seguintes passaram voando. Fui liberada 15 min mais cedo. Resolvi pedir um uber e enquanto eu esperava ele chegar, vi que a farmácia ao lado do hospital ainda estava aberta. Decidi ir lá. Comprei uma barra de chocolate e chegando ao caixa vi camisinha. "Por que não?" eu pensei. Afinal, eu sou uma mulher moderna, livre. Não tem nada de errado em ter camisinhas em casa. Mesmo porque eu queria usá-las imediatamente. Já quase na hora de pagar, resolvi que levaria camisinhas também. Me senti meio envergonhada, graças a esse pensamento da sociedade que diz que nós mulheres não podemos gostar de sexo tanto quanto homens. Eu gosto de sexo, na verdade eu amo. Não tenho praticado na frequência com que gostaria, é verdade, mas mesmo assim continuo gostando. A ausência de camisinha na minha casa me lembrou da última vez que eu tinha transado com alguém, fazia tanto tempo que eu tenho certeza que estou enferrujada. Pensei nisso e comecei a rir enquanto saía da farmácia. Em poucos instantes, meu uber chegou.  Finalmente, eu iria para casa.

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