17. Bons ares na Terra de Santa Cruz

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Eu, definitivamente, iria para o tártaro de tobogã — era o que acontece com quem ri do infortúnio alheio

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Eu, definitivamente, iria para o tártaro de tobogã — era o que acontece com quem ri do infortúnio alheio. Itália tinha acabado de ser expulsa do grupo de dança. E sabe quem a expulsou? Ela mesma.

   — Por que vocês não me consultaram antes de tomar essa decisão? – ela estava com duas muletas, provavelmente as mesmas que eu usei um tempo atrás, quando levei o tiro, pois precisei devolvê-las. — Quando eu disse que era para tomarem as rédeas durante a minha ausência, não foi isso que quis dizer!

   — Nossa, calma, colega. – pediu Bulgária, o Europeu de cabelos meio acinzentados e pele caucasiana, e um dos líderes do grupo. — Nós não te substituímos, apenas preenchemos a lacuna nos ensaios. Não quer dizer que você não vai voltar aos treinos.

   — É mesmo? Então vocês não tem problemas de expulsar ela? – apontou para Armênia, ao lado dele. Pelo visto ela já esperava ser envolvida na conversa, mas temia a reação da pulguinha, já que estava tremendo de medo dela. — Meu bem, você jurava mesmo que iria ficar para sempre no grupo? Isso aqui não é para amadores.

   — Itália, espera um pouco, não é por aí também. – o cara abaixou o indicador dela do rosto da garota. — Eu pensei assim: porque não deixamos ela conosco, mas ainda mantendo você? Ela seria muito útil durante as performances e seria uma boa adição a ser apresentada ao público, principalmente durante o Festival das Flores.

   — No no e non. Voglio l'Armenia fuori! Sem ela fora, nada feito! E tenho dito!

   — Mas o que você tem contra ela, Itália? – indagou Madagascar. Itália olhou Armênia de cima a baixo, como que a julgando por todos os seus pecados. A garota tinha um olhar de injustiçada e perdida ao mesmo tempo.

   — Só não vejo necessário mais uma pessoa! Temos tudo calculado, aqui no Salão de Ensaios e lá no Anfiteatro, os espaços que cada um vai ficar! Vocês querem arranjar mais esse pepino aos 45 do segundo tempo? Ou melhor, no último segundo da prorrogação?

   Brasil estava logo atrás dela, porém bem hesitante em dizer qualquer coisa, talvez com medo que a namorada o desse uma reprimenda. Nunca disse isso, mas era bem feito para ele. O cara era tão pau mandado que as vezes nem falava comigo e ficava de grude com a quenga. Mas ver a vitimização da piolhenta me fez querer rir tanto, que para disfarçar dei as costas e pus o punho entre os lábios. Duas das garotas do grupo, Geórgia e Burkina Faso, se aproximaram de mim:

   — Você tá achando legal isso?

   — Ah, sei lá, tanto faz como tanto fez. Eu não gosto muito dela, mas não é como se lançasse praga pra ela se dar mal. Com aquele número do Refeitório aquele dia, nem preciso.

   — Você também não gosta dela? – a segunda se aproximou mais que a primeira. — Cara, te entendemos perfeitamente. Não suportamos a voz dela. É uma mandona sem eira nem beira, acha que tudo tem que se adequar às suas vontades.

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