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— Bom... Você quer saber algo específico?

— Podemos começar com o porquê de "você ser relaxada"?

— Ah, isso é simples. Eu sempre fui meio Tomboy sabe? Sempre gostei de usar calça, principalmente as larguinhas, camiseta, tênis. Nunca curti vestidos e saias. Minha mãe me criticava muito por isso e quando eu tinha meus 7 ou 8 anos, eu até obedecia quando ela falava para eu me vestir "mais como uma menina", mas depois de uns anos eu simplesmente parei de me importar com os comentários dela. Mas ela sabia me irritar bastante e sempre foi bem LGBTfóbica, então eu fui pegando raiva dos comentários, mesmo sempre os ignorando. Fazer o que né?!

Irene deu de ombros e mordeu o lábio, lembrando dos momentos ruins que teve com sua mãe.

— Bom, obrigada por me contar, mas se te traz sentimentos ruins, você não precisava ter falado. 

— Você é minha namorada, tem o direito de saber. E tanto, eu confio em você.

Irene sorriu para ela. Elas então se deitaram e assistiram a um filme antes de dormirem abraçadas.
      No dia seguinte, elas decidiram aproveitar o último dia que ficariam em Recife, então foram à praia, almoçaram camarão, tomaram sorvete e aproveitaram a tarde na cidade, comprando lembrancinhas e outras coisas. A única coisa que elas não esperavam, a coisa mais improvável que poderia acontecer realmente aconteceu, logo que elas se levantaram do banco que estavam sentadas para dar uma caminhada. Irene avista sua mãe e a reconhece na hora, já que ela não havia mudado em nada, a não ser as linhas de expressão.

— Irene?

— Íris, vamos embora — ela disse, logo puxando o braço de Íris.

— Filha, aonde você vai? Não vai nem dizer um oi para sua mãe? 

— Mãe? — disse Íris, logo olhando de uma para outra.

Irene endureceu o rosto e ficou com o corpo tenso, já prevendo o que estava por vir. Ela deu um sorriso debochada e uma risada sarcástica para a mulher que a observava.

— Mãe? —  ela riu e revirou os olhos —  Acho que perdeu esse direito a 9 anos atrás.

Giovanna, a mãe de Irene, fechou um pouco a cara.

— Você nunca vai me perdoar?

— Não, e você não vai me chamar de filha, já que você não é minha mãe. 

— Se não sou sua mãe, então eu sou o quê?

Irene riu de modo sarcástico de novo, uma risada curta e sem graça alguma, apenas raiva e ressentimentos dominando seu coração.

— Apenas...

— Apenas o que?

— Apenas a puta que me pariu. —  ela sorriu de lado, ao ver Giovanna perder a calma e morder os dentes. Nessa hora, a mulher foi para mais perto de Irene, que não recuou e ficou cara a cara.

— Ficou maluca? Falando assim comigo! Quer levar um soco?

— Vem se for capaz. Aposto que você desiste no meio, assim como fez comigo e com meu pai. 

A mulher se segurou com toda a força que existia em seu corpo e apenas apertou as mãos, deixando marcas de unhas nas palmas, que já estavam em punho, mas pela culpa ela respirou fundo e se acalmou, se afastando de Irene. Íris segurou no braço de Irene, a fazendo recuar. Giovanna percebeu que a garota acalmava Irene e, curiosa, perguntou.

— Quem é ela? — disse e apontou com a cabeça para Íris.

Irene olhou para a mulher como se pudesse atirar adagas apenas com seu olhar. 

— Minha namorada, porquê? Vai querer me dizer o que posso ou não fazer, como fazia antes?

A mulher observou as duas em silêncio, decepção brilhava em seus olhos.

— Parece que a doença passa pela genética. É realmente triste.

— Só se tiver vindo de você. Aí eu concordo.

Íris estava tensa. Nunca ficava confortável com discussões e brigas. Ela chegou mais perto de Irene e disse, o mais baixo que conseguiu naquele momento.

— Vamos embora.

Irene olhou para ela, percebendo que ela estava desconfortável, então deu um sorriso pequeno apenas para ela.

— Vamos. Passei tempo demais discutindo com uma pessoa que não vale a minha saliva gasta.

Irene então pegou a mão de Íris e deu uma última olhada na mulher que lhe deu a vida.

— Até nunca mais.

E foram para o lado oposto.

...

Quando já estavam de volta ao hotel, elas deixaram as sacolas em cima da cama e decidiram por seus biquínis e relaxar um pouco na piscina. Íris ficou matutando aquela cena toda na cabeça, mas ainda não fazia sentido tudo o que aconteceu, as peças não encaixavam. Então olhou para Irene que estava de olhos fechados e com os braços apoiados na beira da piscina, com a cabeça para trás encostando na pedra, sorrindo enquanto absorvia a luz do sol, relaxada. Íris lambeu os lábios e falou.

— Eu não gosto muito de falar palavrão e tals, mas o que caralhos foi aquilo? 

Irene levantou a cabeça e a olhou, suspirando em seguida, já que sabia que teria que explicar mais do que gostaria de explicar.

Uma Mesa Para Duas • ⚢ •Onde histórias criam vida. Descubra agora