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Caminharam meio-dia antes de pararem para um breve descanso. A tropa parecia mais relaxada, agora que os ânimos entre Eros e Yanka haviam sido acirrados. Ela ainda não falava com ele, mas Eros via isso muito mais como vergonha por ter sido pega espiando-o do que raiva pela discussão.

Satisfeito, ele a observava se mexer, ajustando correias, fazendo contagem de provisão, traçando estratégias. Ela tinha mais resistência e força do que muitos generais que ele conhecera.

Por um momento, os olhos dela se fixaram nos dele e Yanka deixou a cabaça que estava em suas mãos cair.

Eros escondeu sua satisfação. Ele conseguia mexer com ela, e isso era um ótimo sinal.

Ao seu lado, a sempre presente Wola, da tribo Wattu lhe passou um pouco de água. Ela tinha um sorriso meigo, e agora andava abertamente com eles. De vez em quando, apontava para algo para lhe ensinar a palavra. Eros até gostava de sua presença, mas seus olhos estavam sempre em Yanka e no guerreiro fedido.

- Aaaaah – Catri tirou seus sapatos. A tropa, reunida em uma refeição, torceu o nariz e se afastou dele e apenas Eros permaneceu impassível ao seu lado.

- Catri... - Tiro falou, tendo ânsias de vômito por causa do cheiro – Acho que alguma coisa morreu dentro do seu sapato.

- Só se for a dignidade dele, não é Eros? - Nicholas gracejou, olhando torto para Catri.

Eros comeu o último pedaço de carne seca e soltou um arroto.

- E ele já teve isso algum dia?

A tropa se pôs a rir, e Catri ameaçou bater em todo mundo com a pança enorme. Eros sorriu vendo a interação deles. Seus homens, sujos, com as roupas imundas e rasgadas, sem tomar banho a vários dias e com cortes e bolhas nos pés, queimados e exaustos ainda conseguiam gracejar e ver algo de bom naquilo tudo. Em seu coração, ele sentia um pouco de orgulho por aqueles tolos corajosos.

Observando a cena, seus olhos se fixaram em duas figuras próximas. Alexander e Ícaro cochichavam, como se compartilhassem um segredo enorme. Quando viram Eros os encarando, se separaram.

Apesar disso, algo na cena o incomodou o resto do dia. Ele só não sabia o que era.

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Alcançaram a tribo Yeta no fim da tarde.

Ou pelo menos foi o que Yanka dissera, mas Eros e seus homens viam apenas um descampado enorme, pontuado aqui e ali com vegetação mirrada. Buracos inativos de gêiseres deformavam o local, como grandes machucados.

Yanka conversava com o guerreiro Wattu, enquanto ele desenhava algo no chão. Ao seu lado, Tiro tentava puxar assunto com Wola, sem sucesso algum.

Eros se aproximou de Yanka, mas depois de olhar o desenho e não entender nada, ele deixou os dois conversarem e foi encontrar seus homens. A proximidade entre Yanka e o guerreiro ainda o incomodava, mas por algum motivo, o dia em que ele havia flagrado Yanka o espiando havia lhe dado certeza de que pelo menos uma parte dela pensava nele.

Ele passou a mão suavemente em seu Bison enquanto esperava. O animal bufou tentando espantá-lo e ele sorriu.

- Ele é carrancudo igual você – Nicholas falou, rindo.

Eros riu também, olhando-o. O sol daquele lugar havia castigado seu amigo. Sua pele estava vermelha e queimada, descascando e aparentando machucados, mas mesmo assim, Nicholas era uma fonte de força plena e constante. Eros lhe deu tapinhas amigáveis nas costas enquanto se provocavam por causa do animal.

Um barulho de um tapa as suas costas fizeram os dois virarem de uma vez.

Tiro segurava a bochecha, parecendo não acreditar enquanto Wola marchava furiosamente para longe dele. O silêncio constrangedor foi interrompido quando Catri caiu na risada, assim como Tetrum.

O despertar de CatiOnde histórias criam vida. Descubra agora