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Eros amanheceu de mau humor. Depois de toda a conexão que tivera com Yanka na noite anterior, de ter chorado, desabafado e criado uma conexão entre os dois, mesmo assim ela havia dormido lado a lado com o guerreiro Wattu. A tenda grande, que abrigava todos da tribo nômade, fora dividida para abrigar todos os filhos daquela terra, e uma parte para Eros e seus homens.

Ele passara a noite inteira acordado se remexendo, pensando se deveria simplesmente se levantar e ir socar aquele homem desprezível.

Por que ele achava que tinha o direito de dormir ao lado dela? Por que ela permitia? E se...

Tenente Gleitor chegou esbaforido. Eros estava fazendo o desjejum com o resto da tropa, mas isso não impediu de fuzilá-lo com os olhos.

- Lá... – Ele apontou para trás da tenda e se inclinou em busca de ar – Lá atrás...

Catri lhe deu um tapa forte das costas e Gleitor se engasgou.

- Desembucha homem, ou Eros vai te matar aqui mesmo!

Gleitor engoliu em seco.

- Lá atrás, yanka e o guerreiro estão tentando domar os animais...

Eros já estava em pé antes mesmo dele terminar a frase. Marchou decididamente até o lugar, encontrando um cercado construído às pressas na parte posterior da tenda.

Yanka estava lá, rindo com o cara de cavalo enquanto se revezavam para chamar a atenção do antílope.

Um antílope não. Seu bison.

Eros bufou. Como ousavam fazer uma cena na frente de seu animal?!

Ele pulou para dentro da cerca e puxou Yanka pelo braço bem na hora em que o animal passava por ela.

Seu sorriso sumiu lentamente quando encarou a cara fechada de Eros.

Ele a levantou facilmente e a colocou do outro lado da cerca.

- Você fica aí – Apontou para o chão em frente os pés dela. Yanka cruzou os braços.

- E por que acha que eu iria ficar aqui?

- É meu animal – Ele fez uma careta – Portanto eu vou domá-lo.

- Tem certeza? - Ela provocou.

- Absoluta.

- Então que tal começar sobrevivendo?

Eros desviou bem na hora em que o animal bateu na cerca, no lugar onde estava.

Encarou o guerreiro Wattu na outra ponta do cercado. Ele estava com o peito nu, o tapa olho reluzindo ao sol. Por um momento, Eros se perguntou por que ele sempre o usava, mas logo foi distraído pelo corpo forte, esbelto e alto dele. Eros bufou, tirando a camisa. Ele também era forte. E alto.

O guerreiro chamou o animal, esperou para desviar bem na hora que ele passou, e montou em seu lombo num pulo. O animal escoiceou, berrou e no fim o homem caiu com uma cambalhota graciosa. O público que se ajuntava do lado de fora da cerca, aplaudiu, animado.

Eros quase enlouqueceu quando o homem fez uma mesura debochada para ele. Ele já montara o bison, por isso seria muito fácil domá-lo, até porque ele tinha experiencia com os cavalos selvagens da sua terra.

Chamou o animal, de forma bem menos habilidosa que o guerreiro e subiu em seu lombo quando ele passou correndo.

Assim que montou o lombo do animal, ele pulou e Eros teve que agarrar seu pescoço para se manter no lugar. Diferente de quando montara nele enquanto o animal fugia, quando a prioridade dele era salvar sua vida, agora o bison queria simplesmente matá-lo, pulando, escoiceando e mugindo. Eros se viu deslizando e nem seus poderosos braços conseguiram mantê-lo no lugar. O animal se lançou contra a cerca, batendo seu corpo e o de Eros violentamente. Quando seus braços falharam, ele caiu e teve que rolar para não ser pisoteado pelo animal.

A partir daí, mesmo seu árduo treinamento físico não foi suficiente para enfrentar o animal e Eros fez a única coisa que pôde fazer: correu. O animal partiu atrás dele, enlouquecido, lhe apontando os chifres. Enquanto corria dele, as pessoas ao redor riam, divertidas. Vislumbrou do outro lado da cerca Catri agachado, chorando de rir, e Tiro gargalhando deitado. Nicholas escondia um sorriso na mão e mesmo os mais sérios riam dele.

"Vou punir todos eles", Eros pensou, se jogando na cerca e caindo do outro lado com um baque surdo e doloroso.

Permaneceu no chão, ofegando.

Por todos os deuses gregos, aquele era o animal mais selvagem que já vira na vida. Com certeza seria mais fácil domar os leoes de Yanka, do que montar o bison.

O guerreiro Wattu surgiu acima dele, de cabeça para baixo.

Com um sorriso, ele apontou para Eros, sorriu e falou na língua dele, com o sotaque carregado.

- Homem... bunda mole.

E saiu rindo. Eros socou o chão repetidas vezes.

"Me aguarde", pensou.

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Eros estava carrancudo enquanto seus homens seguravam as risadas ao seu redor.

Nicholas passava um emplastro em suas costas, que fedia muito. Ele finalizou com um tapa em cima do machucado que Eros ganhara ao cair, e ele se encolheu.

Yanka entrou na tenda, com cara de poucos amigos.

- Seu objetivo é virar um retalho humano de machucados? - Ela soltou, veneno na voz. Antes que Eros pudesse responder, ela se virou tensa para a tropa e continuou – Estamos partindo. Arrumem suas coisas.

No momento em que ela lhe deu as costas, Eros pulou na sua frente.

- Ensinou minha língua para aquele guerreiro fedido?

Ela revirou os olhos.

- É um guerreiro Wattu, não guerreiro fedido.

- Ensinou ou não, Yanka?!

- Sim, ensinei! Disse a ele que você é o homem mais bunda mole que já encontrei na minha vida, por quê?!

- Esse homem bunda mole salvou sua pele muitas vezes! - Ele gritou, chamando a atenção de pessoas que passavam.

- Esse homem bunda mole tentou domar um animal selvagem e passou a maior vergonha que conseguiu, e agora eu, você, e todos esses homens somos chamados de "Os grandes covardes"! - Ela cutucou seu peito diversas vezes, completamente furiosa.

Eros botou as mãos na cintura, arreganhando os dentes.

- Só porque eu tentei montar o meu bison?!

- O seu o que?!

- Bison!

Yanka o olhou por um segundo como se visse uma miragem no meio do deserto. Logo em seguida ela explodiu em uma gargalhada sádica.

- Bison?! Não seria bisão?

Eros revirou os olhos e lançou as mãos para o alto.

- Você, a toda poderosa Yanka, consegue ensinar minha língua para um guerreiro aleatório, mas só consegue zombar de mim quando tento falar algo na sua língua! - Ele chegou bem perto do rosto dela. A mulher conseguia ser linda até mesmo brava, os olhos escuros fixos nos dele – Então ande com ele, já que você faz tanta questão de mantê-lo por perto.

E saiu da tenda, um furacão em forma de homem.

Seus homens o seguiram em silencio e se puseram a organizar as coisas para a viagem. Armazenaram carne seca, água e se cobriram para enfrentar o calor daquela terra inóspita.

Com um último olhar para o acampamento, ele subiu a colina para esperar o começo da marcha, tentando não pensar que sua raiva não tinha nada a ver com o guerreiro tê-lo chamado de bunda mole.  

O despertar de CatiOnde histórias criam vida. Descubra agora