8 ☐••

11 3 0
                                    

Yanka usou os homens do grande guerreiro para levar sua tribo de volta à aldeia. No início, os homens se recusaram veementemente. Gritaram, ameaçaram ir embora, jogaram suas coisas no chão furiosos enquanto esbravejavam. Yanka permaneceu impassível, tendo consciência de que eles tinham direito de estar assim e calmamente disse que, caso eles não quisessem, ela podia liberá-los para ir embora.

Quando estavam lhe virando as costas, ela começou a murmurar sobre todo o ouro que estava escondido na aldeia, além do raro marfim dos elefantes do Continente e as pedras preciosas que a tribo Yeta havia dado a eles como pagamento pelas provisões.

Rapidamente os homens se organizaram para levar seu povo, com uma amabilidade falsa e sorrisos amarelos. Yanka bufou. Homens eram homens, sendo de qualquer idade, cor ou raça.

Em questão de horas, ela habilmente providenciou tenda para os visitantes em um lugar mais afastado da tribo. Deixou o grande guerreiro ao cuidado de alguns homens que organizavam o acampamento e desceu com os outros.

Providenciou lenha, alimentos, vestimentas. Designou alguns homens para caçarem, outros para cozinharem, um punhado para vigiar a aldeia e três para auxiliá-la. Limpou o centro da tribo, forrou com tapetes de palha e deitou cuidadosamente seu povo, ainda inconscientes.

Com um pedaço de carvão e couro, começou a anotar os símbolos gravados de forma tosca nos corpos de cada integrante da tribo. Continuou por horas a fio, cuidando de todos e anotando. Ignorou a dor, o cansaço e os pensamentos nebulosos, até por fim anotar o último símbolo.

Sentou-se no chão pesadamente, encarando o pergaminho de couro em suas mãos. Ela não sabia o que aquilo queria dizer, com os símbolos soltos aparentemente de forma aleatória.

Yanka balançou a cabeça. Estava exausta. Perdida. Como iria acordar seu povo? O que aquele pedaço de couro significava? O que deveria fazer com aqueles homens estranhos e pálidos?

Adormeceu com esses pensamentos, com a bochecha apoiada nos joelhos.

////

Ela acordou com alguém colocando algo em seus ombros. Com os sentidos subitamente alertas, ela se levantou bruscamente, cambaleando em seus próprios pés.

Encarou o rosto do guerreiro à sua frente, que parecia estar se divertindo com a cena. Ela balançou um cobertor na frente de seus olhos.

- Achei que estava ferido.

- Estou ferido, não morto.

Yanka o analisou por um breve momento. Ele tinha se lavado e se vestido com suas roupas. Os cabelos, soltos, estavam puxados pra trás, ainda molhados e fora a palidez e a postura levemente inclinada ele parecia bem, visto que tinha um sorriso irritante naquele rosto bonito.

- Por que não descansa lá dentro? – ele apontou para o conjunto de tendas da tribo Cati.

Ela fechou os olhos.

- Não quero sair de perto deles... Caso eles acordem.

Ficaram em silêncio por um momento, interrompido apenas pela barriga de Yanka roncando.

O guerreiro se levantou e caminhou até um de seus homens. Ela o observou desconfiada.

Ele caminhava como se fosse dono do mundo, e as pessoas abriam espaço para ele de forma voluntária. Olhando sua postura e rigidez bem calculada, ela percebeu que ele nascera para ser um líder.

O grande guerreiro voltou com uma tigela de sopa bem encorpada e a colocou entre suas mãos. Se ajoelhou na sua frente e começou a amassar folhas e unguento em um pote de barro.

- Por que está fazendo isso?

Ele indicou o pedaço de couro que estava em seu colo.

- Porque vejo que você tem muito para fazer ainda. E sem comida e sem saúde, ninguém consegue lutar suas próprias batalhas.

Yanka engoliu o nó que se formou em sua garganta, se forçando a não desmoronar pelos cuidados de um desconhecido.

Começou a comer, mas logo fez careta.

- Eca, o que seus homens colocaram aqui?

Ele riu.

- Meus homens são de tudo um pouco, menos cozinheiros. Coma, vai te sustentar.

- O que são seus homens?

Sua expressão desmoronou em uma careta fechada.

- Um bando de idiotas. Assassinos, ladrões, marinheiros, integrantes de bandos de assalto e tudo o que você puder imaginar de ruim, esses homens já fizeram.

Ele começou a aplicar o unguento em seu pescoço, braços e pernas, em todos os machucados visíveis. Para sua surpresa, ela permitiu silenciosamente.

- E por que está com eles?

- Porque eles são minha punição.

- Pelo que?

- Qual o seu nome? – ele tentou mudar de assunto.

- Por que acha que temos intimidade o suficiente para trocar nossos nomes? - Yanka perguntou, colocando a tigela de lado e se levantando. Seus cortes ardiam, e tudo em si doía, mas aparentemente a tigela com aquela comida horrorosa havia feito sua parte em lhe dar energia.

O homem também se levantou.

- Porque acho que não vai querer me dar meu ouro agora, certo? Precisa de meus homens e de minha força.

Ela riu, sem humor.

- Não preciso da sua ajuda.

Ele apontou para as dezenas de pessoas da tribo atrás de si, deitadas imóveis.

- E como planeja lidar com isso... sozinha? - Ela hesitou tempo suficiente para que ele soubesse que havia vencido aquela mulher altiva e orgulhosa – Vou querer mais ouro e seu nome em troca.

- Vá embora se for falar besteira – Ela começou a andar para longe, a trança enorme balançando.

- Certo, vou ceder por você! Quero mais ouro, seu nome e seu coração!

- Suma da minha frente! 

O despertar de CatiOnde histórias criam vida. Descubra agora