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Íris queria implorar para que ela não a deixasse, mas se deteve. Tinha feito uma promessa a si mesma e iria cumprir. Irene a envolveu em seus braços até que o choro diminuísse, então pegou o guardanapo e secou cuidadosamente as lágrimas restantes para borrar o mínimo possível do rímel. Ela foi tão delicada e calma que Íris quase nem conseguia reconhecer a Irene impulsiva e facilmente irritável. Poderia jurar ser outra pessoa se não a conhecesse bem, mas sabia que era ela. Uma parte dela que ela só mostrava quando era necessário, mas ainda assim era ela. Quando terminou, Irene respirou fundo. 

— Você está certa. Não foram poucas às vezes que me magoou e por mais brava que eu fique, eu sei que também tem a ver com a forma que você cresceu. Eu sempre tive o hábito de dizer que as pessoas nunca mudam, por mais que passem anos, décadas até, sempre seremos quem somos. Mas ainda acredito que podemos melhorar, não mudar, apenas... encontrar o melhor de nós dentro de quem nós já somos. Ainda acredito que nós não mudamos, apenas nos aprimoramos, e você tem tanto potencial Íris, você é uma pessoa incrível, doce, gentil, humilde, sempre se preocupa com todo mundo... mas, como qualquer outro ser humano, você também tem suas falhas, assim como eu. Então não se culpe tanto e eu agradeço as desculpas. — Irene ficou em silêncio por algum tempo, até que voltou ao seu lugar original e, depois de se ajeitar, continuou a falar — Mas eu realmente preciso de um tempo para pensar. Eu te amo, sei que você sabe disso, e eu não quero desistir do que temos. Desde o início, eu sempre penso no que é bom para "nós", mas acho que chegou a hora de pensar um pouco no "eu" e sugiro que você faça o mesmo. Faça sua terapia, saia, se divirta para variar. Quando finalmente estivermos bem com quem nós somos, podemos voltar a estarmos juntas.

Íris precisou de um tempo para entender e digerir as palavras.

— Então, isso é...

— Isso não é um adeus. Você sempre pode me ligar e sempre pode contar comigo para qualquer coisa, igual você sempre pôde. O que eu quero é que nós tenhamos nosso tempo de amadurecer, de nos conhecer como pessoas, antes de querer se envolver com alguém. Eu quero isso. E pelo que você me disse, você também quer. Podemos até ter um relacionamento aberto, se você realmente não quiser terminar, mas eu não quero.

— Não quer continuar nossa relação? — Íris disse, quase voltando a chorar.

— Não quero ter uma relação aberta. Eu gosto de você exclusivamente para mim. Não suportaria te ver comigo e com outra pessoa ao mesmo tempo...

— Eu não quero uma relação aberta, quero você e só você — Íris apressou tanto as palavras que quase que as embolou, o que tirou uma risada suave dos lábios de Irene.

— Então, vamos ter algum tempo para nós e quando estivermos bem, voltamos. Tudo bem pra você?  

Íris pensou por um tempo, limpando mais uma vez o nariz.

— Bem não está, mas concordo. 

Irene estendeu a mão sobre a mesa com um sorriso sem mostrar os dentes no rosto oval, arrancando um sorriso de Íris, que também estendeu a mão e apertou a dela. 
Não demorou para seus pratos chegarem e elas comerem observando o pôr-do-sol. 

...

Íris chegou em casa com os pés latejando e levemente mal por não estar de volta com Irene, mas aliviada de ela não a odiar completamente. Não demorou muito até o pessoal mandar mensagem perguntando como tinha ido o encontro.

Irene chegou no apartamento igualmente cansada, mas não teve vontade nenhuma de responder às mensagens, então apenas ligou a TV e ficou navegando pelos canais até achar um filme de ação que ela já havia assistido muito mais de 5 vezes. Filmes de ação sempre desencadeava uma emoção única em Irene, uma emoção quase sádica de puro prazer em ver os tiros, explosões e matanças. Ainda bem que era só com filmes...

Enfim, no final do dia, acabou que tudo estava encaminhado para uma possível volta delas. Mas nenhuma delas tinha certeza se estavam fazendo a coisa certa, afinal elas eram novas e tinha o mundo todo para experienciar ainda, como poderiam saber? O jeito é confiar.


Uma Mesa Para Duas • ⚢ •Onde histórias criam vida. Descubra agora