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Na manhã seguinte, Íris acordou primeiro e de bom humor, indo logo fazer o café da manhã. Irene poderia comer quando acordasse. Afinal, hoje ela iria fazer o trabalho remoto e Íris estava torcendo todos os seus dedos do pé e da mão para sair mais cedo e poder passar mais tempo com Irene. Talvez saírem para se divertir. Ela sentia falta disso, mas do que gostava de admitir para si mesma. Era difícil trabalhar e não poder passar todo o tempo que geralmente passava com a pessoa que ama. O relacionamento parece até mais frio, mesmo que ambas as partes se tratem bem. É claro que Íris não achava que morar junto da namorada seria um mar de rosas, mas... Meio que não esperava essa rotina fria. Irene sempre gostava de surpreendê-la, mas parecia esgotada nos últimos tempos. Já fazia até duas semanas que nenhum toque mais íntimo acontecia entre elas. E nisso, começava as inseguranças de Íris.
"Será que ela já não me ama mais?" e "Será que é porque nos vemos todos os dias? Eu deveria me afastar também? Mas acho que ela não faz de propósito. Com certeza não... Mas então porque será que ela parece tão distante? Será que encontrou alguém mais interessante? Não! Pare com isso, Íris! Ela só está cansada do trabalho, só isso!...".
Irene não demorou a aparecer e se apoiar no balcão, esfregando os olhos, ainda sonolenta.

— Bom dia amor! Dormiu bem? — disse Íris, apesar de já saber que a resposta demoraria a vir.
Irene era um verdadeiro bicho preguiça de manhã, demorava a abrir os olhos, a levantar e mais ainda a falar. Comer dependia do dia. E, como premeditado, Irene apenas de sentou na cadeira e respondeu o seu "Bom dia" depois de dez minutos que Íris fez a pergunta.

— Quem te vê assim, nem acredita que você é tão disposta na cama.

— Lógico. A cama é meu habitat natural. — respondeu Irene, já que não conseguiu se contar. Íris sabia que se a provocasse, arrancaría uma resposta certeira, e não foi diferente. Irene podía ser lerda e preguiçosa, mas duas coisas que sempre estavam na ponta de sua língua: respostas sacanas e piadas. A verdade é que Irene flerta por diversão, um passatempo habitual que não conseguia arrancar de si mesmo se quisesse, e ela não queria. Além de sempre ter uma resposta na ponta da língua, o que já tinha metido-a em certas... Confusões. Ela as vezes odiava o fato de ser tão impulsiva, mas era irremediável. Já tentou melhorar nisso e tudo o que conseguiu foi um filtro mental para saber o que falar com as pessoas, mas ainda era difícil para ela se conter.
    Elas tomaram o café juntas e Íris saiu mais cedo, dizendo que talvez a chefe a deixaria sair mais cedo se chegasse mais cedo. Irene deu um beijo carinhoso de despedida e fechou a porta assim que a viu entrar no elevador. Bem que ela queria levar Íris de moto até o escritório, mas ela havia proibido a ideia. Por ter sido sempre muito dependente de companhia o tempo todo, Íris se apegou ao trajeto independente até seu estágio. Irene não queria que ela fosse sozinha, mas ela insistia. Então o que poderia fazer, não é mesmo? Caminhou até a escrivaninha e se sentou, estralando os dedos como o habitual e abrindo seu e-mail para começar o trabalho.

Íris mordiscava a unha pintada de turquesa enquanto estava esperando o trem chegar. Ela não sabia quem era o número desconhecido que vira no celular de Irene, mas adicionara em seu telefone e chamou a pessoa. Ela era ciumenta sim e odiava ter de admitir, mas sua insegurança não permitia que ela confiasse 100% em Irene. O que ela sabia ser errado, principalmente considerando que quem traiu quem anos antes foi ela... E não foi bem uma traição, já que elas não estavam tendo nada. No caso de seu ex, Sebás, realmente ela o tinha traído e não se orgulhava disso. Mesmo depois de anos, ainda se sentia culpada, mesmo que tudo estava bem entre eles. Sebás ainda trocava mensagens com ela vez ou outra e estava bem melhor que antes, trabalhando e terminando a graduação em odontologia, o que foi irônico já que ele tinha passado em Educação Física, e com um namorado. Íris queria marcar para reencontrá-lo e tomarem um café juntos os quatro, mas suas rotinas agitadas nunca deixavam o encontro acontecer.
"Quem sabe quando meu estágio acabar e ele terminar o dele? Talvez podemos até fazer um encontro de casais... Se a Irene concordar, claro" pensou ela até ouvir o som agudo de aviso que as portas estavam se abrindo. Mais uma estação apenas. Ela sentiu o celular vibrar e o pegou rapidamente, vendo ser a resposta do número desconhecido.

<Quem sou eu? E por que seria do seu interesse?>

Ela digitou a resposta tão rápido que seus dedos doeram.

>Por que você mandou mensagem para minha namorada.<

<Sua namorada? A Irene? KKKKK>

>Rindo do que?<

<Nada demais. Só não acredito que você caiu no papo dela. Coitadinha de você.>

Íris engoliu em seco e com os dedos frios, digitou.

>Como assim?<

<Aguarde mais uns dias e você verá. Ela está te iludindo. Meu aviso está dado>

Ela bloqueou a tela e mordeu a unha, nervosa. Claro que não iria acreditar numa baboseira dessas! Não havia motivo para acreditar no que um número aleatório falaria sobre sua namorada, era ridículo! Não teria o porquê de acreditar em uma baboseira assim...

Uma Mesa Para Duas • ⚢ •Onde histórias criam vida. Descubra agora