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Eros estava perdido.

Ele sempre fora excelente com direções, mas depois de tentar seguir o mapa que a mulher lhe entregara, ele se viu em um beco sem saída. Cogitou voltar e recomeçar, mas o aviso dela retinia em sua cabeça.

Analisou o mapa novamente. Apesar de ter se arrastado em um túnel, escalado uma parede e entrado em um buraco atrás do outro conforme o mapa, aquela passagem estava bloqueada com uma pilha enorme de pedras.

- Preciso continuar – murmurou, pegando pedras e jogando-as por cima do ombro.

O cheiro daquele lugar era simplesmente horrível. Parecia uma mistura de enxofre e ovo podre e ardia as narinas e os olhos. O calor não era tão ruim, mas ele conseguia sentir os pés arderem por ficar em contato com a rocha quente por tanto tempo. Eros sabia que quanto mais tempo passasse ali, mais chance ele tinha de não conseguir sair vivo dali.

Depois de dez minutos arrastando as pedras, ele parou, ofegante. Nada mudara e a pilha parecia não ter fim. Ele aguçou seus sentidos se esforçando para englobar seu entorno.

Um som, quase inaudível lhe chamou a atenção. Eros encostou a orelha no chão.

Abaixo da pedra, ele conseguia ouvir um barulho semelhante a água... Mas mais denso.

- Lava. Tem uma caverna com lava embaixo – Murmurou, enquanto escalava a parede a sua esquerda, agradecendo aos deuses pelas pedras pontiagudas que se sobressaiam, ótimas para apoiar pés e mãos.

Subiu até roçar a cabeça no teto e ficar em frente ao túnel obstruído, e usando apenas um braço, começou a lançar as pedras do topo no chão.

De início o impacto foi pequeno, mas depois de algumas rochas pesadas o chão começou a rachar.

Eros, com os músculos gritando de dor e o corpo suado, lançou a última pedra e se segurou com força quando o chão da caverna começou a ruir.

Com um estrondo enorme, todo o bloqueio do túnel caiu para o poço de lava escaldante abaixo, junto com o chão da caverna.

Grunhindo, Eros avançou, o corpo grudado na parede. O calor abaixo era terrível, mesmo com a mistura nojenta que estava no seu corpo e ele teve que prender a respiração para não se engasgar.

O avanço foi lento, uma mão de cada vez e um pé procurando o apoio certo. O rio de lava abaixo rugia e seguia seu próprio curso até se perder de vista em uma curva.

Ele andou mais cem metros antes de parar. Apoiou a testa na pedra, ofegando. Sua carne tremia e suava e ele sentia as mãos escorregando. Foi preciso um esforço sobre-humano para focar seus pensamentos e continuar, porque qualquer vacilo ali significaria sua morte.

Foi quando fez a curva que ele viu que o chão ainda estava inteiro daquele lado.

Saltou para o chão com cuidado, testando a firmeza e olhou para trás, para a enorme abertura entre uma passagem e outra, o alívio inundando seu corpo. Olhou para o mapa que ele amarrara no pulso e continuou seu caminho em direção à saída.

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Ele sabia que estava perto da entrada agora, mas seus passos estavam lentos e seu pulmão ardia dolorosamente.

O túnel de pedra havia dado lugar para um túnel de lava seco e preto, que soltava cinzas e lascas velhas. Era escorregadio e variava de tamanho, as vezes se abrindo em um túnel de teto alto e as vezes em túnel que ele tinha que se esforçar para passar os ombros largos, além de ter tantas ramificações que ele achou que havia se perdido novamente.

Estava passando por um túnel lateral quando um barulho rascante baixo o fez parar. Mesmo com o pulmão queimando, ele se forçou a respirar calmamente.

O cheiro estava impregnado por cinzas, lava... e mais ao fundo suor. Humano.

Uma flecha passou zumbido em direção ao seu peito, mas ele a agarrou um segundo antes de o acertar.

De túneis laterais, homens da tribo apareceram, o cercando com lanças e flechas a postos.

Eros, exausto, com o corpo tremendo e os pés quase em carne viva, soltou uma risada estrondosa.

Gargalhou e esticou os músculos, estalando as juntas.

Encarou o guerreiro que estava mais perto e com um rugido avançou para o confronto. 

O despertar de CatiOnde histórias criam vida. Descubra agora