25 Γ▲••

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O cortejo seguiu ao som dos tambores. As pessoas ao seu redor estavam despidas da cintura para cima, independentemente de ser homem ou mulher. Os cabelos eram trançados de forma a deixar o rosto livre de fios, e os corpos estavam pintados com símbolos em preto, significando luto. A tropa de Eros seguia silenciosamente atrás.

O clima do lugar era tenso, recheado de mágoa e tristeza. Pessoas passavam por ele, lhe dando tapinhas nos ombros ou encostando suas testas na dele. Na primeira vez que alguém fizera isso, Eros pulara de susto, mas Yanka explicara que essa era uma forma singela de agradecimento.

Ela seguia ao lado de Eros, completamente deslumbrante. Colares de contas grossas escondiam seus seios e seus enormes cabelos tinham pequenas tranças. Sua saia chacoalhava com dezenas de pequenas continhas e ela tinha joias espalhadas pelo seu corpo. Um colar com uma pequena concha dourada era a única coisa nela que parecia deslocado e Eros o observou por um tempo até a voz de Pati chamar sua atenção.

O cortejo alcançou o tablado, e os corpos embalsamados das dez crianças foram depositados com cuidado em uma pira com base de pedra.

Entre palavras repetidas e lamentos proferidos, fogo foi posto na pira e logo a fumaça subia em direção as aberturas no alto.

- Que os deuses o recebam – Yanka recitou na língua de Eros – Que os deuses os abracem. Que os deuses os vinguem. Que os deuses lhes deem descanso. Obrigada por seu tempo aqui na terra.

Ela se ajoelhou e Eros imitou. Com a testa na terra e as mãos nos altos, recitaram as palavras, se despedindo das crianças da tribo Yeta.

O que se seguiu depois foi uma confusão de testas tocadas, mãos e palavras murmuradas. Eros perdeu Yanka na confusão de rostos e rodou diversas vezes procurando-a.

Uma mão no seu peito o fez ficar imóvel e ela apareceu na sua frente.

- Me procurando, Yretoo? - Ela murmurou. Tinha a expressão triste e Eros só queria aconchegá-la nos braços.

- Eu sempre estou te procurando, Panemorfi.

Ela puxou sua cabeça até suas testas encostarem. Eros enlaçou sua cintura e a olhou.

- Sinto muito pelas crianças da sua terra.

Ela sorriu.

- Você tem um coração enorme – Ele abriu a boca, mas ela o interrompeu – Isso também é enorme.

Eros riu, feliz. Seu coração batia acelerado por aquela mulher, como nunca havia batido antes. A expressão de Yanka desmoronou por um segundo, vulnerabilidade e medo transparecendo em seus olhos.

- Volte vivo de lá, Eros.

- Isso é uma ordem?

- Sim.

Ele encostou os lábios em sua testa e a abraçou. A batalha que se aproximava não o deixava com medo, porque pela primeira vez na vida, Eros tinha alguém por quem voltar.

Sua ordem será cumprida, minha rainha.

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Partiram bem antes do amanhecer.

Eros teve dificuldade em se manter em cima de seu bison, mas não teve escolha, pois os guerreiros da tribo Yeta seguiam a toda velocidade. Trezentos homens compunham a linha de frente, com os flancos protegidos por homens com lanças e a retaguarda com cem arqueiros.

Eros se sentia ridículo com seu punhado de homens indo à frente do grupo, mas manteve a postura. Seus homens se remexiam inquietos, sem saber o que pensar do confronto que estava por vir.

Pati, o líder da tribo seguia ao seu lado, com um sorriso que fazia Eros querer avançar nele.

Do seu outro lado, Kaiko trotava tranquilamente. Eros não conseguia acreditar que o fator decisivo para a sobrevivência dele e da sua tropa dependia daquele guerreiro fedido, mas... tinha que admirar sua coragem em ficar para trás.

- Não confio nele – Nicholas murmurou, remexendo na sela de seu antílope. Ele lançava olhares cautelosos para os guerreiros Wattu, como se eles fossem inimigos piores que a tribo Malo ou Yeta.

- Somente ele pode dar continuidade no plano – Eros silvou, o bom humor da noite anterior diminuído pela perspectiva de serem prensados entre dois exércitos.

- Bunda mole – Kaiko chamou quando pararam no ponto de encontro da batalha.

Eros trincou os dentes enquanto constatava a ausência da tribo Malo. Sem eles ali, seria mais fácil darem continuidade ao plano.

Eros rosnou suavemente na direção dele. Kaiko fez um movimento mínimo para o líder da tribo e jogou seu cantil no chão, com força. Apontou um dedo na cara de Eros.

- Como ousa me chamar assim? - Eros torceu seu dedo dolorosamente.

O guerreiro cuspiu algo de volta e Eros lhe deu um soco.

Kaiko o empurrou com todas as forças, avançando em Eros, mas ele rolou e chutou suas pernas, lançando-o ao chão. Brigaram por um momento longo antes de serem separados brutalmente pelos guerreiros da tribo Yeta.

Pati avançou, furioso e Kaiko sussurrou no ouvido dele, olhando jocosamente para Eros.

Eros fez sinal com os braços, desesperado.

- Não ouça o que ele diz! Ele quer me ver morto!

E Pati teve exatamente a reação que Eros esperava dele.

Ele sorriu e alisou a barba, pensativo, o brilho da ambição tomando seus olhos.

Com um sinal, um destacamento de homens se separou do exército e fechou um círculo apertado ao redor de Eros e de seus homens. Lanças e facas foram apontadas para seus peitos, e enquanto sua tropa arquejava em surpresa, Eros permaneceu tranquilo.

Lançou um olhar para Kaiko e este balançou a cabeça minimamente. Eros assentiu, despedindo. "Nos encontraremos mais tarde, seu idiota".

Alguém tentou atar suas mãos com uma corda, mas Eros resistiu, assim como toda a sua tropa. Lutaram brevemente até um deles sangrar e então Eros ordenou que e entregassem suas armas. Seus homens, alguns assombrados e outros boquiabertos com a rendição de Eros, permitiram serem amarrados, apesar da traição em seus olhos.

Com uma cutucada dolorosa e um grito do líder do destacamento, começaram a se movimentar para dentro do campo inimigo e para longe da tribo Yeta.

Com um último olhar de ódio por cima do ombro para Pati, Eros foi arrastado para longe, sendo obrigado a deixar suas montarias para trás.

- Devemos fingir até quando? - Nicholas perguntou.

Tiro murmurou para eles, amedrontado.

- O que está acontecendo?

Uma ponta de arrependimento brotou no peito de Eros. Deixara sua tropa no escuro de propósito. O sucesso daquela missão dependia exclusivamente da reação natural de cada um.

Andaram sob o sol causticante durante uma hora até chegarem em um ponto que não parecia específico e era igual a toda a paisagem inóspita ao seu redor. Finalmente quando pararam, Eros respondeu à pergunta de Tiro.

- Estamos indo para Wattu.

E com um giro rápido, enfiou a adaga que trazia escondida nas roupas direto no coração do guerreiro mais próximo. 

O despertar de CatiOnde histórias criam vida. Descubra agora