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Irene decidiu que começaria contando sobre sua relação com sua mãe.

— Certo. Para começar, sei que você não me julgou quando falei tudo aquilo quando encontrei minha mãe naquela viagem, lembra? Lembra que estudei em um internato e quase fui expulsa?

Íris suavizou a expressão por não ter esperado por aquilo e balançou a cabeça, afirmando lembrar.

— Então. Eu não fui quase expulsa por acaso. Era um internato feminino, então rolava muita coisa entre as meninas de lá. Eu era uma pré-adolescente louca para experimentar a vida, mas nos dois primeiros anos apenas me comportei de boa sabe. Quando tinha 14 anos, no terceiro ano naquele internato e dois meses após minha "transformação", — disse Irene, fazendo aspas no ar com os dedos — chegou uma aluna nova. Ayla Ribeiro, se não me engano? Não lembro direito o sobrenome, mas não importa também.

Íris apenas ouvia atentamente. Não queria atrapalhar argumentando o fato de ela ainda lembrar o sobrenome da garota.

— Enfim, viramos melhores amigas. E nisso, numa noite, marcamos de ir no terraço que íamos para matar aula. Ela falou que precisava conversar com alguém. E claro, eu concordei. Para resumir, naquela noite perdi meu bv com ela num jogo. Depois disso, apenas nos aproximamos mais e mais. Enfim, começamos a namorar em segredo e até que durou bastante, considerando que era escondido. Nem nossos amigos sabiam. Mas com o tempo, fui percebendo que Ayla era diferente quando estava comigo e com os amigos dela. Ela dizia que era para continuar a manter em segredo nossa relação e tal, no começo até acreditei sabe. Mas aí não me aguentei e contei para nossa amiga em comum. Claro que ela ficou chocada, né.

Íris não se conteve e comentou.

— Por ela nunca ter visto nenhuma relação entre garotas.

Irene deu um riso sarcástico que fez Íris mudar a expressão.

— Quem dera tivesse sido isso. Mas a vida ela não esbarra em mim, ela me joga no chão com toda a força. A garota então, por gostar muito de mim, se arriscou e disse a verdade: "Olha Irene. Ela tava falando mal de você para nós. Ela disse que você é uma doida que fica perseguindo ela, mas como ela tem dó de você, ela não te enfrentou ainda", ou algo nesse sentido, já que faz muitos anos e não lembro exatamente as palavras. Nisso, eu caí na porrada com ela no meio do corredor e fui para a diretoria. Eu sempre ia por matar aula, não por briga. Eu sempre fui pavio curto, mas nunca tinha batido em ninguém. Ela foi minhas duas primeiras vezes hein — Irene disse, sarcástica. Íris nem se movia, a não ser pelo movimento da respiração e dos olhos — Não quero me estender muito, então falando por cima foi isso. Terminei com ela, fiz mais umas confusões, quase fui expulsa, meu pai me colocou na nossa antiga escola e foi basicamente isso. Mas como ela foi meu primeiro amor, aquilo me feriu profundamente sabe.

Íris finalmente começou a fazer as perguntas.

— Então quer dizer que você não está saindo com ela?

— Óbvio que não!

— Foi ela sua primeira vez transando também?

— Ah não. Na verdade, nem lembro da ocasião. Por isso quis fazer com você apenas se estivesse sóbria. É péssimo não se lembrar se foi bom ou ruim, ou se fui tratada bem ou não. Eu me lembro de quando nós... bem, você sabe. Meio borrado, mas lembro.

Íris afirmou com a cabeça, aliviada de Irene ter senso... Hoje em dia, pelo menos. Não que ela duvidasse do caráter de Irene... Mas, com toda a sinceridade, era difícil confiar 100% em Irene. Ela era impulsiva demais para passar a segurança que Íris queria tanto sentir.

O silêncio se instaurou por uns segundos até Íris lembrar da foto.

— E sobre a foto? O quem tem a dizer?

— Foi ela que moldou para parecer que estava rolando algo. Ela me chamou para ir até lá e eu achei que era para me pedir desculpas ou sei lá. Mas não, aquela vaca deu em cima de mim. Como eu sempre digo, as pessoas nunca mudam.

— E o abraço?

— Não foi um abraço. Ela se jogou em cima de mim. Eu empurrei ela um segundo depois. Eu não duvidaria se ela tivesse montado tudo isso só para nos separar. Ela nunca aceitou nosso término bem.

Irene deu de ombros e pegou a mão de Íris, que estava refletindo e ingerindo tudo.

— Você sabe que eu te amo, né?

Íris sorriu e assentiu.

— Posso voltar para o fogão agora? Já, já fica tarde para o almoço e você ainda precisa treinar os slides e treinar sua apresentação de hoje.

Íris tinha esquecido completamente da apresentação, então saiu correndo para pegar seu notebook enquanto Irene riu e foi de novo até o fogão e voltou a mexer na panela.

Uma Mesa Para Duas • ⚢ •Onde histórias criam vida. Descubra agora