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Eros não conseguia acreditar na grandiosidade do lugar.

A floresta densa ao redor da montanha havia sido uma surpresa agradável depois daquela terra árida, mas a montanha era muito melhor. Caminhos sinuosos, com temperatura confortável levavam até o centro do lugar recheado de escadas e galerias, com inúmeros buracos escavados na pedra.

De certa forma, o buraco no teto lembrava a tribo Yeta, mas era muito maior, e ao invés do povo habitar o espaço baixo, eles moravam nos andares e galerias dentro da montanha, acessadas por escadas coladas nas paredes. O centro da caverna era um manancial de águas limpas e Eros teve que se conter para não sair correndo na direção do riacho, depois de tanto tempo do lado de fora.

Seus homens adoraram a água fresca e o ambiente úmido, e Yanka lhes explicou:

- É sagrada. Os sacerdotes a usam para banhos de cura e para desenvolver remédios, e dizem que ela tem propriedades de cura.

- O que eles estão fazendo? - Nicholas apontou para um grupo de pessoas. A maioria assistia uma moça em vestes brancas dançar em cima da água.

- É um ritual – Yanka respondeu enquanto eram guiados para uma abertura grande, para longe do centro da caverna - Estão agradecendo aos deuses pelas bonanças, e acreditam que a água levará seu agradecimento mais rápido até o céu.

- Podemos nos banhar naquelas águas, princesa? - Catri perguntou, rindo ruidosamente com a tropa. Yanka balançou a cabeça.

- Ninguém que não for puro de coração pode colocar os pés lá.

- O que acontece se alguém desobedecer a isso?

Yanka deu de ombros.

- Morre.

As risadas cessaram de repente, dando lugar à um silêncio desconfortável. Finalmente, saíram em outro espaço aberto, iluminado por tochas e revestido em mármore.

Ao centro havia um trono vazio, branco como leite e cheio de peças que Eros desconfiava ser ossos.

- Primeiro, se lavar, se alimentar e descansar – Bumbo orientou. Voltou seus olhos pequenos e espertos para Eros – segundo lhe dar as respostas, grande guerreiro.

- Todas que eu quiser? - Ele perguntou, desconfiado.

Ela cruzou os dedos e Eros teve que evitar revirar os olhos. Por que ele ainda perguntava?

- Claro que não! - Ela riu divertida. - Muita gente esperar muito por você... grande guerreiro deve dar algo em troca!

E saiu rindo consigo mesma, como se tivesse contado uma piada muito engraçada.

Ele suspirou, a sombra de uma dor cabeça passando. Yanka colocou a mão em seu braço.

-Vamos. – a mão dela foi a única coisa que o manteve em pé enquanto eram guiados para fora da sala e para a caverna que todos compartilhariam a noite.

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No sonho, Eros viu sua mãe.

Estavam numa praia deserta, a infinidade azul de águas salgadas lhe dando a certeza de que aquela era sua terra.

- Mãe? – Ele perguntou de forma cautelosa. Ela vestia uma confusão de peças desencontradas e com olhos arregalados, Eros percebeu que sua mãe vestia um pouco de cada tribo do Continente.

Ramos lhe trançavam as pernas, um crânio de antílope estava em sua cabeça e ela vestia uma túnica colorida. Tinha couro escuro trançado nos braços e couro claro nos cabelos.

De um cinturão no quadril, ferramentas pendiam.

Confusão passou por Eros. Por que ela estava vestida daquela forma? Por que ele estava ali? O que estava acontecendo.

Sua mãe pareceu sair de um transe e o encarou, os olhos bondosos.

- Meu querido filho – Ela colocou a palma suavemente em seu rosto – Meu querido e amado filho.

Eros lançou os braços ao seu redor, pressionando o rosto em seu ombro. Lágrimas arderam em seus olhos.

- Sabe quanta saudade eu senti? É tão bom te ver e...

- Eros, escute – Sua mãe o afastou. Uma nova urgência em seus olhos o fez parar. – Não temos muito tempo. Se lembra do que eu te dei, há muito tempo atrás?

Ele balançou a cabeça, concordando, apesar de estar confuso.

- Está com você? – De novo ele assentiu – Quando você precisar tomar decisões importantes, use isso para salvá-lo. Quando estiver perdido, use para guiá-lo. Não se esqueça.

A mãe dele começou a ficar transparente, o corpo se tornando incorpóreo.

- Do que está falando? Por que está falando isso? – Eros tentou segurá-la, desesperado. – Você sabe o que está acontecendo? Por que eu fui parar lá? Como...

- Desculpe meu filho – Ela murmurou, a voz cada vez mais distante – tive que fazer isso para salvá-lo. Foi tudo o que consegui fazer...

Eros acordou assustado, a testa brilhando em suor.

Ele arfou em busca de ar, mas a garganta parecia bloqueada.

- Eros – Yanka agarrou seus braços. A visão dela fez Eros enterrar a cabeça em seu ombro, respirando seu cheiro refrescante.

Uma respiração de cada vez, e lentamente ele conseguiu se acalmar.

Yanka o embalava nos braços, uma mão acariciando seu cabelo e a outra suas costas. Ela enlaçou sua cintura com as pernas, e os dois se aconchegaram, aproveitando o calor um do outro.

- Teve um sonho ruim? – Ela perguntou suavemente. Eros fungou, percebendo que havia chorado. Sem levantar a cabeça ele murmurou.

Sonhei com a minha mãe.

Ela puxou seu rosto até encostar a testa na dele.

- Isso é ruim?

Eros fechou os olhos, permitindo que uma lágrima descesse, a dor e o desespero ameaçando engoli-lo.

- Seria um sonho maravilhoso... Se ela não estivesse morta. 

O despertar de CatiOnde histórias criam vida. Descubra agora