24. Desventuras de um ianque

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Como aluno esforçado que era, eu pensava em apenas uma coisa: estudar

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Como aluno esforçado que era, eu pensava em apenas uma coisa: estudar. Vez ou outra perturbar alguma pessoa, sim, ninguém é de ferro, isn't? Pelo menos, era o que sempre disseram a mim. Que eu devia esquecer as coisas idiotas e focar no que realmente importa. Sou orgulhoso em dizer que até certo momento consegui fazer isso.

   E sempre fui especialista em disfarçar, por isso, de fato ninguém me conhecia. Mas vocês conhecem um pouco mais, certo? Partindo dessa lógica, foi surpresa das pessoas em me achar em pleno último dia de férias, às portas do semestre, desfilando na área da piscina como mais um banhista. Pelos óculos escuros eu encarava torto aquele amontoado de pobres se atracando na água. Na borda de uma das piscinas, um robusto e alto loiro balançava devagar seus pés. O corpo pálido parecia reluzir. Cutuquei seu ombro, um ato ousado. Aquele brutamontes se virou desgostoso:

   — Uh, Americano. O que você quer?

   — Nada, só passando por acaso. O que faz aí sozinho?

   — Não te devo satisfação. Agora some.

   — Oh, wait a minute, guy. Só estou curioso, não acho legal te ver assim, cabisbaixo. Aliás, já faz um tempo que não te vejo nadando por aqui. Não pegar sol te fez mal.

   O eslavo revirou os olhos e se colocou de pé, juntando os braços. Eu o imitei. Eu era um pouco mais baixo se comparado a ele, o que me obrigava a olhar inclinado para cima. Como ele era intimidador, mesmo sem proferir uma ameaça sequer! Aquele era o Rússia de sempre. Mas no fundo aquela valentia servia para esconder todo o rancor. Uma ferida ainda aberta, que permanecia doendo não importa quantos curativos fossem colocados. E de vez em quando eu resolvia meter um graveto nessa ferida. Deu um risinho, mistura de deboche com embaraço.

   — O que você quer, EUA?

   — Não quero nada. – disse, dando de ombros.

   — Eu não acredito. Você nunca fala comigo sem querer nada. Desde sempre...

Nessa última frase ele se segurou e deixou incompleto, mas eu já tinha captado a mensagem. As coisas do passado sempre voltam à tona quando estamos juntos. Seria cômico se não fosse trágico. No lugar dele eu também teria raiva de mim — o que não significa que eu me arrependa de tudo que fiz.

   — Temos mais em comum do que parece, Rússia. E você sabe disso. – minha mão deu um toque nele, enquanto eu andava para fora dali. — Coloca uma camisa e vem. Você pode pegar insolação.

   — Diz logo o que quer comigo, ianque.

   — Você quer que eu te conte mais algo de relevante? OK, então seja meu confidente em uma coisa, pode ser? Vamos voltar aos velhos tempos, parceiro. Come on!

▪▪▪

   Como eu esperava, Rússia não me perguntou nada durante boa parte do trajeto. Ele era daqueles que preferiam entender antes de palpitar; e isso era algo que ele nem gostava de fazer, por isso evitava se importar com os outros. A Bíblia diz que existe hora para tudo, e eu concordo. Vocês conhecem o EUA que importuna o eslavo como passatempo trivial, mas ainda não conheceram o EUA dosado, aquele que tem domínio da situação e sabe manter todos vassalos. Esse é o meu eu mais perigoso, podem apostar.

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