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— Irene...

— Fala amor.

Íris engoliu em seco, o nervosismo dando sinais em seu estômago.

— Você não se arrepende de ter começado a namorar ainda no ensino médio?

— Não — disse, franzindo o cenho — Porquê? Você se arrepende?

— Não, claro que não... É só que, sei lá, eramos muito novas...

— Íris, você ta querendo ter esse tipo de conversa agora? 

— Por quê? Agora não é um bom momento para conversarmos? Você tem algum outro compromisso que te impeça de me ouvir, pra variar?

Irene suspirou para tentar manter a calma.

— Não começa. Eu não quero brigar com você.

— Eu também não quero brigar, só quero abrir meu coração pra você. Não posso?

Irene não respondeu por um tempo. Íris tinha o dom de ser dramática a níveis irritantes às vezes. Apenas se sentou na frente dela e disse para que ela seguisse em frente e que a ouviria. 

— Bom... Só queria dizer mesmo que acho que, agora que somos adultas, podíamos sei lá, aproveitar um pouquinho...

— O que exatamente você quer? Terminar? Dar um tempo? Abrir o relacionamento?

— Eu não sei ainda, só estava com algumas dúvidas sabe.

— Que dúvidas?

— Se eu realmente sinto todo esse amor por você.

— Como é? — disse Irene, em um tom mais agudo e mais alto, indignada.

— Ah sei lá, eu nunca namorei na vida! Você é a primeira pessoa que eu namorei. Só acho que talvez... eu ia gostar de ter novas experiências, só isso. 

Irene contou de trás para frente enquanto olhava fixamente para Íris, seu olhar penetrante.

— Eu não sou mais boa o suficiente para você? Falta algo em mim que eu não esteja sabendo?

— Não, o problema não é você...

— Sou eu? — disse Irene, cortando-a no meio da frase — Não acredito que jogou essa carta achando que fosse dar certo.

— Mas é verdade Irene. Eu quero me conhecer um pouco, mas nem tempo para mim, eu não estou tendo mais!

— Ah, só você princesinha?

Íris começou a sentir o sangue ficar quente. Por que Irene não podia simplesmente entender sua situação?

— Irene, eu não consigo mais! É minha faculdade e os trabalhos, é meu estágio, é você, é o cuidado com a casa e o jantar. Eu estou exausta!

— Do jeito que você fala parece que eu não te ajudo, que eu só fico sentada no sofá o dia todo. E tanto, desde quando eu cobro sua atenção ou qualquer outra coisa? Eu nunca te cobrei nada Íris, nada!

— Eu sei, eu nunca disse que você cobra, mas eu me cobro e sempre que você quer transar, eu fico exausta no dia seguinte e minha chefe me cobra.

— Íris, você esquece que eu também trabalho? 

— Ah, mas o seu trabalho é mais fácil, só dar cliques numa câmera. Eu tenho que literalmente desenhar casas e prédios. 

Irene fechou a cara e ficou a encarando em silêncio, até que decidiu quebrá-lo.

— Só pensa em si mesma, né, Íris. Você não pensa que eu posso estar cansada também. É sempre tudo sobre você... — ela se virou de costas e começou a andar, mas parou e virou levemente a cabeça para trás — Acho melhor darmos um tempo.

Ela se virou para frente, mas não andou, esperando a resposta de Íris. Nem estando magoada Irene conseguia ignorá-la, o que fazia uma raiva crescer em seu peito.

— Você não prefere terminar?

— Não. Eu já te disse uma vez, se terminar, eu não volto atrás e eu te amo demais para simplesmente terminar com você. Diferente de você, eu não tenho dúvidas quanto ao meu amor por você... Prefiro que a gente só dê um tempo. Mas pode se sentir livre mesmo sem o término, eu não vou ligar se você quiser ficar com outra pessoa para "tirar suas dúvidas". 

Ela mentiu tanto naquela frase que ficou com medo de seu nariz crescer até o final do quarteirão e atrapalhar algum avião que estivesse pousando no aeroporto da cidade. É lógico que ela iria ligar se alguém encostasse um dedinho sequer, de modo íntimo, em Íris, mas seu ego ferido não aceitava que ela ligasse, o que a fez falar aquilo, mesmo sabendo bem demais que era uma mentira descarada.

Íris não falou absolutamente nada, pois se falasse, começaria a chorar. Ela não queria terminar, mas não achava certo prender Irene enquanto elas estivessem longe. Ela não teria escolha. Era só por uns dias, só para recuperar as energias. 

— Vou voltar para a casa da minha mãe amanhã. — disse Íris, pouco mais alto que um sussurro. 

Irene, com sua raiva e mágoa aumentando a cada segundo, disse, com a língua afiada.

— Vá com Deus. 

Irene entrou no quarto e chutou os sapatos que estavam espalhados pelo chão, logo desabando na cama e começando a chorar, com um aperto crescendo em seu peito. Aquilo doía muito.

Íris estava abraçando seus joelhos, chorando, com um sentimento de perda apertando sua garganta e seu coração até ela sentir que poderia desmaiar a qualquer segundo, sem conseguir respirar. Ela nunca quis que tivesse acontecido tudo aquilo, mas agora já era tarde demais. 

Uma Mesa Para Duas • ⚢ •Onde histórias criam vida. Descubra agora