Os pensamentos complexos de uma garotinha

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texto em itálico são pensamentos

palavras em negrito são enfáticas na entonação

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Os pensamentos complexos de uma garotinha

Enquanto isso, no "outro lado do mundo", um mutante totalmente azul e peludo estuda atenciosamente uma pequena garotinha:

- Tente ficar quieta, Clarisse! – Hank tenta dar bronca, mas com um "sorriso" na voz – Desse jeito não consigo colocar os medidores...

- Mas Hank! Isso faz cócegas! Aposto que se fosse com você, também ia sentir! Não ia? – gargalhando bem gostoso!

Quando finalmente termina de colocar os medidores, Hank apenas diz para que ela converse com ele, sobre o que ela quisesse:

- Ah! Isso vai ser legal! Eu queria conversar sobre o que o senhor Logan estava me contando! Ele falou de um tempo onde todos vocês tinham que lutar contra vilões pra provar que os mutantes não eram maus, é verdade?! – com os olhos faiscando de curiosidade – Eu tento falar com a minha mãe sobre isso, mas ela sempre fica triste, daí eu paro... Não gosto de deixar ela triste, Hank! – passando a mão no ombro dele pra sentir os pelos e balançando as pernas pra frente e pra trás.

O velho mutante sorri como quem recorda boas batalhas e começa:

- É verdade, Clarisse! Foram tempos gloriosos! E o único fato de sua mãe não querer conversar sobre isso é por ter sofrido muito naquela época, pois amava seu pai e não tinha como estar com ele... – seus olhos perdem um pouco o foco, seu semblante muda e um suspiro escapa involuntariamente.

- Hank, aposto como ela não teve escolha! – parando de balançar as pernas.

- Ela quem, querida? – sorri, voltando à realidade.

- A pessoa que você sempre pensa quando faz esse olhar... Quem é ela, Henry?

A surpresa o pega, e os gráficos pulam nos computadores:

- Seu nome é Thish Tilby, ela é uma jornalista.

- Eu já a vi na tv! Ela é linda, Hank! E vocês iam formar um ótimo par, não acha?

- Nós já formamos, Clarisse. Já formamos... Mas nossos caminhos separaram-se quando ela não conseguiu entender meu zelo com relação aos problemas mutantes...

- Hank...

- Diga, anjo. – passando a mão no cabelo dela.

- O que é "zelo"? – piscando os olhos.

Antes de responder, o renomado geneticista solta uma gargalhada:

- É o mesmo que cuidado, que preocupação. Desculpe meu palavreado rebuscado, mas eu sou um amante dos livros e das citações de Shakespeare...

- E alguém que não consegue esconder quando não quer continuar um assunto, né?... Se não quiser, eu não falo mais.

- Não tem problema, pequenina. Existem coisas que nunca irão sarar, quer mechamos com elas ou não. Esse é um desses casos. Acho que o fato dela aparecer sempre na televisão reforça minha dor, contudo, não vejo um meio-termo para nós. A carreira dela vem em primeiro lugar e meu sigilo, como médico, vai de encontro a isso... Entende?

- Eu não entendo não, Hank... Sinceramente, esse negócio de gente grande que se gosta, mas fica longe não parece a coisa certa pra mim. Ou estão juntos e vivem brigando... Mas acho que é só por eu ser criança. Sabe, Hank, eu tenho medo de crescer e ficar como os adultos que vejo, sempre escondendo o que sentem e tratando mal aqueles a quem amam... Ou mesmo, como no seu caso, se tratando mal. Eu não quero crescer! – uma ponta de lágrima pode ser vista em seus olhos lúcidos.

- Não chore, pequena. Não foi para isso que eu te trouxe aqui, Clarisse. Acho que crianças não deveriam tentar entender os assuntos dos adultos, já que nem mesmo nós conseguimos fazê-lo! Não concorda? – abraçando-a.

- É... – enxugando as lágrimas e aceitando o abraço peludo – Você vai conseguir ajudar meus pais? Porque eu quero muito que eles fiquem juntos sempre!

- Sim, Clarisse, eu prometo fazer tudo ao meu alcance para ajudá-los. Afinal, de que adiantaria todo o meu estudo e tempo passado entre os livros se não for capaz de ajudar meus amigos quando eles mais precisam?! Agora – seu olhar estava vago – se me permite, gostaria de ficar sozinho por algum tempo, sim?

- Acabamos os testes? Eu falei alguma coisa que te chateou, Henry?... – parando de ficar espoleta.

- Acabamos sim. Acredito que com as respostas do computador conseguiremos descobrir que tipo de mutação você possui. – retirando os medidores. Assim que a segunda pergunta o atinge, uma expressão de espanto toma conta do mutante – Não! De jeito nenhum! Na verdade, a conversa que tivemos me reportou para tempos que pensei estarem enterrados para sempre. Renovou sensações e eu apenas não estou sabendo ao certo o que fazer com elas... Mas nada do que dissemos me chateou, Clarisse! Desde a primeira vez que nos falamos, fiquei encantado com a sua capacidade de conversação e com a capacidade de descobrir os assuntos que estão no fundo de nossa alma. E foi exatamente isso que você fez, me trazendo boas recordações. – segurando-a por debaixo do braço e colocando-a no chão.

- Eu acho que as boas recordações são partes integrantes da gente, Hank! E o que fazemos delas é o que mostra ao mundo o que somos. Eu vejo que o senhor Logan tem muitas recordações ruins, mas ele não se apega nelas e, por isso, vive a vida tão bem; diferentemente da minha mãe... – andando com pressa para a porta, depois de dar um beijo estalado no rosto do geneticista.

Hank não pode deixar de pensar na grande verdade proferida pela pequena naquelas poucas palavras e elas o impelem a varar a noite tentando achar uma forma de trazer a felicidade de volta ao casal LeBeau. Foi até a cozinha e muniu-se de vários sucos e sanduíches, além de suas lembranças sobre os bons momentos passados com Trish. Seria uma longa noite...

Wolverine - Momentos da VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora