28 Γ ☐••

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Yanka andava de forma nervosa em frente a tenda de Eros. Fazia horas que ele havia partido em busca de Kira, sem comer ou descansar e Yanka se sentia infeliz. Perguntas rondavam sua cabeça: ele estava chateado? Kira havia contado algo a ele? Ela pensou no que deixara de contar a ele, e tentou justificar de que fora para o bem de todos. Nem ela mesma conseguia entender a dimensão do que estava acontecendo.

- Se não parar de andar de um lado para o outro, vai abrir outro fosso no chão - Nicholas murmurou. Yanka o fuzilou com os olhos, o único da tropa que permanecera do lado de fora, se recusando a descansar.

- Por que não vai descansar também?

- Estou esperando Eros.

Yanka bufou com a calma do homem. Homens pálidos tinham o poder para deixá-la furiosa, aparentemente.

Um guerreiro Wattu se aproximou e inclinou a cabeça em respeito a ela.

- Kaiko está escalando o precipício, minha senhora.

Ela assentiu, seguindo-o. Haviam desmoronado o túnel pelo qual chegaram, conforme o planejado, para evitar que a tribo Yeta os seguisse por ali quando descobrissem da traição. Portanto, a Kaiko só restava o grande penhasco para subir e alcançar a tribo Wattu.

Yanka se inclinou na borda, junto com uma muitos curiosos e pessoas que bradavam o retorno do bravo guerreiro e viu Kaiko se pendurar precariamente em uma corda trançada. Estava ferido e com cansaço evidente em sua expressão. O guerreiro que o acompanhara desde a tribo Malo não estava à vista.

- Um morreu – Nicholas murmurou e se afastou, soturno.

Yanka engoliu em seco. Nas últimas semanas, presenciara tantas mortes e ainda assim, não conseguia se acostumar com isso.

Um movimento no canto de sua visão lhe chamou a atenção.

Ícaro e Alexander se afastavam discretamente de todos.

Yanka espiou Kaiko e depois os dois guerreiros de Eros. Seu coração lhe dizia que aqueles dois eram tudo, menos confiáveis. Algo estava errado desde a tribo Yeta e...

Sem esperar que Kaiko alcançasse o topo do penhasco, ela seguiu os homens pálidos, tomando cuidado para se manter escondida.

Os homens desceram o fosso da arena escavada e Yanka se deitou na borda, olhando para onde iam.

Entraram numa forja, e depois de algum tempo depois saíram, os braços lotados de armas. Fizeram a mesma coisa com vendedores ambulantes. No final, eles tinham armas, cantis, comida, roupas e mais uma infinidade de coisas. Yanka não conseguia entender.

Eros e seus homens jamais tiveram acesso a nenhuma moeda de troca do Continente, e nem mesmo ela levara o suficiente para trocar por tantas coisas. Mas eles...

Yanka colocou a mão na boca quando eles entraram em uma tenda de prazer. Repassou os eventos na cabeça, desde o momento em que confiara neles na câmara de guerra para que trouxessem o mapa, até seus movimentos suspeitos nos túneis.

Com uma certeza cada vez maior em seu coração de que aqueles homens acabaram de condenar ela e todos os outros, ela partiu correndo em busca de Eros.

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Ela o encontrou conversando com Kaiko e Kira, na tenda do líder.

Estavam inclinados sobre um mapa, trocando informações de tudo que acontecera na viagem. Kaiko estava sentado, com uma careta de dor. Seu corpo, desnutrido pelo tempo de escravidão na tribo Malo, estava surrado e com uma palidez na pele preta que Yanka não achou boa. Ele levantou a mão em saudação, mas ela mal conseguiu sorrir enquanto observava as cabeças de Eros e Kira juntas.

Uma sombra de culpa rastejou em seu coração. Depois de tanto tempo com Kaiko, ela ainda era capaz de não demonstrar felicidade com o retorno da pessoa que os havia salvado, simplesmente porque não conseguia tirar os olhos daquele homem insuportável a sua frente.

- Ahn... - Ela pigarreou para chamar atenção.

Eros se endireitou, e de novo, Yanka se perguntou como alguém conseguia ficar bonito com absolutamente tudo que usava. Cordas de couro trançado lhe cruzavam o peitoral nu e forte. Uma calça de couro apertava suas pernas musculosas, deixando evidente a bunda bem trabalhada.

- Yanka! - Kira a chamou e ela percebeu que estava encarando a bunda de Eros – Em que podemos te ajudar?

- Queria ter uma palavrinha com Eros...

- Não tenho tempo para isso agora – o olhar gélido em seu rosto a fez estremecer por dentro. Eros estava furioso, provavelmente porque ela escondera informações dele.

- Isso diz respeito aos seus homens...

Ele lhe virou as costas, ignorando sua presença. Ela se aproximou da mesa.

- Então talvez eu possa ajudar compartilhando informações.

- Isso também não é necessário.

- Existem algumas palavras que Kira pode não conhecer...

- Nos entendemos perfeitamente.

- Mas...

- Vá embora, Yanka! - Eros exclamou. Dor e mágoa estavam em seu olhar, e Yanka deu um passo para trás. Ele respirou fundo, tentando controlar a voz. - A não ser que queira me contar o que você está escondendo de mim. Como sabe minha língua? Como eu vim parar aqui? O que você fez para que eu viesse no momento que você mais precisava?

Yanka recuou mais. Não era tão simples. Não era como se ela pudesse simplesmente contar a história absurda de que ele chegara após ela soprar um colar. Faltavam lacunas naquela história, e ela queria ter certeza de que sabia de tudo antes de falar algo.

Apesar disso, sua vontade era a de gritar com ele, mas quando viu Kira colocando a mão no ombro de Eros, ela sentiu vontade de fugir.

Deu as costas aquela cena e correu.

Horas depois, se sentou na beira do penhasco, exausta, as pernas balançando em direção ao vazio. Acima de si, o céu estava repleto de estrelas e um vento cortante passava por ela.

Pensamentos rodopiavam sua cabeça, tantos que ela chega ficava tonta. Sentimento de culpa e de solidão a invadiram. A sensação de que ninguém precisava dela fez seus olhos arderem e ela se questionou se estava fazendo a coisa certa, ou se só deveria ter esperado a morte junto com sua tribo.

Naquele momento, ela se sentiu a criatura mais sozinha e vazia da face do Continente. 

O despertar de CatiOnde histórias criam vida. Descubra agora