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- Foi há muito tempo atrás, quando eu ainda era uma criança brincando nas forjas – Kaiko contou, olhando para as pessoas silenciosas ao redor da fogueira. Haviam parado depois do anoitecer em uma reentrância do penhasco, e fizeram uma fogueira para ouvir a história de como Kaiko fora marcado. - Meu pai foi um excelente ferreiro e me ensinou muita coisa. Um dia, um velho apareceu e me disse que tinha um brinquedo de ferro que ninguém tinha. Eu o segui, porque sempre amei tudo que envolvia a forja.

- O que... aconteceu? - Yanka murmurou. Kaiko deu de ombros, o olhar perdido no passado.

- Não me lembro muito bem. Os mais velhos da tribo dizem que me acharam muito longe de casa, semanas depois. Quando me encontraram, acharam que eu estava morto. Correram comigo para a tribo Saqua, e Bumbo me salvou.

- Então a Bumbo sabe? - Sussurrou Yanka. Ele assentiu.

- Eu procuro esse homem há muitos anos. No início, conseguimos manter tudo em segredo. As coisas ficaram calmas por muitos anos, então até mesmo eu comecei a achar que talvez tivesse ficado louco e inventado tudo – As mãos de Kaiko se retorceram em punhos apertados e Yanka pôde ver a dor em seu olho bom. – Mas...

- Aquilo aconteceu com minha tribo.

Kaiko balançou a cabeça.

- Tem mais, Yanka.

- Mais? - Ela parecia confusa.

- Há anos nós enviamos caravanas em buscas de respostas. Algumas voltaram com provas, outras... não voltaram.

O peso das palavras de Kaiko fez a tensão aumentar mais ainda.

- Então... - Eros falou, no limite do círculo, atraindo atenção. - Basicamente o que aconteceu com a tribo de Yanka aconteceu com você a muitos anos, e continuou acontecendo em pequenas escalas até hoje.

Kaiko assentiu.

- De todas as pessoas que foram encontradas com os símbolos, a tribo Catri foi a primeira a apresentar servidão, e a primeira a entrar em um sono profundo. Todos os outros morreram, exceto eu.

- O segredo é só achar essas pessoas e saberemos o que aconteceu? - Tiro perguntou, os olhos arregalados.

Catri lhe deu um tapa dolorido na nuca.

- Mas não sabemos quem são, onde estão e o que fazem. Não sabemos nem porque estão fazendo isso! É por isso que estamos aqui, em buscas de respostas.

- Vocês descobriram algo? - Eros perguntou a Kaiko.

- Algumas coisas, mas poucas e isoladas o suficiente para não conseguirmos montar o quebra cabeça.

Yanka baixou os olhos, uma lágrima escorrendo lentamente. Uma tristeza profunda pelo passado de Kaiko e pela sua tribo adormecida a dominou. Quem quer que fosse aquelas pessoas, ela sentia que sua ambição era bem maior do que dominar uma tribo.

Kaiko estendeu a mão para enxugar suas lágrimas, mas Yanka empurrou suas mãos. Do outro lado da fogueira, ela cruzou o olhar com Eros.

Ele não se moveu para confortá-la, se limitando apenas a sustentar seu olhar, silenciosamente. Yanka sentiu o coração grato pela força que viu em seus olhos e pela liberdade que ele lhe dava em ser ela mesma, de fazer qualquer coisa e de tomar qualquer decisão.

- Yanka, não precisa ficar tris...

Kaiko se calou quando ela lhe lançou um olhar duro. Ela se levantou, a raiva lhe movendo.

- A partir de agora, eu, Yanka da tribo Cati, estou colocando regras. Toda e qualquer informação deve ser compartilhada, inclusive tudo o que você sabe, Kaiko – Ele abriu a boca para protestar e ela o cortou. - Isso não foi opcional. Envolve minha vida e a vida da minha tribo, portanto ou você entra nessa jornada conosco, ou pode seguir seu caminho.

O despertar de CatiOnde histórias criam vida. Descubra agora