Quando o táxi parou à frente do apartamento do Luke em Edimburgo, senti como um peso se carregava nas minhas costas. Como apertava e forçava em busca da sua própria agonia. Fechei os olhos e respirei fundo, convencendo-me de que tudo estava completamente bem. Paguei ao taxista e suspirei antes de sair do carro para me deixar cair nas frias brisas escocesas. Não tinha fugido apenas dos trigémeos, mas também tinha fugido do país. Como uma covarde.
O ar embateu-me e só fui capaz de caminhar com o olhar fixo no chão. Um, dois; um, dois. Os meus passos seguiam um ritmo compassado mas sem serem ditados para o cumprir. Um simples ato impulsivo. Tirei a minha mala e o remorso apoderou-se da minha consciência. Um sentimento breve e passageiro tomou poder dos meus atos recordando o rapaz de cabelo encaracolado e óculos. Talvez o que fiz ao Marcel não tivesse de todo bem; talvez deixá-lo não tivesse sido a decisão correta. Mas, no que se tinha passado, nenhum dos dois se tinha comportado da maneira correta, mesmo que isso não fosse algo que justificasse os meus atos.
Tinha que deixar de pensar no assunto. Durante todo o trajeto tinha tentado convencer-me a mim mesma de que virar a página era a opção correta, mas não conseguia. As coisas não eram assim tão simples quanto pareciam, nunca eram. Fechava os olhos e sentia os beijos do Harry nos meus lábios, por isso decidi não fechar os olhos.
Apesar de ter passado horas no táxi, o taxista não se tinha queixado por ter de atravessar o país devido à grande quantidade de dinheiro que lhe tinha oferecido. Esse senhor não teria de trabalhar durante pelo menos uma semana, já que aproveitaria o tempo para estar com as suas duas adoradas filhas e a sua encantadora esposa, das quais tinha falado durante todo o trajeto. A sua filha maior, Anne, tinha nove anos e muitos sonhos sobre patinagem artística na mente. Enquanto a pequena, Megan, de cinco anos, brincava com os seus amigos imaginários e falava do seu "namorado"; o pequeno Harry. Odiei esse detalhe, já que quando menos queria ouvir o seu nome era quando mais tinha que o fazer. O menino era ruivo, com sardas e olhos azuis.
Apertei o meu casaco e depois caminhei arrastando a minha mala preta pelo pequeno passeio que ia parar ao bloco de apartamentos do meu primo. Ele sempre tinha querido um apartamento pequeno no alto dum edifício escocês. Nunca entendi a razão do porquê ele querer que fosse escocês, mas ao fim e ao cabo estava orgulhosa de que o tivesse conseguido.
Toquei à campainha e esperei que o aparelho deixasse escapar a voz do meu primo. Depois de um "olá" e um cumprimento pela minha parte, a porta da entrada abriu-se. Entrei no edifício e caminhei até aos elevadores. Os minutos pareciam tornar-se mais duradouros com cada um que passava. Pareciam levar uma carga em cima da qual não me conseguia libertar. Não queria chorar. Não tinha chorado durante todo o trajeto, mas não conseguia esconder a minha personalidade chorona que me tinha acompanhado estes últimos meses. Era um absoluto desastre.
Entrei no elevador e de seguida deixei que o meu corpo se apoiasse na parede metálica da caixa elevadora. Observei o meu rosto refletido no espelho à minha frente. Os meus dedos enrolaram-se numa madeixa castanha e ondulada, que deste ponto de vista parecia ter perdido o seu brilho. Elevei o olhar ao teto e fechei os olhos enquanto esperava que parasse no alto do edifício. Quando o fez, o rosto do meu primo esperava-me do outro lado das portas automáticas. Dedicou-me um sorriso antes de eu lhe dedicar outro com uma careta.
-Como está a melhor prima do mundo? - perguntou com alegria dando-me um abraço.
-Terrivelmente mal. - suspirei respondendo ao abraço.
-O que se passou?
Inspirei e separei-me dele fixando o meu olhar no seu.
-Vamos entrar e depois explico-te. - o meu olhar foi direto para o chão quando pronunciei essas palavras.
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Os Trigémeos Styles 4: Dreams (tradução)
FanfictionQuarto livro da coleção "Os Trigémeos Styles". 4/5