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Passaram-se quase duas semanas até que Irene finalmente aceitou conversar com Íris, ao que ela quase teve um surto, já que estava quase desistindo e achando que nunca mais conseguiria o perdão de Irene. Íris então mandou o endereço e pediu que elas se encontrassem naquele lugar às 16:30h, e logo de manhã aproveitou que estava de folga para ir até o local e entregou um papel rasgado de seu sketchbook escrito "Uma mesa para duas" e atrás escrito os seus nomes, ao que a moça a levou para ver as mesas do deck descoberto. Haviam lhe contado que se ela entregasse um papel com um pedido de mesa, eles davam um "tratamento VIP", mas Íris ainda não entendia o porquê. Ela só entenderia mais tarde naquele dia. 
Ela escolheu a mesa com melhor vista, virada para oeste, onde daria para ver o pôr do sol. Iria ser perfeito, ela conseguia sentir.

...

Enquanto isso, Irene começava a fotografar a modelo em sua frente. Ela terminara o book daquele casal da viagem na semana anterior e mandara para eles, que ficaram extremamente felizes e a convidaram para o casamento, mas ela não deu certeza de ir. Nyx e Maitê estariam lá obviamente e queriam muito que ela levasse Íris, mas Irene ainda não havia perdoado ela completamente e esse encontro seria o ponto perfeito para decidir se perdoaria ou não. Tudo dependia do que acontecesse naquele dia às quatro e meia da tarde.   

Quando o relógio bateu três horas, ambas foram se arrumar. Tomaram banho, vestiram roupas bonitas, passaram perfume e Íris passou maquiagem, enquanto Irene passou só um delineador e rímel. Ela curtia muito mais sua beleza natural. Calçaram seus sapatos e cada uma saiu de suas respectivas casas. A expectativa estava tão grande e tão implantada no estômago de Íris que ela estava quase surtando de tanta agonia, o que para Irene não estava lá tão diferente, apesar de ela tentar disfarçar. Não demorou muito tempo para elas chegarem no local e se avistarem. Íris já estava no balcão de recepção e Irene a admirou por uns segundos antes de terminar de se aproximar, e sinceramente... QUE MULHERÃO DA PORRA! Ela vestia um vestido relativamente curto com uma fenda que se abria na perna esquerda e com um decote bem modesto, nada muito chamativo. Era de um azul capri tão bonito e deixava sua pele escura tão linda que Irene instantaneamente teve vontade de tocá-la, mas se segurou, repetindo a si mesma que estava magoada e deveria agir como tal. Notou também que Íris havia voltado com o cabelo castanho-escuro e ele estava tão brilhoso e com um volume incrível nos cachos bem definidos que Irene quase se esqueceu que estava magoada. Quase. 

E então a distância havia terminado e Íris havia notado sua presença, deixando um resquício de decepção em Irene por não poder admirá-la de longe mais um pouco. Íris sorriu para ela, mostrando seus dentinhos brancos e levemente tortinhos e fofos que ela se recusava a consertar, ao que Irene não resistiu e sorriu de leve em retorno, já que não queria demonstrar que já estava a um grão de arroz de perdoá-la. Então a balconista as guiou até o local, enquanto Irene surtava em sua mente: "Meu Deus, como eu posso ser gay a esse nível? É até difícil definir se eu sou gay porque sou trouxa ou se sou trouxa porque sou gay... Provavelmente a segunda opção... Não gostei dessa opção, quero reembolso, cérebro!", discutiu ela mentalmente até ouvir a voz de um anjo... digo, a voz de Íris a chamando e dizendo para se sentar. Ela se sentou, ainda meio aérea, por conta dos pensamentos confusos. Íris fez o pedido e assim que o garçom saiu, ela parou de olhar para a paisagem e olhou para Irene fixamente, o sorriso dando lugar a uma expressão séria. É, havia chegado o momento de ter "a tão esperada conversa". Íris então cruzou as mãos e lambeu os lábios, nervosa, antes de interromper o silêncio levemente desconfortável.

— Então... Eu sei que você está chateada comigo. Não tiro a sua razão, você tem literalmente todos os motivos para isso, já que eu fui... perdão a boca suja... uma filha da puta com você. Não é a primeira vez que te magoo e acredite ou não eu tento mudar sabe, mas eu sempre me sinto presa e bom... isso não tem a ver com você... mas enfim, eu quero pedir desculpas, por todas as vezes que eu te magoei e falhei com você. Mesmo que você talvez não me queira mais ou não me perdoe, a decisão no final é sua.

Irene sentiu seu coração ir para o chão. Soava demais como uma despedida para ela... Íris estava terminando em definitivo com ela?
Ela engoliu em seco e seu olhar ficou preso em Íris, quase sem piscar.

— Isso é uma despedida Íris? Você não me quer mais? Não me ama mais?... Ou nunca me amou? É isso então-

— Tá brincando Irene? Você foi a coisa mais importante que aconteceu comigo desde...Desde... — ela engoliu e piscou algumas vezes, tentando ao máximo não chorar — Desde que meu pai nos deixou... Eu nunca amarei alguém mais do que amo você, por mais que eu seja idiota o suficiente pra cagar com tudo. Eu te amo Irene, sempre vou te amar, mas não quero te machucar mais. Emy me deu a sugestão de fazer terapia e eu vou começar semana que vem. Eu vou aprender a me resolver — ela disse, enquanto limpava as lágrimas que rolavam pelas bochechas — Então, eu decidi que não vou mais te prender. Se você quiser ir embora, eu não posso culpá-la, por mais que eu queira. Você está livre para tomar sua decisão, apenas... me diga, quando decidir.

Íris não aguentou mais olhar para Irene e abaixou a cabeça, com o coração dolorido ao ponto de ela não identificar se era dor emocional ou física. Irene não derramou uma lágrima, ao invés disso pegou sua cadeira e a levou para perto de Íris, sentando bem perto de seu rosto e pegou um guardanapo de papel da mesa, ergueu o queixo de Íris e sorriu levemente, um sorriso melancólico que Íris nunca tinha visto naquele rosto que estava quase sempre alegre. Teve a sensação de que aquilo realmente era um adeus e não aguentou mais, a tristeza tomou conta do seu ser e mais e mais lágrimas vieram, não paravam de cair. 

"Se pelo menos ela pudesse me dar outra chance..."

Uma Mesa Para Duas • ⚢ •Onde histórias criam vida. Descubra agora