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Estou indo para mais uma festa. Eu não gostaria de ir, mas tô cansada de ser cobrada pelos meus amigos. Sei que nos últimos tempos fiquei ausente, devido aos estudos e o trabalho. A verdade é que eu me sinto bem velha para frequentar esse tipo de festa. Passar a noite vendo as pessoas sendo sem noção, enchendo a cara e fazendo de tudo para aplacarem o vazio da própria existência me dá nos nervos. Prefiro ficar em casa com meus amigos. Bebendo, comendo, jogando e conversando. Só que eles agora colocaram na cabeça que devo ir à mais festas, já que estou solteira há uns 6 anos. Óbvio que tive uns ficantes, mas nada sério. Namorei 2 vezes e acho que já cumpri minha cota, mas prometi ao pessoal que me permitiria abrir o coração agora que estou finalizando a faculdade de medicina. 

A festa hoje é na casa de Gabi, minha amiga desde a adolescência, passamos juntas os melhores momentos da minha vida desde então. Recebo uma mensagem sua dizendo "Espero que esteja empolgada pra hoje, conversei com Tato e ele vai trazer uns amigos dele pra conhecermos." Eu ri. Tato conhecia muita gente. Ele também era um dos melhores amigos. O problema é que ele fazia amizade com umas pessoas bem aleatórias, eu sempre digo que ele já pode se candidatar a vereador aqui de Salvador.

Estou tentando decidir com que roupa eu vou, confesso que não tenho cuidado muito de mim nesses últimos tempos. Os estudos durante o internato me consumiram muito. E também não tenho tido tempo sair pra comprar roupas. Vou usar a primeira que aparecer. Afinal, me arrumar tanto pra que? Pra ver aqueles homens chatos das faculdades de medicina daqui da cidade? Sinceramente, zero vontade disso. Pego uma calça preta de tecido folgada e uma blusa colorida. Faço a maquiagem com bastante calma. É a parte que mais gosto de fazer. Sou apaixonada por maquiagem. Já para roupa eu não ligo tanto.

Após 20 minutos já tô pronta. Mando mensagem para Pedro avisando que ele pode passar para me buscar e irmos juntos à festa na casa de Gabi. Eu até iria sozinha, mas Pedro é meu melhor amigo e nossos papos antes desses eventos meio furados sãos sempre divertidos.

Assim que entro no carro, já faço um desabafo:

- Amigo, eu não aguento mais essas festas. Acho que estamos velhos pra isso, não acha?

- Eu até acho, mas se estão nos convidando...vamos fazer o que?

- Eu só não invento uma desculpa agora por causa de Gabi e Tato.

- Linda, vou ter que jogar a real. Eu não sei o que anda acontecendo com você. Você sempre foi tão extrovertida, empolgada, mas desde que entrou na faculdade que só vive pros estudos. Não estou te criticando por desejar ser uma profissional competente, mas a vida não se resume à medicina.

- Pedro... - eu interrompo - é só que...

- Espera, deixa eu terminar. Você sempre foi tão cheia de vida, tantos talentos, sempre disse que não deixaria a faculdade se tornar tudo em sua vida, mas olha pra você? Você nem sai mais pra cantar. Lembra como você cantava naqueles barzinhos perto de casa?

Eu engulo seco, sinto saudade de quem eu era. Só que não consigo mais ser assim. Resolvo responder:

- Você tem razão. Eu esqueci de mim. Prometo que vou mudar de agora em diante, começando hoje mesmo. - eu disse aquilo e eu realmente acreditei no que estava dizendo e acho que Pedro também.

Paramos na porta da casa de Gabi, as coisas aparentavam estar animadas. Chegando lá cumprimentei todos, a maioria eu já conhecia, são colegas da faculdade, outros eu conheci estagiando nas ligas acadêmicas e outros eram conhecidos com quem eu não tinha tanta amizade.

Tato me viu e se aproximou dizendo:

- Hoje, eu tenho um convidado de honra. - baixou o tom de voz e sussurrou no meu ouvido - Acho que você vai gostar dele, hein?

Eu dei uma risada sem graça. Tato me arrastou atravessando a festa. O som tava alto. Não adiantou eu pedir licença às pessoas. Tato parou de frente pra um rapaz que estava de costas para nós conversando com outras pessoas. Ele era alto, usava uma camisa branca.

- Ei - Tato falou no ouvido dele. Ele era bem alto mesmo, Tato precisou ficar na ponta do pé para alcançá-lo.

- Olá - o rapaz disse e se virou para nós.

Quando ele se virou, eu senti o mundo parar. Parecia que ele estava brilhando no meio daquela varanda que só tinha como iluminação a luz da lua. Os segundos parece que congelaram. Eu senti meu corpo esfriar e reaquecer subitamente. O som ao redor foi ficando cada vez mais baixo à medida que eu encarava o rosto daquele homem. O mundo foi parando. E abruptamente voltou a girar quando ele disse:

- Prazer, meu nome é Bruno. Bruno Rezende.

Só nós dois Onde histórias criam vida. Descubra agora