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Íris ficou a maior parte do dia sentada em sua mesa, perto da arquiteta Clara, que havia aceitado-a para o estágio. Hoje ela teve que demonstrar suas habilidades nos softwares AutoCAD e REVIT, programas usados na arquitetura e construção civil para desenhar casas, edifícios e tudo o mais que se possa imaginar, desde o 2D até o modelo 3D. Duas horas após a hora do almoço, Íris já estava na estação de metrô, esperando para que pudesse voltar para casa.  Pegou o trem e se sentou em um dos bancos próximos, já que não havia quase ninguém. Para sua sorte, ela saía do estágio fora do "horário de pico", o que acabava sendo bom, considerando que ela não precisava ficar igual a uma sardinha na lata.
  Depois de cerca de meia hora de metrô, ela chegou na estação. Agora era mais uns 20 minutos de caminhada. Não era uma rotina fácil, mas era necessário e já estava quase acabando de qualquer forma. Quando abriu a porta, largou sua bolsa no chão e tirou os saltos. Íris odiava ter que usar saltos, apesar de se sentir empoderada por eles de certa forma. O único salto que ela aceitava de bom grado usar eram Anabelas, já que o salto macio não machucava seu pé e ela andava de forma mais confiante, mas para trabalhar no escritório, não era permitido saltos desse tipo, já que havia uma padronização. Ela entrou, fechando a porta atrás de si e a trancando, e foi tirar o uniforme social. 

— O dia que eu tiver meu próprio escritório, eu com certeza não vou padronizar uniforme.

Ela disse e colocou uma calça de moletom e uma camiseta de manga comprida, logo se jogando no sofá e sentindo como se nunca mais fosse levantar. Ainda era duas e quarenta da tarde. Esticou o braço para pegar o controle e ligou a TV, já pensando em assistir a série que vinha assistindo: She-ra e as Princesas do Poder. Íris nunca curtiu muito filmes ou qualquer coisa de super-heróis e temáticas parecidas, mas amava animações de qualquer tipo, então decidiu dar uma chance e até o momento não se arrependeu. Seu celular tocou, mas ela não ouviu por estar no modo silencioso.

Depois de duas horas seguidas assistindo She-ra e chorando de emoção, Íris ouviu a porta do apartamento se abrir e foi cumprimentar sua namorada, dando um beijo calmo na outra, que havia acabado de tirar o tênis do pé esquerdo e foi pega de surpresa enquanto tentava tirar o direito. Converse's são muito confortáveis e estilosos, mas os de cano alto dão um trabalhão para tirar. Ela se deixou distrair pelo beijo e embalou o rosto de Íris com as mãos. Quando se separaram, percebeu a cara de choro e franziu as sobrancelhas, preocupada.

— Está tudo bem?

— Sim, eu estava assistindo She-ra.

— Ah entendi. Sem spoilers hein mocinha, eu ainda não terminei a terceira temporada.

— Eu já falei que posso esperar você, mas você disse que não precisa.

— Realmente não precisa pô, você começou a assistir antes de mim e respeito que nossos ritmos são diferentes. E tá tudo bem.

Íris revirou os olhos e sorriu para ela, passando o dedão na bochecha da outra.

— Senti sua falta.

Irene sorriu em resposta.

— Também senti a sua... Bem, o que quer para o jantar?

Íris fez cara pensativa, mas sem saber a resposta.

— Tá afim de macarrão alho e óleo?

Irene sorriu e colocou sua bolsa do lado da porta, pegando Íris pela cintura, o que a fez rir e erguer as sobrancelhas de surpresa.

— Tava mais pensando em você, mas o macarrão vai servir.

Íris riu e deu um tapinha em seu ombro.

— Que menina indecente.

Ela envolveu o pescoço de Irene e aproximou os lábios dos dela, não demorando a aprofundar e a passar a usar a língua, que era correspondida de bom grado por Irene. Quando se separaram, Íris foi em direção ao balcão da cozinha e disse.

— Sabia que na Europa e outros países por aí, eles só dão beijo técnico?

Irene ergueu a sobrancelha esquerda enquanto pegava sua bolsa e a levava em direção ao quarto.

— Como assim?

Disse um pouco mais alto enquanto guardava seus equipamentos no armário e forma organizada (apenas para si mesma) e voltava para onde Íris estava.

— Eles não dão beijo de língua, apenas quando vão fazer sexo. É estranho.

— Oxi, mas então como que eles se beijam?

— Eu prefiro não saber.

Elas riram e Irene se aproximou para ajudar no preparo do macarrão... E aproveitar para dar um tapinha na bunda de Íris, que reclamou como sempre fazia. Manhosa, mas ainda assim uma reclamação.

Depois de pronto, elas se sentaram à mesa e comeram enquanto contavam sobre seus dias. Depois assistiram Duna até pegarem no sono, o que não demorou para acontecer com Íris. Irene riu, mas acariciou sua cabeça. O celular vibrou e ela pausou o filme, dando apenas uma checada para saber se era mensagem ou uma notificação qualquer. Assim que viu ser uma mensagem, desbloqueou a tela e abriu a mesma, vinda de um número desconhecido.

"Me encontre amanhã antes do trabalho, no ponto de ônibus. Precisamos conversar"

Ela bufou e bloqueou a tela. Já imaginava de quem era, mas como sempre, não tinha coragem de bloquear o número.

— Que seja, então. Se for para ela me deixar em paz... — pensou alto.

Depois acordou Íris e ambas foram para a cama. Amanhã lidaria com isso.

Uma Mesa Para Duas • ⚢ •Onde histórias criam vida. Descubra agora