Uma Mesa Para Duas • ⚢ •

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Conforme a noite avançou e a bebida também, elas foram se soltando mais e não resistiram a dar uma olhadinha em seus celulares, afinal já fazia quase 4 horas diretas que elas não sabiam nem que horas era. Irene tentou calcular pela quantidade de música, mas, mesmo mais sóbria que Íris, não conseguia saber quanto tempo estavam na festa. Então abriu o bolso da jaqueta que estava em cima da mesa, pegou o celular e olhou a hora quando se sentou, toda suada, para descansar um pouco. Íris se sentou junto, cantando trechos da música de Whitney Houston "I Will Always Love You", e pegou seu celular apenas para se distrair até que viu que tinham comentado na foto que postou com Irene, então entrou na postagem e foi curtindo alguns comentários até que chegou em um comentário que fez um nó se formar em seu estômago e fez seus olhos lacrimejarem tanto que ela não conseguiu contê-las. Irene percebeu e perguntou se ela estava bem, mas ela apenas se levantou com a chave na mão e saiu em disparada para os chalés atrás do restaurante, que estava agora de frente para a festa na frente da piscina. Irene pegou o celular e olhou rápido, lendo o comentário de um perfil que não conhecia.

"Como essa gostosa pode ficar com essa filhotinha de urubu? Parece até sabonete de mecânico, coitada. Cuidado hein @eny_irene, geralmente negro se não faz merda na entrada, faz na saída. Melhor se vocês terminassem logo antes que uma linda como você se machuque com uma mulata qualquer"

Irene engoliu em seco, a raiva crescia e já era tão grande dentro do seu peito que não se aguentou e começou a gravar um story.

...

Íris estava com a cabeça deitada na cama e o resto do corpo largado no chão, desolada e cansada de tanto chorar. Mesmo quando ouviu a porta abrir e se fechar, não levantou a cabeça e só o fez quando sentiu a cama afundar um pouco e a mão de Irene acariciar seus cabelos, o que a fez levantar a cabeça e olhar para Irene, que se ajoelhou a sua frente e limpou o rímel que escorreu e manchava um pouco a parte de baixo dos olhos amendoados e da cor do âmbar de Íris.

— Está tudo bem meu amor, está tudo bem. Eu estou aqui pra você.

E só essas palavras fizeram mais lágrimas saírem dos olhos de Íris. Irene a abraçou quase que de imediato, com o coração em pedacinhos em ver sua tão amada namorada chorando por um racista que não sabe o que é respeito ao próximo... Isso em minhas palavras, nas de Irene seriam outras e que eu prefiro continuar cordial pelo bem de vocês leitores.

Íris então começou a lhe contar de todo o bullying que sofreu por ser negra.

— Sabe... Não tenho culpa de nascer como nasci... As pessoas me julgam sem ao menos me conhecer... Isso é tão injusto — disse ela, fungando e meio ofegante, sem tirar a cabeça de perto do pescoço de Irene, que apenas ouvia e passava a mão em suas costas.
Pode não parecer, mas Irene sabe quando deve apenas ouvir e não falar nada até que a pessoa se sinta bem para ouvir o que tem a dizer. E esse era um desses momentos.

Íris afastou o rosto de repente e estava com os olhos bem apertados.

— Tudo bem?

— Meu olho tá ardendo.

— É o rímel. Fica aqui que eu vou pegar o demaquilante.

Irene então se levantou e pegou um algodão em disco e o demaquilante, se sentando de novo no chão em frente à Íris, passou o algodão delicadamente pelos olhos da namorada e viu eles relaxarem um pouco.

— Você está mais calma amor?

— Sim, um pouco.

Irene sorriu suavemente, mesmo que ela não pudesse ver.

— Você é tão forte, sabia? Aguentar tudo isso não é para qualquer um e você aguentou tudo bravamente. Eu me sinto tão honrada de ter você como minha namorada.

Se seguiu uns segundos de silêncio, até Íris falar.

— Mesmo?

— Mas é claro! Eu te amo demais meu amor, você ainda não percebeu?

Íris deu uma leve risada graças ao tom de Irene e se seguiu mais uns segundos de silêncio. Irene terminou de tirar o rímel "à prova d'água" e sorriu para Íris quando ela abriu os olhos, sorrindo de volta.

— Obrigada.

— Pelo o quê?

— Por me ouvir.

— Que nada, você é minha namorada maravilhosa, é o meu dever.

Elas então se abraçaram e ficaram assim por mais uns minutos, afinal não tinham pressa para saírem dali.