"Estávamos em Global School. Era tudo ou nada agora."
O novo ano no colégio interno traz novas figurinhas para o quadro de alunos da prestigiada instituição. Mais de 200 jovens administrados por seis padrinhos e um autoritário diretor impopular...
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Cheguei finalmente no Refeitório, e pra minha surpresa, não tinha ninguém me esperando.Que maravilha! Larguei minhas rezas pra nada! Com a esperança que alguém surgisse, eu fui até a máquina de salgadinhos e coloquei uma moeda. Caiu um saco qualquer, eu apenas peguei e sentei numa mesa próxima a porta. Literalmente, todo o resto ali se achava fechado. Só abriria dali a uma hora.
Algo estava errado. Fora o barulho da minha mastigação, não tinha nem estalo no freezer de refrigerante. Eu sei, pra alguém que vive enfurnado embaixo do térreo juntando peças de nave, essa reclamação parece sem sentido. Mas o fato era que nem os gritos dos alunos ao longe eu podia ouvir. Acho que o isolamento acústico do Refeitório é bom, eu que nunca notei (em parte porque o barulho vem de dentro dali). Passos afoitos no corredor rasgaram esse período de quietude anormal.
— تصحبكالسلامة (tashabuk alsalama). Que a segurança te acompanhe, amigo.
— Uh, Líbano? Shalom!
— Shalom, amigo, como preferir. Me desculpa por te deixar esperando.
— Sem problemas! – tinham problemas sim, mas resolvi não dar crédito a isso. Líbano se sentou na frente de mim e esticou o braço, pedindo os salgados. — Quer falar o que comigo?
— Eu queria conversar um pouco com você, só isso. Como posso dizer? Acho que nós estamos um pouco afastados, sem saber o que o outro faz e tals... parece idiota, mas eu levo a sério minhas amizades.
— Ah, não seja por isso! Na realidade eu tenho o mesmo pensamento. – dei um sorriso bobo. — Mas é normal que cada um siga nos seus grupinhos, o que mantinha a galera unida era a van. Mas sim, acho que devíamos continuar nos falando, já que estamos ambos na condição de novatos.
— Isso também, mas eu me referia mais a nós de língua semita.
— Mesmo? Tipo eu e Jordânia? Por quê?
— Bom, é... eu me sinto mais confortável com vocês. O resto dos alunos é estranho.
— Estranho em que sentido?
— Nos costumes deles. O modo de agir, de falar, de se comportar, etecetera. Eu... pra ser sincero, eu sinto em dizer que não me acostumei ainda.
— Poxa! Isso é chato mesmo! Mas me diz aí, você não se enturmou com os amigos da Jordânia?
— Sim, isso é tranquilo. – ele pediu mais salgados. — A questão não é essa. É mais a escola. Eu não sei se gosto muito daqui. É tão afastado de todo mundo, só tem floresta e mais floresta, depois uma cadeia enorme de montanhas... acaba me enjoando. Eu tenho vontade de ver a Praia das Nações, mas os professores dizem que é perigoso ir lá.
— Compreendo, então está dizendo que o seu maior problema no internato é o internato em si?
— Sim. Quer dizer, por exemplo o Grêmio. Eu nem sei porque entrei nele, não gosto do pessoal lá. Eles são esquisitos. Eu... também não gosto dos mestres, pelo menos da maioria. Aqueles exercícios me cansam, as contas são intermináveis, as práticas de laboratório me deixam com ansiedade e a comida muitas vezes é cansativamente repetida. Isso faz com que minha experiência até aqui tenha sido puro suco de limão podre.