28. O passeio imperial

165 6 132
                                    

   Já era o quinto dia que estávamos dentro daquele grande barco, cheio de andares e salões e quartos milimetricamente reservados para o número de pessoas presentes, e eu tinha tomado por costume me debruçar no parapeito da ponta traseira, uma vir...

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

   Já era o quinto dia que estávamos dentro daquele grande barco, cheio de andares e salões e quartos milimetricamente reservados para o número de pessoas presentes, e eu tinha tomado por costume me debruçar no parapeito da ponta traseira, uma virada de corredor que as pessoas não gostavam de usar, já na superfície. Ali eu observava a ininterrupta dança das ondas marítimas, que se perdiam na imensidão do horizonte e se confundiam com as cores do céu. Ver o pôr do Sol refletindo nas águas era um fenômeno de muito agrado para mim. Naquele momento em questão, era o horário mais quente e ensolarado, dois minutos após meio-dia. Eu estava acompanhado de Polônia, e estávamos refletindo sobre coisas parecidas e que nos conectaram ainda mais.

   Estávamos progredindo muito em comparação com antes daquele dia na Enfermaria, e já podia chamá-la de amiga novamente. Pode parecer trivial me preocupar com isso, mas eu me perguntei o porquê dela ter dado a pulseira de volta. Não ousei perguntar, e fora isso sempre havia uma pauta para colocarmos na mesa. As conversas eram proveitosas em todos os sentidos, tanto na nossa relação pessoal como com o Grêmio Estudantil. No fundo, no fundo, sem que ninguém soubesse, eu me sentia melhor em estar contando com eles. Isso são consequências da minha longeva solidão. Ainda assim, eu sabia que não estávamos a salvo. E exilados ali, no meio do Mar, com o que tinha sobrado do diretor ONU — digo isso porque ele ficou igual a um lutador de boxe que perdeu vergonhosamente um torneio, com feridas em todas as partes — a certeza disso era mais acentuada. Ele selecionou alguns soldados para nos supervisionarem durante o passeio. Mas qual método ele aplicou? Certamente esses indivíduos são aqueles ludibriados a lhe prestar serviços. Tendo isso em mente, eu comecei a observá-los melhor, cautelosamente me esticando para ler seus números nas plaquetas de roupa ou escutar outra pessoa os chamando.

   — São mais ou menos uns setenta patrulheiros. – eu repentinamente observei, de modo que Polônia se surpreendeu. — Mas eu desconfio que não seja apenas isso. De qualquer forma, tenho o número de trinta e cinco deles anotados. Você deve se perguntar porque eu estou decorando isso. Eu pretendo passar essa informação para OTAN, da mesma forma que foi feito com a fita.

   — Não vai levantar suspeitas se Bélgica ficar indo na Patrulha tão constantemente?

   — Antes ele já fazia isso, pelo que disse o Holanda. Então não. Porém, levando em conta que o diretor sabe que ele também é do Grêmio, a sentinela em cima do belga pode ser reforçada. O que você acha?

   — Que você está se arriscando muito. – ela turvou as sobrancelhas e levou o punho aos lábios. — Mas eu sei que não tem outra forma. De qualquer jeito, cutucar o diretor dessa forma e seus correligionários e vassalos não é pior que ter espancado ele, roubado os documentos e incendiado a SDD.

   — Sendo assim, você já sabe que eu não vou parar. – eu sorri, malicioso, imaginando todas as possibilidades de ações para enfurecer ainda mais ONU. O maldito precisava sofrer na pele tudo o que nos fez passar. Porém, eu ainda não sabia se ele estava mesmo desmemoriado. Não se pode confiar numa serpente sem que o encantador esteja por perto...

Global SchoolOnde histórias criam vida. Descubra agora