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Quando Irene chegou no apartamento depois da viagem, estava exausta. Maitê perguntou se queria que ficasse lá junto para lhe fazer companhia, mas ela negou. Queria apenas ficar no silêncio do seu "lar, não tão doce, lar", até porque precisava pensar. Pensar se iria falar com Íris. Não havia esquecido o conselho de Maitê de ter um tempo para si antes de voltar a pensar em seu relacionamento bagunçado. Então decidiu que iria tomar um banho, relaxar um pouco, fazer uma besteira para comer de almoço, maratonar alguma série e depois ver isso. Iria aproveitar sua própria companhia pela primeira vez em anos. Então largou a bolsa e os sapatos na sala mesmo, foi para o banheiro e tirou a roupa, colocando algumas músicas animadas para tocar e dançando e cantando como se nada no mundo importasse.

O que Irene não notou é que alguém havia estado ali antes dela. 

...

Enquanto isso, Íris pegava seu celular e discava o número de Maitê, que não demorou a atender. Ela explicou tudo e Maitê pareceu aliviada e aceitou ajudar, ao que Íris agradeceu e adicionou-a ao grupo que havia montado, para assim todos ficassem cientes e ajudassem como podiam. Íris então escreveu no grupo:

<primeira fase concluída, só espero que ela veja né>

Todos enviaram mensagens de surto e confirmação. Agora, só restava esperar.

...

Irene vestiu apenas seu roupão peludo e foi até o sofá, se jogando no mesmo, e ligando a tv. Ficou assistindo e procrastinando um tempo, mas sabia que tinha trabalho a fazer e não poderia adiar por muito tempo, então gemeu e foi se arrastando até seu escritório. Sentou-se em sua cadeira e estava entediada, até que notou que havia algo de errado. Ela cerrou as sobrancelhas e afastou a cadeira, olhando a mesa de longe para tentar descobrir o que havia de diferente. Analisou cada ponta, cada caneta, cada post-it, mas só quando notou a caneta de golfinho fora do lugar que percebeu que alguém havia mexido na mesa. E se alguém mexeu, alguém entrou. 

Irene se levantou na hora, diminuiu a respiração para ver se ouvia passos ou qualquer outra coisa que indicasse que havia alguém ali. Como não ouviu nada, começou a andar pela casa a "passos de gato", vendo se mais algo havia sido mexido. Quando entrou em seu quarto, notou o caderno em cima dos travesseiros.
Conhecia muito bem aquele caderno, já que ela e Íris o haviam montado, mas já fazia tantos anos que o vira pela última vez que achava que o tinha perdido durante a mudança para o apartamento. Irene sentou-se na cama e tocou na capa, apreciando a textura do papel e depois tendo um arrepio agoniado. Ela esqueceu que tinha agonia à textura daquele tipo de papel. Abriu-o e começou a folhear, olhando foto por foto, além de passar pelo desenho que Íris fez dela durante a viagem para Porto de Galinhas, o que a fez lembrar da foto Polaroid em sua carteira. Então fechou o Scrapbook e suspirou, já entendendo aindireta de que Íris queria conversar. Quando ela queria pedir algo, ela fazia alguma das comidas preferidas da Irene e tentava de tudo para agradá-la, então Irene já sabia seu modo sútil de "fazer carinha de cachorro pidão". 

Mas será que Irene queria conversar? O que Íris disse criou uma rachadura em seu coração e que não iria se curar tão fácil. Então decidiu que mandaria mensagem apenas. Pegou seu celular, abriu o contato e começou a digitar.

>Eu vi o Scrapbook.<
>Mas n tô ainda no clima de conversar.<

Depois saiu do aplicativo e bloqueou a tela, deitando na cama e suspirando alto. O que ela queria? Ela nem sabia mais! O que faria? Perdoaria Íris? Ou terminaria tudo com ela, torcendo para ter feito a escolha certa? O que fazer.... Qual a melhor escolha...

...

Íris leu a mensagem e seu sorriso implantado até aquele momento começou a se desfazer, mas ela não reclamou, sabia que era justo que isso acontecesse, afinal ela realmente a magoara dessa vez. Mas não desistiria tão facilmente! Algo que ela percebeu depois de sair do seu apê e ficar aquele tempo longe de Irene é que nunca mais queria ficar longe dela. O nível de saudade que sentia era o suficiente para agarrar nela e nunca mais soltar, num nível carrapato mesmo! Mas queria deixar que ela viesse a sua procura quando estivesse pronta, então respondeu apenas:

<Tudo bem, quando você estiver pronta, sabe onde me procurar>

Enviou e bloqueou a tela, com o coração meio decepcionado, mas sempre esperançoso. Ela não demorou a ir jantar e depois decidiu maratonar o restante de She-ra que faltava. Quando terminou, tomou banho, colocou o pijama, se despediu de sua mãe e foi para seu quarto. Como sabia que não conseguiria dormir, foi continuar seu TCC, que naquele momento já estava quase terminado a primeira parte. Sua formatura seria no final do ano e todos já estavam super ansiosos, mas ela estava com a mente longe naquele momento e certamente não era na formatura. Não que ela não quisesse terminar a faculdade, já que isso era o que ela mais queria, mas era pelo fato de estar pensando muito mais no seu pessoal do que no profissional. Na real, ela sempre foi mais preocupada com que estava ao seu lado do que com o que ela iria exercer, já que Íris tinha uma mentalidade claramente hippie (de acordo com a própria). Se dependesse dela, ela viveria numa cabana no meio de uma floresta, vivendo do que plantasse e "vendendo suas artes", mas infelizmente não é assim que a vida funciona, para a total tristeza dela. Fato é, ela estava pensando no que fazer para recuperar Irene, como se desculpar com ela pela merda que fez, e ela já tinha algumas ideias. 

Uma Mesa Para Duas • ⚢ •Onde histórias criam vida. Descubra agora