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Yanka estava na zona sul da tribo. A folha de couro em suas mãos tinha apenas uma palavra:

"Procure"

Eros havia entregado isso a ela e as outras mulheres, e chamara seus homens para treinar. Isso juntou guardas e mais pessoas, o que dera a elas a chance perfeita para se misturar dentro da tribo sem serem notadas.

Procurou dentro das casas-tendas da tribo, nos becos e nas ruas estreitas, perguntou ao povo e explorou cada túnel de extração que estava em seu quadrante e cada depósito de materiais. No entanto, não achou nenhum sinal de algo que pudesse indicar a localização de Velho Urso ou o que ele fizera com sua tribo.

Exausta, ela perambulou pela tribo mesmo após a luz começar a esmaecer, quando o movimento das ruas diminuiu ao ponto do silêncio completo. Todas as pessoas, sem exceção, se preparavam para o ritual de passagem das almas das crianças, e isso exigia que se isolassem em suas tendas para se limpar e se pintar.

Foi quando um movimento no limite da sua visão chamou sua atenção.

Um homem arrastava um saco para dentro de uma das cavernas de extração de joias, mas algo em sua postura desconfiada fez Yanka segui-lo de forma furtiva.

O homem descia com dificuldade o túnel que se inclinava de forma perigosa na direção das entranhas da terra. Andou por muitos metros antes de parar, afobado.

Apenas uma única tocha iluminava o espaço e Yanka se agachou atrás de uma saliência na parede. O saco era grande o suficiente para estar abrigando um corpo e Yanka se tensionou quando ele o abriu e despejou...

Uma montanha de pedras.

As pedras rolaram e se espalharam pelo espaço confinado, e uma foi parar aos pés de Yanka. O homem se agachou para pegá-la e encontrou os olhos dela.

Surpresa e perplexidade apareceram em seus olhos antes que ele desmoronasse a sua frente.

Atrás dele Eros, segurava o punho da espada que ele usara para bater no homem.

- O que está fazendo aqui? - Yanka perguntou, olhando apreensiva para a saída. Ele a puxou de seu lugar e chegou pertinho dela.

- Não gosto quando sai das minhas vistas. - Ele murmurou, os dedos traçando uma linha no pescoço dela, deixando um rastro de fogo. Yanka teve que piscar para se concentrar - Você está bem?

Ela limpou a garganta e se afastou dele. Estar perto de Eros lhe dava... sensações estranhas, que ela não entendia totalmente.

Pegou a tocha no chão e iluminou as pedras.

- O que são?

Yanka franziu a testa.

- Apenas pedras... - Ela analisou a montanha que ele havia despejado no fim do túnel - Ninguém coloca pedras aqui.

- E se a intenção dele fosse esconder algo?

Yanka o olhou, pensativa.

- Como o que? E porque ele traria isso para um túnel que não tem saída?

Ele remexeu as pedras, procurando alguma coisa. Yanka o imitou, e depois de minutos procurando, desistiu.

- Acho que segui uma pista falsa, Eros...

- Espere – Ele murmurou. Pegou o saco que o homem havia carregado as pedras e o analisou – As pedras são apenas a distração.

Ele virou o saco do avesso. Símbolos estavam desenhados em sua parte inferior, e Yanka se esforçou para ler o que estava escrito.

- "Mate o Ferreiro Caolho em Wattu"...

- Um barulho estrondoso na porta da caverna os fez pular de susto. Vozes, acompanhadas de passos apressados ecoaram pelo túnel. Eros puxou Yanka para fora do caminho, mas não havia lugar para se esconder.

- Esses túneis sempre têm esconderijos – Ela apalpou a parede da caverna freneticamente. Eros espiou pelo canto da rocha. As vozes estavam cada vez mais perto, e agora era possível ver as chamas bruxuleantes das tochas.

Eros desembainhou metade da espada, pronto para um confronto, mas bem na hora Yanka o puxou para uma fenda na rocha. A passagem era tão apertada que pararam na metade do caminho para esperar que os guardas fossem embora.

Ficaram ali por um bom tempo, enquanto as vozes dos homens variavam entre confusas, surpresas e irritadas. Yanka espiou Eros, mas ele estava com os olhos fechados, a testa franzida em concentração. A passagem mal comportava seu tamanho.

Sem poder falar para não os denunciar, ela hesitou um momento antes entrelaçar seus dedos.

A boca dele subiu um pouquinho em um sorriso e ela soube que mesmo que tivessem que esperar eternamente, ela esperaria feliz.

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- Você sabe quem é? - Eros perguntou.

Estavam em uma casa-tenda da tribo. Ele estava sentado apenas de calças no chão, com os ombros entre as pernas de Yanka enquanto ela trançava seu cabelo.

Desde que saíram da caverna, estavam sendo extremamente cuidadosos com o que falavam e como agiam, até mesmo com a tropa. Felizmente, os guerreiros da tribo Yeta haviam ido embora depois de uma vistoria desleixada, arrastando entre eles o homem desacordado.

Eros e Yanka os tentaram achar depois de rastejarem para fora da caverna, mas por mais que se esforçassem, parecia que os guardas e o homem que levara a mensagem simplesmente sumiram. Vigiar a caverna iria levantar suspeitas, continuar procurando pelo homem também, então decidiram silenciosamente compartilhar a informação com Kaiko e Nicholas, e procurarem o Ferreiro Caolho em Wattu.

- Uma vez ouvi uma história quando era mais jovem... De um homem de um olho só na tribo Wattu, que era capaz de transformar qualquer pedaço de metal em armas extraordinárias. Dizem que ele pode aprender qualquer coisa apenas observando, mas eu não sei se ele existe de fato, ou se foi inventado.

Ele assentiu. Yanka terminou com seus cabelos e fez a cabeça dele deitar em seu colo.

- Isso ficou feio – Ela murmurou, passando um unguento em seu pescoço, onde a faca de Pati havia entrado.

Eros a observou intensamente. Olhos azuis buscaram os seus e ele abriu a boca para falar algo.

-Yanka, sobre nós...

- Não, Eros – Ela o cortou. Os últimos acontecimentos com ele, o toque físico e o jogo de mentiras no qual e eles haviam se envolvido a deixavam confusa. Eros lhe fazia sentir coisas que estavam fora do seu controle, e ela se sentia perdida com isso. Além disso... havia algo que não deixava dúvidas em seu coração que o quer que estivesse acontecendo entre ela e Eros, deveria acabar antes do fim daquela jornada - Eu... não quero falar sobre isso agora. Não tenho cabeça para pensar em algo assim, muito menos para entender o que... existe entre nós.

Ele pareceu quase triste, mas permaneceu em silêncio e fechou os olhos enquanto ela tratava a ferida.

- Pronto – Ela avisou quando terminou, mas ele não se moveu. Ela o empurrou, mas o homem era uma montanha de músculos - Eros...

Ele se virou em seu colo e pegou seu queixo delicadamente. Aproximou seus rostos e murmurou:

- Quando o confronto acabar... - Yanka engoliu em seco. Calor e desejo tomaram conta dela, e ela se obrigou a manter as mãos no lugar, e não agarrá-lo ali mesmo – Vai me dar a chance de conversar sobre isso?

- Eros...

Ele aproximou a boca da dela e Yanka só conseguia vê-lo. Poderia ignorar toda aquela situação e todos se ele apenas chegasse um pouco mais perto...

- Vai ou não vai, Yanka?

- Vou – Ela murmurou.

Indo contra seu desejo de lutar contra isso, ela chegou um pouco mais para frente...

..., Mas Eros já estava fora da tenda, deixando para trás uma Yanka abalada. 

O despertar de CatiOnde histórias criam vida. Descubra agora