27

9 2 0
                                    

Uns dias passaram e Íris continuava a refletir sobre aquilo que Irene tinha contado e sobre como se sentia realmente naquela relação. Laura perguntou se ela tinha se resolvido com Irene e ela disse que sim, ao que a colega ficou feliz em ouvir, mas fez Íris refletir: será que ela ainda queria estar naquele relacionamento? Era ótimo estar com Irene, ela era carinhosa, amorosa, uma ótima cozinheira, nunca julgava Íris, mesmo quando a própria se julgava. Mas, depois de ter pensado na possibilidade de a traição ser verdade e de ter que terminar com Irene, a ideia breve que teve de ser solteira de novo ainda a estava cutucando na mente. Cutucou mais ainda quando o representante da sala da faculdade disse aquele dia antes da aula:

— Pessoal, como eu consegui resolver com a coordenação, decidi que posso contar para vocês. Vamos fazer uma viagem logo no começo de dezembro para algum lugar que será sorteado. Quem quiser ir, terá que bancar a sua passagem e o resto vamos rachar. Alguma pergunta?

Alguns braços foram levantados, mas a mente de Íris já estava longe. Irene ia querer ir junto, sem dúvidas. Ela iria falar sobre a viagem com Irene ou não? Essa era a verdadeira questão. Não que ela não quisesse que Irene fosse, mas essas coisas só se vivem uma vez na vida...

Íris balançou a cabeça e voltou a prestar atenção na professora de Projeto que estava em sua frente e começava a aula.

Enquanto ela estava na aula, o assunto nem voltou a sua mente, porém assim que chegou em seu apartamento, ainda no elevador, o assunto voltou com tudo e Íris se sentiu culpada por cogitar não levar Irene com ela. Principalmente quando entrou e viu a trilha de velas. "Poxa, aí tu me complica, né", pensou ela. Íris realmente amava Irene, mas é complicado quando não se tem outras experiências para saber discernir o que se quer realmente. E Íris realmente não sabia o que queria naquele momento. Seu coração dizia que ela estava bem como estava, mas sua mente dizia que ela precisava experimentar coisas novas. E ela queria muito seguir seu coração e continuar no confortável relacionamento que elas tinham, isso se sua mente a deixasse em paz por pelo menos 5 minutos sem pensar em festas e experiências diferenciadas.
Elas realmente precisavam conversar. E urgentemente. Vai que colocar aquele plano para fora iria mostrar o quão irracional era e fazer ela perder a vontade, né?

Foi seguindo as velas e encontrou Irene sentada na cama com uma mesinha improvisada ao seu lado, uma garrafa de champanhe e petiscos estavam em cima aguardando sua chegada.

— Você chegou, meu amor?

Íris só conseguiu balançar a cabeça em um sim silencioso e analisar tudo. Aquela conversa seria difícil.

— Vem cá, senta. Tenho que te contar uma coisa — disse Irene, deixando Íris mais nervosa do que já estava. Mas Íris obedeceu e se sentou. O quanto pudesse adiar daquela conversa, adiaria, mesmo com sua mente lhe dando bronca. — Então, estava pensando hoje mais cedo durante o trabalho e... Lembra que dei a ideia da gente ir para o interior? — Irene estava ficando animada e Íris nervosa, já que apenas balançou a cabeça mais uma vez — Como você não deu nenhuma opinião ou ideia, tive a ideia de fazer uma viagem em amigos. Eu, você, Maitê, alguém mais que você talvez queira convidar. Seria só um final de semana mesmo, voltaríamos domingo a noite provavelmente... Ou no final da tarde. O que você acha?

Iris matutou a ideia e pensou que seria um bom momento para reencontrar seus antigos amigos, já que eles quase não se viam mais por conta das vidas atarefadas típica de jovens adultos. Então sorriu para Irene.

— Ia ser uma boa ideia, mas precisamos ver com todo mundo e logo. Quero guardar dinheiro enquanto posso, já que falta só alguns meses para terminar o estágio.

— Mas e se você for efetivada?

— Mas e se eu não for? Tenho que estar precavida.

Essa era Íris, prevenida até mais que o necessário às vezes.
Elas tomaram o champanhe e ficaram tentando planejar a viagem; onde ficariam, que Irene deu a ideia da casa na praia dos pais de Maite e que ela já as tinha convidado mais de uma vez para ir lá; quem iria, que elas pensaram em apenas quem elas tinham contato a muitos anos. E sim, Irene aceitou, a pedido de Íris, que Sebastian fosse também.

— É serio, ele tá melhor. Tá até com um namorado.

Irene levantou as sobrancelhas ao ouvir a namorada dizer isso. Por aquela ela definitivamente não esperava.

— Bom, vamos ver com eles amanhã então.

Elas brindaram e bebericaram mais um gole borbulhante, observando da janela enorme do quarto a paisagem noturna da cidade.

Uma Mesa Para Duas • ⚢ •Onde histórias criam vida. Descubra agora