Harry
Se o destino queria acabar comigo, podia ter a certeza que já o tinha feito. Aliás, todos os meus pensamentos se dirigiam ao mesmo ponto em que o meu coração se partia e as minhas esperanças também. Quem é que me ensinou a ser tão iludido? Quem é que me disse que conseguiria tudo? Quem é que acreditou que conseguiria manter alguém ao meu lado e conseguir que não se fosse embora para gostar de mim acima dos outros? Quem? Porque queria ver esse alguém a sofrer a dor que eu estava a sentir neste momento. Tinha sido eu. Eu tinha-me convencido de não perder a esperança, para quê? Para acabar pior que antes? Para sentir o que é amar e que te partam o coração por um simples erro? Que a pessoa que amas se vá embora com uma das pessoas que te deveria apoiar e não tirar-te o que conseguiste?
Tudo era uma merda, mas de certa maneira tudo parecia querer dizer-me que não era tão parvo como pensava. Ninguém me preferia quando eu era pequeno e eu depois transformei-me em alguém que conseguia a atenção dos outros sendo um idiota e, quando voltei a ser eu mesmo, voltaram a deixar-me como se nunca tivesse importado nada.
Mas ela amava-me. Eu sabia que me amava já que era impossível deixar de amar em tão pouco tempo. O Edward era só uma maneira de superar o que algum dia tivemos. O que algum dia tínhamos vivido e acreditado. Ou pelo menos era isso que eu pensava.
Atirei-me para a cama e deixei o meu olhar perdido no teto branco do quarto. Ela tinha razão: a culpa era minha. Eu tinha optado por fazer as coisas à minha maneira sem consultá-la ou perguntar antes. Ambas as vezes. Como pretendia fazer com que uma relação funcionasse assim? Como consegui acreditar que ela não se queixaria das minhas constantes decisões destrutoras? Deveria ter-lhe dito, eu sabia.
Quando me amam, abandonam-me.
Essa era a frase que parecia ter-se gravado nalgum ponto da minha memória há algum tempo para voltar a sair e torturar-me. Mas a culpa era minha.
Suspirei.
A única maneira de me tranquilizar estava centrada na guitarra que descansava num canto do meu quarto.
Deixei que os momentos se repetissem. Deixei que os meus olhos recordassem como foi a primeira vez que a vi e como foi a última. Apertei as minhas pálpebras tentando não derramar nenhuma lágrima. Os beijos, os abraços, os "amo-te"... O que lhes aconteceria?
Bella
Voltar a vê-lo tinha sido muitíssimo mais devastador do que tinha pensado. E ainda mais doloroso tinha sido ver como as lágrimas ameaçavam sair enquanto tudo sabia a aguardente nos meus lábios.
Por um momento desejei com todas as minhas forças que tudo aquilo fosse um horrível sonho e que eu voltasse a encontrar-me abraçada ao Harry enquanto tudo parecia que seria para sempre e todas as minhas palavras para ele eram "Nunca te deixarei".
Tinha-o deixado, mas era o melhor para ambos. Talvez ele não entendesse, mas eu sim. Não podíamos continuar a magoar-nos. O seu carácter impulsivo e fechado afastava-me de todas as suas decisões e escondia coisas que podia solucionar com uma só frase bem dita. Não podia estar com uma pessoa assim. Não podia ter uma relação com alguém que não confiava o suficiente em mim para me falar sobre coisas importantes e livrar-se delas à base de mentiras. Aquilo era doentio.
-Ei. - disse o Edward aproximando-se de mim com uma chávena na mão. Afastei as madeixas que tinham saído desordenadas do puxo já que se tinham molhado com as lágrimas parvas que tinham invadido o meu rosto.
Não podia pretender que quando o visse tudo correria bem, mas convenci-me de que o faria mesmo que a hora da verdade fosse tudo o contrário.
As minhas muralhas destruíram-se, as minhas forças foram substituídas por tentativas de firmeza na minha voz enquanto me convencia de que ia poder resistir-lhe. Mas não era assim tão fácil deixar ir alguém que amas. Eu tentava deixá-lo para trás com o Edward e sabia muito bem que era muito cedo para aquilo e que não ia esquecer com tanta facilidade o meu primeiro amor, mas podia tentar fazê-lo.
-Fiz-te chocolate quente. - disse sentando-se na cama comigo. - Sei que gostas.
-Obrigada. - sorri vagamente agarrando na chávena.
Não disse nada. Deitou-se na cama e eu dei um pequeno gole ao chocolate aproximando a chávena quente aos lábios.
-Desculpa. - sussurrei fechando os olhos antes de dar outro gole. Lamentava que ele tivesse de aguentar os meus choros por outro rapaz.
-Não te desculpes. - respondeu. - Não faz mal.
Virei-me para olhar para ele.
-Porque é que és tão bom para mim? - perguntei com um tom triste e os lábios prontos para outro gole de chocolate.
-A sério que me estás a perguntar isso, parva?
Sorri quando me piscou um olho com ternura.
-Sim.
-Então queres saber a resposta? - perguntou incorporando-se.
-Sim.
-Porque estou apaixonado por ti. - sussurrou no meu ouvido depois de me abraçar por trás, posicionando as suas pernas a cada lado do meu corpo e fechando-me entre os seus braços e torso.
Dei outro gole ao chocolate sem saber o que responder. Não ia mentir nisto. Eu não era do tipo de pessoa que falava dum amor que não tinha. Mas sabia que o teria.
Acabei o meu chocolate e depois deixei a taça na mesinha de cabeceira afastando todas as recordações do Harry da minha mente. Conseguiria fazê-lo. Enquanto não o visse, tudo estaria bem.
O Edward despiu-se até ficar de boxers e eu, por minha parte, agarrei numa camisola sua completamente preta e deixei que assentasse no meu corpo. Tirei as calças e meti-me na cama sem conseguir afastar o olhar das suas tatuagens. O Edward deitou-se ao meu lado e tapou-nos a ambos antes de se aproximar de mim e entrelaçar o seu corpo com o meu. Não o impedi e rodeei o seu corpo até pousar as minhas mãos na parte superior das suas costas. O calor da sua pele uniu-se com o da minha e apoiei a minha cabeça no seu torso fechando os olhos graças à massagem que os seus dedos faziam no meu cabelo.
-Vou fazer com que te apaixones por mim. Prometo. - disse.
Sorri e deixei um beijo curto no seu peito. O rapaz estremeceu, mas isso apenas fez com que me apertasse com mais força contra o seu corpo.
-Tenho a certeza que sim. - respondi.
Beijou a minha testa.
-Eu também. - disse.
O silêncio manifestou-se pelo espaço durante uns minutos.
-A Cassie reagiu bem. - disse o rapaz.
-Foi o que me pareceu. - disse lembrando-me do sorriso e os saltinhos da menina quando o seu pai anunciou a sua relação comigo.
O silêncio voltou de novo. Não era incómodo, mas também não era cómodo, digamos que simplesmente era algo que cobria a divisão sem se especificar.
-Como superaste a Grace? - perguntei ao rapaz numa tentativa de procurar ajuda.
Os seus olhos verdes contactaram com os meus e estendeu a mão para apagar a luz.
-Apaixonando-me por ti. - respondeu beijando os meus lábios.
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Os Trigémeos Styles 4: Dreams (tradução)
FanficQuarto livro da coleção "Os Trigémeos Styles". 4/5