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Nyx foi quem falou dessa vez.

— Ontem, enquanto você estava bebendo e chorando e me contando tudo o que aconteceu com detalhes que eu sinceramente não precisava saber, mas não me neguei a escutar... A sua namorada, ou ex, ou sei lá, te ligou e antes que você pudesse fazer besteira, Maitê pegou o seu celular e atendeu fora do bar.

— Ela estava claramente bêbada — continuou Maitê — e disse que não podia viver sem você. Eu falei que era eu e que você estava meio "alta" então que eu tinha atendido, e nisso ela pediu que eu te dissesse o seguinte — Maitê desdobrou um papel pequeno e leu o que estava ali — "Eu estava muito insegura, com medo de te perder. A sua ex colocou umas paranoias na minha cabeça, é verdade, mas algumas das minhas inseguranças já estavam lá a algum tempo, mas eu só tinha medo de colocar tudo o que eu sentia para fora e você acabasse se sentindo culpada por não ter me dado confiança o suficiente. No final, acabei te magoando e realmente sinto muito. Não é a primeira vez que eu te magoo e vou entender se você não quiser mais olhar para minha cara, mas eu preciso te dar algo antes que tudo se acabe de vez. Quando vocês voltarem da sessão, por favor, me procura." Isso foi o que consegui anotar, ela fala muito rápido quando está bêbada.

Irene deu um sorriso triste e concordou.

— E depois? Ela desligou?

— Na verdade, depois disso, ouvi duas vozes masculinas dando bronca nela por ter mexido no celular. Ele pediu desculpa e pediu que eu não te contasse por que sabia que você não gosta dele, mas...

Nessa hora, o maxilar de Irene trancou e suas narinas dilataram pela raiva que estava sentindo. Nyx e Maitê se entreolharam e seguraram os pulsos de Irene, para que ela se acalmasse. 

— Era o Sebastian, não era? — ela disse, com a voz controlada, mas os olhos brilhavam de raiva.

— Irene, se acalma. Eu nem terminei de contar.

— Então termina! Assim posso decidir se mato ele hoje ou na semana que vem. — ela quase bufava.

Maitê sabia bem do histórico de brigas deles, por mais que não esteve presente nas ocasiões. Ela era vizinha de Sebás e uma das amigas mais antigas dele, então ouvia tudo em primeira mão.

— Se acalma primeiro. Ele só foi ajudar a Íris e nada mais, inclusive foi com o namorado.

— Namorado? — Irene disse, agora com menos raiva.

— Sim, eles estão juntos desde o ano passado. 

— Como você sabe?

— Sou amiga e era vizinha dele. Eu sei quase tudo sobre a vida dele. Incluindo por isso viemos para cá. Nyx é... próxima dele e ele recomendou nossos serviços para ela, que falou de nós para a irmã... — Vendo que Irene estava mais calma e confusa, decidiu continuar — Agora, terminando sobre a ligação. Sebás pediu que eu não contasse que eles estavam com a Íris por que você ia surtar, mas achei que você merecia saber. Enfim, perguntei quando ele voltou pra nossa cidade e o porquê, ao que ele falou que a Íris tava bem mal e como ele estava de férias do consultório e o namorado também, então ele ficou de boa em viajar por alguns dias. Eles estavam pensando em combinar de vocês fazerem um encontro de casal, vocês quatro, até que vocês brigaram e tudo aconteceu. Então eles levaram ela para sair, tentar se divertir, mas ela estava se sentindo tão culpada por ter "falado aquilo" para você — ela fez as aspas com os dedos das mãos e deu de ombros, demonstrando que não sabia o que isso significava. Mas Irene sabia — Enfim, ele disse que ia levar ela para a casa da mãe dela e tentar alguma outra coisa hoje, caso você não a perdoasse ou não quisesse vê-la.

A cabeça de Irene estava a mil, pensando em tudo o que Íris disse e tudo o que aconteceu. Nyx percebeu que ela ponderava e perguntou, preocupada.

— Você vai ir ver ela, né?

Irene levou alguns segundos para pensar e suspirou.

— Eu não sei. Não quero que nenhuma de nós se machuque mais. Estou tão cansada de ser acusada ou machucada por ela sabe, às vezes considero esquecer tudo o que tivemos e seguir em frente...

Ela colocou as mãos no rosto e puxou o cabelo para trás com as mãos, enquanto lágrimas de frustração e tristeza começavam a cair. 

— Mas eu não consigo! — disse com a voz embargada.

Nyx se levantou e se ajoelhou ao seu lado, a abraçando, e Maitê pegou sua mão com força. Como Irene sabia que Maitê não era uma pessoa de muita aproximação física, então se contentou com o aperto da sua mão, ao que deu um pequeno sorriso para ambas. Se acalmou um pouco e continuou.

— Eu a amo demais, então sempre que penso em não ver ela nunca mais, meu coração se parte em mil pedaços. Eu sei que sou muito trouxa, não é a primeira vez que ela me magoa, mas...

Nyx pegou seu rosto e olhou bem no fundo dos seus olhos.

— Você não é trouxa, você a ama. Se ela também te ama, vai pedir desculpas por mil dias e noites seguidos se achar necessário até você perdoá-la, sabe por quê?

Irene balançou a cabeça, com algumas lágrimas ainda no rosto. Nyx limpou-as com os dedões e continuou.

— Porque quem ama não desiste. Assim é o amor. Tentar de novo e de novo. O amor não é perfeito, assim como nós não somos, e é por isso que precisamos amar, é o mais perto de algo perfeito que sentimos que somos capazes de ser, e aí vem a luta. Então lute, se você a ama de verdade, lute! Ela fará o mesmo por você. 

Irene ficou tão emocionada pelo que Nyx disse que voltou a chorar e se levantou, chamando as duas para um abraço, que obviamente foram para os braços abertos da garota. 

— Obrigada meninas, de verdade.

E elas continuaram abraçadas por mais um bom tempo.

Uma Mesa Para Duas • ⚢ •Onde histórias criam vida. Descubra agora