Precisamos conversar

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Linda narrando

Quando Bruno saiu do quarto para conversar com Vera no celular, Caetano se sentiu a vontade para falar sobre a parte realmente dura de tudo que estava acontecendo e que ele não ainda tinha tido coragem de me dizer. Foi quando ele me mostrou um lugar onde colocaram um cateter nas semanas anteriores. Ele disse que se sentia incomodado com isso e que não queria ver as marcas depois que o tratamento acabasse, então resolveu que faria uma tatuagem da cicatriz que ficaria após a retirada do cateter.

- Eu acho uma boa ideia, vai ficar legal. Já pensou em que desenho vai fazer para cobrir?
- Ainda não, estava pensando em uma borboleta ou um leão, algo do tipo. Você já pensou em fazer alguma?
- Eu tenho 4 tatuagens, Caetano - respondi rindo.
- Sério e cadê?
- Vou te mostrar, é que elas ficam um pouco escondidas.

Mostrei para ele as tatuagens que eu tinha nos tornozelos, a da costela e por último a minha favorita, que era a das costas. Expliquei para ele o significado de cada uma delas.

- Eu amei, Linda - ele disse enquanto tocava a tatuagem em minhas costas.
- Eu amo ela demais - respondi.

Ao olhar para a porta, vi que Bruno estava parado olhando a cena e ao ver suas feições percebi que ele não estava nada feliz com a situação e que possivelmente estava enciumado. Eu sabia que aquele assunto iria render, mas ele tinha que deixar eu me explicar antes de tirar uma conclusão precipitada.
Bruno entrou e na mesma hora que percebi que era melhor sair de lá com ele para que pudéssemos conversar.
Nos despedimos de Caetano, Bruno parecia um robô na hora de dar tchau. Saímos do quarto e ele simplesmente não dizia nada, tampouco olhava para o meu rosto, tentei pegar em sua mão e ele afastou a minha.

- Bruno, por favor, me escuta.
- Acho melhor a gente conversar em casa, Linda.
- Tá bom - cedi.

Ele tinha razão, era melhor conversar com a cabeça fria em casa. Pegamos um táxi e fomos até o mercado. Só falamos o essencial um com o outro enquanto estávamos lá, aquilo estava me matando de nervoso por dentro. Concluímos as compras e pedimos outro carro para voltar para o casa. O clima no caminho seguiu o mesmo. Ao chegar em casa, eu nem fechei a porta direito e já comecei a falar:

- Agora, a gente pode conversar?
- Pode - ele respondeu friamente se sentando no sofá.
- Você não pode ficar assim comigo, Bruno. Você só viu uma parte do que aconteceu, deixa eu te explicar.
- Explique.
- Caetano estava apenas me contando que ele queria cobrir uma cicatriz de um cateter que ele tá usando com uma tatuagem. Aí eu comecei a mostrar para ele as tatuagens que eu tenho, só isso.
- Só isso? Sei lá, você iria gostar se visse outra mulher acariciando minhas costas sabendo que ela já foi minha namorada?
- Não, eu não gostaria. Mas ele não estava fazendo carinho em minhas costas, ele apenas tocou a minha tatuagem.
- Então, eu tô maluco e vendo coisa?
- Não, pelo amor de Deus, Bruno. Você só entendeu errado.
- Então sou eu que tô errado? Aquele cara acha que pode tocar em você numa boa e eu que tô errado? Ele não sabe enxergar sem tocar não?
- Desse jeito, vai ser difícil ter uma conversa normal com você - respondi já na intenção de me levantar.
- Eu só não estou muito bem com toda essa situação, Linda. Era isso o que você queria ouvir? Satisfeita?
- Com o que exatamente você não tá bem? Me diga.
- Com tudo isso que está acontecendo, esse cara que apareceu do nada para te pedir ajuda e fazer parte da nossa vida. Eu entendo que ele faz parte da sua história e que ele chegou antes de mim, mas eu não me sinto bem com isso. Também entendo que você só tá ajudando ele, mas porra, o cara é seu ex namorado. Não é qualquer um. E eu não confio nele.
- Você disse certo, Bruno. Ele é meu ex namorado e meu atual namorado é você. Poxa, a gente se ama tanto, se respeita, confia um no outro, pra que esse tipo de pensamento? E eu sei me defender, se ele tivesse me desrespeitado eu teria repreendido ele.
- Eu sei que é bobagem da minha parte, eu sei que eu não deveria me sentir assim, mas eu só tenho medo de te perder para ele.
- Você não vai me perder para ele, amor. Eu amo você e apenas você, o que eu senti um dia por Caetano não chega perto do que eu sinto por você. Eu apenas quero ajudá-lo, só isso.
- Você me promete que não vai deixar ele atrapalhar a gente e que se ele fizer algo errado você vai me contar?
- Prometo. Estamos bem agora?
- Estamos, minha linda, Linda - ele respondeu me puxando para um abraço.

Eu entendi a insegurança de Bruno, talvez no lugar dele eu me sentisse da mesma forma. Eu só quero que ele entenda que só para ele eu tenho meus olhos e meu coração. E que o que aconteceu foi apenas um mal entendido. Meus interesses amorosos por Caetano morreram na adolescência, não havia possibilidade de termos outro relação além da amizade. Mesmo sabendo que ele não merecia, tudo que eu estava sendo era amiga dele em momento difícil.
À noite, eu e Bruno, recebemos Gabi em casa. Eu estava morrendo de saudade dela. Ainda que nos falássemos todos os dias por mensagem ou por ligação, a saudade ainda era gigante. Decidimos pedir pizza para comer e enquanto Bruno desceu para pegar, eu contei para ela o que tinha acontecido.

- Ah, Linda, eu sabia que isso ia acabar acontecendo mais cedo ou mais tarde.
- Você acha que ele tem razão?
- Talvez sim. Vendo pelo lado dele, eu não gostaria de encontrar minha namorada sendo tocada em sua tatuagem nas costas por um ex namorado. E de longe, deve ter parecido que ele estava mesmo fazendo carinho em você.
- Mas, Gabi, você mesma sabe que eu não sinto nada por Caetano há anos.
- Sim, eu sei disso. E sei o tanto que você ama Bruno, mas você deve ter cuidado com essa situação, é muito delicada. Não seja tão ingênua, você pode não ter malícia em relação a Caetano, mas nada garante que ele não tenha em relação a você. Você bem sabe que ele não é a pessoa mais confiável do mundo.
- É, você tem razão. Vou ficar de olhos abertos em relação a isso. Eu só quero que Bruno não se sinta mais inseguro.

Assim que terminei de falar, Bruno entrou trazendo a pizza que havíamos pedido. Arrumei a mesa e nos sentamos para comer.

- Amanhã vocês vão pro camarote, né?
- Vamos - respondi de boca cheia.
- Já tô imaginando o burburinho que vai dar quando todos souberem que o excelentíssimo capitão Bruninho está passando o carnaval em Salvador.
- Ah, nem fala isso, pelo amor de Deus - Bruno respondeu - Eu só quero aproveitar a festa como qualquer pessoa. Não quero que vire um furdunço igual a formatura de Linda.
- Relaxa, amor - falei - Eu já estou me acostumando a dividir você com o resto do Brasil.
- Mesmo assim, Linda, eu quero curtir minha folga em paz.
- Será que você vai aguentar o pique da avenida? - Gabi perguntou já rindo.
- Ah, não, até você me abusando, Gabriela? Pensei que a gente era amigo - Bruno respondeu.
- Somos amigos sim e por isso mesmo que eu tô enchendo seu saco - ela respondeu rindo.

Depois da pizza, abrimos um vinho e continuamos a conversar na mesa. Gabi me contou sobre como estava o trabalho e as novidades das pessoas que conhecíamos. Aparentemente, pouca coisa tinha mudado desde que eu me mudei.

- Ah, Meu Deus, já ia esquecer de contar. Você tá sabendo que Tato tá ficando sério com uma menina?
- Oi? Nosso Tato? Como assim? - respondi.
- Por essa ninguém esperava - Bruno completou.
- Pois é, meus amigos. Nosso querido Luis Otávio está apaixonadíssimo por uma tal de Bianca, digital influencer daqui da cidade.
- Meu Deus, estou chocada. E como você descobriu? Por que ele não me contou?
- Eu descobri por acaso, ele não disse nada a ninguém ainda pelo que eu sei. Saí para almoçar um dia desses com o pessoal do escritório e passei em frente ao restaurante que eles dois estavam comendo. Aí eu me lembrei que já tinha visto aquela mulher em algum canto, uma colega disse quem era e eu fui olhar o Instagram. Ela tinha postado um story toda misteriosa com a mão dele e eu saquei logo, né?
- Jesus. Eu nem lembro a última vez que vi Tato ficar mais de uma vez com a mesma pessoa.
- Nem eu - Bruno falou.
- Então fiquem espertos que em breve teremos novidades.

Continuamos a conversar, até que Gabi disse que já estava ficando tarde e foi embora. Acompanhamos ela até a porta e retornamos para casa.

- Topa banho agora? - perguntei.
- Você ainda pergunta?

Fomos para o banheiro. Eu estava aliviada por aquele clima tenso entre nós dois ter passado. Saindo do banheiro, fomos para o quarto onde namoramos só um pouquinho antes de dormir, afinal amanhã começa a maratona do carnaval e precisamos de toda energia possível para aguentar 6 dias de festa.

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O que vocês acharam da conversa deles dois? E da conversa dela com Gabi? E da novidade de Tato? Me contem o que acharam do que rolou. O que será que esse carnaval nos reserva? Deixem seus palpites. Amei a interação de vocês no capítulo de ontem, quero ver mais, hein? Beijossss

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