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Yanka andava nervosamente na frente de um Eros pacífico. Torcia as mãos e mordia a língua enquanto ele a observava. O corte no pescoço havia parado de sangrar havia algum tempo, mas parecia feio e precisava de cuidados.

- Você... Por que não me contou sobre as crianças? - Ela sibilou.

Ele deu de ombros.

- Não houve oportunidade.

- Não houve oportunidade? Estamos viajando juntos há vários dias!

- E durante esse tempo, quanto tempo você quis ficar do meu lado?

Ela abriu a boca para responder, e pareceu momentaneamente desconcertada.

- Você quem saiu marchando igual uma criança depois de dizer que eu deveria andar com os guerreiros da tribo Malo!

Eros passou a mão no cabelo, suspirando. A perda de sangue, a marcha acelerada por aquele lugar extremamente quente e a situação em geral trouxeram fadiga ao seu corpo.

- Me desculpe – Ele murmurou.

- E você acha que esse tipo de atitude faria... - Ela parou, o dedo em riste. Balançou a cabeça, parecendo confusa - Você... acabou de pedir desculpas?

Os lábios dele se levantaram, uma mistura de sorriso e careta. Seus homens estavam em estado de alerta máximo, do outro lado do pequeno acampamento que montara. Ele os observou por um momento, distraído.

- Achei que deveria pedir desculpas – Ele segurou sua mão suavemente e a puxou até estar sentada do seu lado – Pela cena no cercado e pela briga na tenda. Mas não vou pedir desculpas por me manter distante.

Ela ficou em silêncio por um momento, parecendo perturbada.

- Me desculpe também... por ficar sempre furiosa com você.

Ela encarou seu perfil, cheio de sombras à luz da fogueira que fizeram. Sua capacidade de ser vulnerável a surpreendia mais do que seu gênio explosivo e impetuoso.

Ele olhou para as mãos de ambos, pensativo.

- Eu encontrei a carroça quando vocês foram sequestrados. Nicholas e eu havíamos saído para procurar uma galinha que Nicholas havia visto antes dos homens da tribo Malo chegaram. Seguimos vocês até o limite da fronteira e esperamos a primeira oportunidade para atravessar o paredão. - Ele brincou com os dedos dela e Yanka sentiu o coração acelerar. - A primeira oportunidade foram dois homens levando uma carroça... Nós os abatemos junto com os guardas, mas quanto mais arrastávamos a carroça, mais eu desconfiava de que algo estava errado.

- Nicholas sabe? - Ela sussurrou.

Eros balançou a cabeça.

- Achei que ele se concentraria melhor no resgate se não soubesse. - Eros sorriu tristemente – Ele tem dois filhos, pequenos pestinhas barulhentos e Nicholas morreria e mataria por eles.

Yanka apertou seus dedos, solidária. Fora rápida em ficar com raiva dele por esconder o segredo, mas ele estava levando o peso daquele segredo sozinho, com medo de sobrecarregar os outros.

- Como... elas estavam?

Eros demorou a responder. Ao longe, um pio de coruja anunciou a chegada da meia noite. O anel espesso de homens da tribo Yeta se remexeu.

- Mortos. Cada um deles. Marcados como animais. - A voz dele vacilou. - De todas as guerras das quais eu já participei e de todo o horror que eu já vi, esse com certeza foi o mais medonho.

Yanka baixou a cabeça para esconder as lágrimas.

- Aquele que nos abordou é o líder da tribo. Seu filho sumiu também, e usava uma pulseira igual a que você trouxe.

O despertar de CatiOnde histórias criam vida. Descubra agora