Capítulo 36

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Marcel

A minha mãe estava a tomar o pequeno almoço à minha frente enquanto eu fazia o mesmo. Comecei a deixar que a colher remexesse o meu café estupidamente enquanto a minha mente rondava sobre si mesma. Pensei que a minha mãe fosse dizer alguma coisa sobre a nossa discussão noturna de irmãos, mas não disse absolutamente nada. Ela às vezes fazia isto, calava-se e esperava que nós falássemos ou simplesmente catalogava o assunto como problemas de irmãos sem lhe dar muita importância. Mesmo que desta vez tivesse.

Lembrava-me daquela vez em que o Edward e o Harry discutiram, coisa que desde sempre foi algo comum. O Edward decidiu vingar-se do Harry pondo pimenta nos seus boxers, por isso entrou no seu quarto com pimenta e deixou-a cair por toda a gaveta enquanto eu vigiava se o nosso irmão vinha. Coisa que fiz por chantagem do Edward. O Harry apanhou-nos no seu quarto mas pensou que simplesmente lhe estávamos a roubar alguma coisa. Nos seguintes dias o Harry começou a ter uma comichão extrema nas partes íntimas e tivemos de ir ao hospital. Foi engraçado, até que o médico informou a minha mãe de que aquilo tinha sido causado por pimenta e o nosso castigo foi o pior. Os dois meses seguintes passámos a lavar a roupa interior do Harry à mão.

Quando acabei de tomar o pequeno almoço, subi para o meu quarto com a intenção de ligar à minha irmã. Ela ainda não queria falar da sua situação e ligar-lhe apenas tinha feito com que as suas palavras fossem mais escassas e que, com isso, as minhas perguntas aumentassem.

Desliguei a chamada e dispus-me a estudar um pouco mesmo que, por primeira vez, não tivesse vontade de o fazer. Estava exausto, os meus nervos pareciam ter-se transformado em algo nulo e sentia como a força se tivesse desprendido de mim. Aquele não estava a ser o meu melhor dia.

O meu telemóvel tocou pouco tempo depois e, sem muita vontade de o fazer, atendi sem razão aparente ao ver o número desconhecido no ecrã.

-Sim?

-Marcel? - a voz da Grace ouviu-se do outro lado e não entendi onde tinha conseguido o meu número.

Desde que nos encontrámos na rua que não tinha deixado de me perseguir para qualquer lugar que fosse, parecia que a sua vida tinha como único objetivo perseguir-me e rogar-me coisas sem sentido sobre o Edward.

-Deixa-me em paz, Grace. - falei em voz baixa tendo cuidado para que a minha mãe não ouvisse o nome da rapariga. Se isso acontecesse, podia entrar num grande problema.

Quando a Grace deixou o Edward, a minha mãe deixou de sorrir cada vez que o seu nome era mencionado. Todos fizemos o mesmo enquanto ouvíamos o Edward a partir todas as suas coisas. Ela ficaria chateada comigo por falar com a Grace e, no pior dos casos, voltaria a cair na tristeza da lembrança daqueles anos complicados. Uma vez ouvi-a a falar com o meu pai, perguntando-lhe o que era que tinha feito mal, já que se culpava pela situação do Edward.

Quando a Grace entrou nas nossas vidas todos a adorávamos. Era boa rapariga, humilde, atenciosa, amável. Ajudava a nossa mãe com os deveres de casa e o jantar, estudava o Edward e o Harry quando eles precisavam de ajuda. Era a namorada perfeita, até que o deixou de ser.

-Marcel, por favor, preciso que me ajudes. - suplicou.

-Já disseste. - queixei-me dando uma vista de olhos ao teto em busca de paciência. - De onde tiraste o meu número?

Ignorou a minha pergunta.

-Marcel. - a sua voz tornou-se doce. - Por favor.

-Não.

Um soluço caiu do outro lado da linha.

-Mas porquê? Marcel, sempre pensei que fosses o melhor dos irmãos, o mais amável e boa pessoa.

Os Trigémeos Styles 4: Dreams (tradução)Onde histórias criam vida. Descubra agora