"Estávamos em Global School. Era tudo ou nada agora."
O novo ano no colégio interno traz novas figurinhas para o quadro de alunos da prestigiada instituição. Mais de 200 jovens administrados por seis padrinhos e um autoritário diretor impopular...
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Desde que eu me mudei pro internato, aquela tinha sido a primeira vez que eu pisava na minha casa. A sensação foi primeiro de estranhamento e tristeza, porque fazia tempo que eu sequer lembrava como ela era e pela ocasião.
Aqueles dias que eu passei por lá tiveram tardes cinzentas e solitárias, não totalmente, já que ainda tinha a governanta simpática e alguns empregados. Refleti muito sobre mim, a brevidade da vida — e sobre o meu pai, claro. Busquei saber mais coisas sobre ele: como nasceu, como conheceu mamãe, e seus inúmeros atos em vida. Acho que demorei em fazer isso, mas quis correr atrás do prejuízo. Ele era um grande homem, disso eu me orgulho.
Recebemos as condolências da Sociedade por telefonema, cartas e visitas pessoais. Eu conheci muita gente e aprendi com naturalidade a arte de ser um bom anfitrião. Quase não usei minhas camisetas de regata ou com aquele verde forte como se fosse um traço meu. Do guarda-roupa de madeira ao estilo imperial, uma infinidade de trajes sociais aos tons de bege e marrom-claro, com camisas de abotoar brancas por baixo; cintos que definiram muito melhor a minha cintura e sapatos de bico fino. Apertei mais mãos do que no dia da Eleição do Grêmio.
Na Missa de Sétimo Dia, muitos homens e mulheres importantes enchiam a mansão, bem timidamente, com um pouco de vergonha de fazer qualquer pergunta sobre o falecido. Eles pareciam me olhar como se eu fosse um alienígena — não no sentido ruim, mas no sentido que meu jeito excêntrico cativou eles. "Então esse lindo jovem é o filho do Sr. Pindorama?" "Pobre rapaz! Tão novo para perder o pai dessa forma!" Eram alguns dos comentários que ouvi na ocasião. Todos se perguntavam o que seria do legado familiar a partir de então, já que eu era o único representante — até onde eu me lembrava.
Só sei que doeu muito saber de tudo, e ainda mais o fato de que eu nem consegui me despedir decentemente. No dia do tiroteio no Auditório, não nos encontramos. Eu só pude ver ele depois, quando foi conduzido para a Enfermaria. Cheguei já sabendo da tragédia. De todas as coisas ruins que vinham acontecendo, aquela era a pior.
Bom, a cerimônia passou até bem rápido pra minha percepção. Muitos discursos, muitas lamentações e salvas de tiros promovidas por uma mulher com traje que parecia piloto de avião. O nome dela era FAB, uma das amigas mais próximas do papai. Pude conversar também com Império Russo e Treze Colônias. Não sei o envolvimento deles. Vice-Reino do Rio da Prata estava lá, e para mim disse apenas "meus pêsames". Pensei em contar que já tinha conhecido o filho dele, mas não precisava mencionar isso. Principalmente porque acabaria chegando naquele dia horrível, que eu detesto me lembrar.
Vaticano e sua mãe apareceram por lá, com alguns guardas; assim como OTAN e os seus companheiros. A noite que se seguiu após isso foi estranha, pois poucos ficaram até a manhã seguinte, a maioria massiva partiu com o findar do funeral. E foi isso. Ah, claro, tem a leitura do testamento, mas disso eu falo depois.
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— Então ele disse "tudo bem, eu nem gosto de risoto" e eu fiquei tipo "como?". Percebe a loucura, maninho? Não é possível que estou vivo para ouvir uma atrocidade dessas.