Capítulo 39

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-Bem. - interrompi o silêncio com as minhas palavras. Os seus olhos não se afastavam dos meus enquanto tudo em mim se perguntava o que ela pretendia com isto. - Porque é que precisas de ajuda? Tiveste negativa?

A rapariga bufou.

-Sim. - disse. - Pensava que tinha esta matéria sob controlo, mas afinal não.

-Estás em Arqueologia, não é?

-Sim.

-Tal como... - não continuei a frase, simplesmente deixei-a cair enquanto deixava que se esfumasse com a intenção de não a continuar.

- A Bella. - disse o nome por mim, desafiando as minhas recordações sobre a rapariga de quem falava, a que devia tirar da minha cabeça.

A maneira como beijava e pronunciava o meu nome. A maneira como o seu rosto sorria e olhava para mim enquanto me estendia uma barra de chocolate entre frase e frase. Fechei os olhos num suspiro. Quando conseguiria esquecê-la?

-O que é que ela tem? - o meu olhar fixou-se no seu rosto quando falou. - O que é que ela tem que te faz ser tão impossível para mim?

-Stacy... - comecei a dizer sem saber muito bem o que responder àquilo. O que tinha? Realmente não sabia. A Bella não era a rapariga perfeita e achava a Stacy muito mais sexy que ela, mas sem dúvida que a Bella tinha um encanto especial que apenas olhando para ti te apaixonava. Como? Não fazia ideia. - Não sei. Simplesmente sendo ela.

O seu rosto escureceu-se quando a intensidade do seu olhar se tornou mais profunda e as suas pestanas se mexeram simplesmente antes de afastar o olhar com a testa franzida.

Não a queria magoar. Mas que ia fazer? O que deveria dizer?

Depois de tudo, também não sabia se podia confiar ou acreditar nela. O seu amor era tão repentino e rápido; tão irreal.

-Então... - apanhou ar com lentidão, enchendo os seus pulmões para depois deixar que o seu olhar mostrasse a sua suposta dor interior. - Faça eu o que fizer, sempre vais gostar dela? Eu não consigo ser ela.

Franzi a testa.

-Não quero que sejas ela. - as palavras rasparam na minha garganta.

-Quero ser o que tu gostares. - respondeu de novo afastando o olhar como se estivesse a enfrentar o fogo.

Neguei com a cabeça, negando-me às suas palavras apesar do cativantes que pareciam.

-Tens de ser tu mesma, e assim as pessoas vão gostar de ti.

O seu corpo todo mexeu-se até mim e o livro caiu ao chão num abrir e fechar de olhos.

-Mas quero que tu gostes de mim, não entendes? - fechou os olhos para apanhar ar. - Mas parece que cada tentativa me empurra mais para trás. Nem sequer acreditas em mim.

Afastei o meu olhar do dela.

-Desculpa.

-Não te desculpes. A culpa não é tua. - disse. - É minha por acreditar que ao oferecer sexo alguém me chegaria a amar. Mas não. E agora que me apaixono essa pessoa não consegue acreditar em mim. Mas não posso fazer com que tu acredites em mim se não o queres fazer.

Não respondi, mas ela levantou-se quando os seus braços abraçaram o seu corpo. A divisão pareceu transformar-se em nada, no absoluto silêncio de uma rapariga com um coração aparentemente partido e um rapaz que não tinha nada para oferecer nem arranjar.

Que devia fazer?

-Eu não disse que não queria acreditar em ti.

-Então fá-lo. - disse sem olhar para mim, os seus olhos fixos no chão, os meus também.

O que me pedia era demasiado simples para ser fácil.

-Posso tentar. - as minhas palavras não soaram de todo convincentes, mas pelo menos tinha tentado, ainda sem saber muito bem a onde se dirigiam nem a que ponto queriam chegar. Simplesmente deixei-as ir.

Levantei-me. A rapariga elevou o olhar e deu um passo até mim. Mordeu o seu lábio inferior.

-Vou beijar-te.- disse dando outro passo até mim. As minhas pernas não se quiseram mexer. Nem a minha vontade.

A sua voz era doce e eu era como um boneco, caía nas mãos de tudo aquilo que me quisesse. Um boneco parvo que acabava sempre partido.

Os seus braços apoiaram-se nos meus ombros nus e os seus lábios acariciaram os meus com suavidade, deixando que os segundos andassem mais lentamente antes de que a rapariga decidisse atacar com a sua língua duma maneira mais selvagem, mas não menos doce. Não sabia que ela conseguia beijar assim.

Não sei se seria de todo correto, mas pelo menos sentia-se bem.

Não sabia o que se estava a passar, mas as minhas mãos agarraram a sua cintura e a minha língua continuou o seu jogo sem sequer ser obrigada a isso.

Os seus lábios separaram-se dos meus quando o ar começou a ser algo vital, mas não deixámos que o tempo detivesse o momento. Desta vez fui eu quem beijou os seus lábios, durante longos minutos sem fazer mais nada.

-Marcy... - sussurrou nos meus lábios.

-Diz. - sussurrei de volta. O seu hálito a morango acariciou a minha boca.

-Não vou ser tão fácil como sou com todos. Quero demonstrar-te isto. - apertei-a contra mim, ainda sem saber porquê, mas de seguida separei-me dela da mesma maneira que um menino se esconderia ao partir o vaso preferido da sua mãe.

Assenti antes de que ela agarrasse no seu livro sem deixar de olhar para mim. O nervosismo não se mostrou nos seus atos.

-Vem quando precisares de ajuda. - propus.

Ela assentiu.

-Obrigada, Marcel. - sorriu antes de dar meia volta em direção à porta. Não a acompanhei, estava demasiado ocupado a tentar controlar e organizar os meus pensamentos confusos.

Foi-se embora e então voltei a perguntar-me: O que é que se estava a passar? 

Os Trigémeos Styles 4: Dreams (tradução)Onde histórias criam vida. Descubra agora